sábado, 7 de novembro de 2015

Viagem nº2 - O Surpreendente Mundo do COB - 06/11/2015

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Se joga! (mais uma vez)

“João Victor nasceu! Ele Nasceu!!!” Nos avisou com entusiasmo a mais nova vovó do COB ao tentar ligar para o pai da criança.

Meu estimado Diário de Bordo, aqui estou com mais algumas histórias para compartilhar com você! Histórias essas que aconteceram no 4° Andar do HC, no COB! Um lugar onde tudo é mais intenso, onde as emoções ficam ainda mais à flor da pele. E onde temos que tomar muito cuidado, pois no mesmo ambiente em que alguém chora de extrema alegria, outro pode estar em lágrimas por uma grande tristeza.

Mas meu estimado Diário, ao lado da minha MCM, tive uma experiência inesquecível, em todos os lados transbordavam amor, no qual nos banhávamos e nos alimentávamos! Incontáveis sorrisos! Até das pessoas mais improváveis; daquelas que poderiam não ter espaço para um sorriso, mesmo que pequeno. Vê-las sorrir foi indescritível!

Ao sairmos do arsenal (local em que nos arrumamos), espreitando pela margem da porta, avistamos os primeiros olhares! Ao longe contei 3 com minha limitada visão (desfavorecida pela miopia). Esses olhares nos encaravam e sorriam! Eram muito curiosos. Mais perto, encontrei a enfermeira ao telefone. Outro sorriso de volta. Avançando pelo corredor, chegamos na Senhorita Risadinha. Uma conversa baseada apenas em risos e gargalhadas se estabeleceu entre nós três. Ela só fazia rir, não falava, e assim eu e Marieta também riamos. Aquelas risadas me energizaram muito! E acho que teve efeito similar em minha parceira de aventuras, porque ficamos mais elétricos, ativos. Até que algo inesperado acontece.

Entramos no quarto exatamente à frente da Senhorita Risadinha, e conversamos com uma senhora que estava na maca do porque ela estava ali. Era devido ao menino que tava dentro do bucho dela. Era pra lá que as gravidas iam, ela explicou! Mas ficamos curiosos com a vaga que existia na maca ao lado, e perguntamos se Marieta podia ficar ali, mas a dona do lugar chegou com auxilio da acompanhante. Vagarosamente, ela sentou na cama, nos cumprimentou, e demonstrou estar bem cansada e com dores. Marieta envolveu-a num delicado e saboroso abraço. Tomado pela beleza daquilo fui puxado por uma força suave e invisível para complementar o ato. E percebi que lagrimas percorriam o rosto dela, o rosto de Cristiane. Mas em certo instante, ela se sentiu mal! Começou a querer vomitar, levamos uma lixeira para ela e começamos a tentar tranquilizá-la e simulamos como ela poderia respirar para melhorar. Tentamos fazer isso com o corpo bem vivo, para não deixar a energia cair. E aos poucos ela foi melhorando e o sorriso foi retomando suas proporções, assim como também fomos ficando mais alegres.

“Está melhor?” Perguntamos.
“Obrigado!”

Não precisou de muito. Aquilo já era suficiente. Após um último abraço e um sorriso ainda maior, seguimos viagem.

Lá fora do quarto, encontramos duas senhoras que conversavam sobre avenidas! Dissemos que tínhamos vindo da avenida, mas que lá é muito ruim de atravessar, porque tem muito carro, moto, caminhão...

“Carroça!” Complementou uma delas.
“Sim, carroça! A senhora veio pra cá de carroça?” Perguntei.
“Foi viemos de carroça!”

E ficamos conversando sobre a carroça e seus cavalos e combinamos de pegar uma carona depois.

No caminho, encontramos a vovó que falei lá em cima. Ela estava muito feliz e acompanha da tia do menino. E nos falou:

“João Victor nasceu! Ele nasceu!!!” E comemoramos!!! “João Victor nasceu! Nasceu!”
“Ele tem os olhos e cabelo bem pretinhos!” Ela disse.
“Feito os meus!” Disse Marieta.
“E é bem branquinho!”
“Feito eu!” Respondi.

Tentamos ligar para o pai, mas sem sucesso. Ele estava no trabalho, não atendeu. Desejamos sorte na ligação e continuamos andando até que encontramos uma mãe com seu barrigão sentada na poltrona.

Após um conversa com o bebê la dentro, descobrimos que ele tava com pressa de sair e convidamos ele para o mundo daqui de fora.

O quarto seguinte, infelizmente tinha uma porta invisível trancada por dentro. Não conseguíamos entrar. Estávamos sem a chave. Mas batemos, e a simpática moça das chaves levantou da cadeira e veio nos atender. Colocou a chave na porta invisível, e abri-a convidando-nos a entrar e já se despedindo, pois iria sair de lá um pouco.  Conversamos com uma senhora que gostava de beber pelo braço. Ela disse que estava tomando sangue e que ele tinha um ótimo gosto, principalmente ao beber pelo braço.
A outra moça na cama ao lado estava rindo mas disse que não podia rir muito pois estava com os pontos da cirurgia e doía. Assim ela tentava controlar o riso. Compreendemos a situação e automaticamente ficamos sérios e parados. Falamos baixinho pra ela ir parando de rir e ao fim o que ficou foi um belo e inofensivo sorriso.

Em seguida, encontramos Isadora, a menina vaidosa que se maquiava e dava chapinha antes de sair da barriga da sua mamãe. E nesse mesmo quarto, havia uma mãe muito triste e quetinha no canto do quarto. Conseguimos ver o esboço de seu sorriso ao darmos narigadinhas nela. Foi um momento bem delicado, emocionante, e parecia que o tempo tinha parado. Dissemos que ia ficar tudo bem e ela assentiu com a cabeça e seu sorrisinho cresceu um pouco. Não estávamos a busca de sorrisos. Eles vêm como consequência. Mas sua manifestação nos indicava que estávamos transmitindo algo bom. E isso é muito recompensador.

Ainda descobrimos uma dupla sertaneja que se conheceriam na maternidade. João Lucas e Eduardo. No momento eles estavam em barrigas separadas. Suas mães eram vizinhas de quarto e uma trabalhava na globo enquanto a outra na record. A da Globo ia nos transmitir no NETV daquela mesma noite.

Em um dos últimos quartos, estava Vilma. A mulher dos olhos fortes, brilhantes, penetrantes, intensos. Apreciei o encontro de Marieta e Vilma. Foi lindo. Ambas fixas no olhar da outra. Nada mais. Apenas olho no olho. Chegamos ate ela, admiramos seu olhar enquanto ela alternava entre o olhar da minha MCM e o meu. Descobrimos que ela tinha um grande talento para pintar unhas. Era muito ligada a moda. Combinamos de trazer uns sapatos de Paris para ela.

Durante a ida ao aeroporto para pegar o voo para a França esbarramos com a linda e dona dos cabelos estilosos, tia do jantar. Conferimos o menu: Canja de tartaruga e dinossauro e leite com café. Dois doutorandos chegaram e pedira café para ela.

“Pra ele não! Ele tá de dieta zero!” falei.
“Eita! Verdade! Eu não posso! Mas me dê um para a doutora!” Retrucou.
“E você quer café?” A tia perguntou para mim.
“Quero! Só um pouquinho!”

Com meu café com leite na mão, fomos nos despedindo de todos e anotando as encomendas para trazer de Paris. Vimos a vovó de João Victor, e ela já tinha falado com o pai dele e encomendou alguns sapatos parisienses para o neto.

Partimos com a mala cheia de sorrisos, amor, brilho, saudades.

Estimado Diário de Bordo, essa última experiência de atuação foi singular. Tentei falar menos. Agir mais. Mais fogo. Menos fumaça. Que momento incrível. Que lugar intenso. Maravilhoso. Surpreendente. COB.


Quando visto a máscara e piso no setor, sinto um pulsar inexplicavelmente prazeroso. Olhos atentos, curiosos. Corpo vivo. Mente livre, aberta para o que o vazio revelar.

Aguardo ansiosamente o passaporte para minha próxima viagem.

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