domingo, 29 de novembro de 2015

O sorriso muitas vezes esconde uma lágrima, mas o olhar não consegue esconder nada.

Querido DB, infelizmente não te escrevo animada como das outras vezes. Essa sem dúvida foi a atuação mais dificil até agora. Não foi difícil porque levamos muitas tijoladas ou porque os pacientes não entraram no jogo, foi difícil pq a tijolada veio de dentro, porque não consegui manter a energia e acabei desabando no meio da atuação, o que nos impediu de termina-la.  =/  Nosso setor dessa vez foi a onco e eu estava super animada por ja ter ouvido muito elogios de lá. Começamos a atuação e fomos em busca de encontros, entramos em um quarto de um senhor com os olhos liiiindos, bem expressivos e que nos contou um pouco sobre sua cidade natal, Gravatá. Aprendemos a dançar com um pé só, a dançar como galinhas, descobrimos acerolas do tamanho da nossa máscara objeto e fomos convidadas a ir pra uma festa do sapato furado. Prometemos bolos de acerola gigantes e sucos de cenoooura concentrados ou seria o contrário? O fato é que ficou só na promessa mesmo! Ao sairmos em busca dos nossos ingredientes, encontramos uma senhora e sua netinha. A minha energia começou a cair naquele momento, me senti incapaz de fazer algo pq era nítido o sofrimento nos olhos daquela jovem. Mesmo assim, continuamos lá, trocamos olhares, tiramos alguns sorrisos discretos, e a abraçamos. Vi o quanto aquela pequena jovem era forte, o quanto ela lutava para segurar o choro ao ver a sua vó naquele estado. O nosso abraço permitiu que ela chorasse, senti que ela ficou um pouco aliviada de poder chorar, mas me doeu a fragilidade dela naquele momento. Olhei varias vezes pra ZiZa na esperança que a energia dela me contagiasse, tentando buscar forças pq tb me vi frágil, aquela situação me era mto familiar. Não estava mais no jogo. O sofrimento daquela  jovem passou  a ser meu e eu já não conseguia esconder a minha tristeza, lutando pra segurar o choro. Saimos do quarto, tentei elevar minha energia,  buscar novos encontros. Novamente me deparei com mais uma situação delicada: uma senhora chorava desesperadamente e outras duas tentavam consolá-la. Minha energia que já n estava nas alturas, caiu ainda mais. A senhora chorava ao ouvir os gritos de dor de sua filha de apenas 22 anos. Pensei se não seria mais fácil sair daquela situação desconfortável e buscar outra jogada com alguma outra pessoa. Mas não conseguia sair dali, fiquei paralisada. Não podiamos ir embora sem tentar fazer algo por ela.  Mesmo sem saber o que fazer, ficamos perto, queríamos que ela soubesse que estávamos ali, que ela não estava sozinha. Ziza a abraçou, enquanto eu alisava a cabeça dela. Vi os olhos de minha MCM cheio de lagrimas e não pude conter as minhas. Meu Deuus, o que fazer pra aliviar essa dor? Será que tinha algo que a gente podia fazer? Alguma jogada? Como será que os velhinhos agiriam nessa situação? As respostas não vinham, o sentimento de incapacidade e impotência foi tomando conta mais um vez, minha energia desabou e Josefina já não estava mais presente. Os gritos vindo do quarto foram cessando e a enfermeira chega pra nos avisar que já havia acabado o procedimento e que a senhora poderia voltar ao quarto para ficar com a filha.  Resolvemos ir com ela até o quarto, e antes que ziza conseguisse me impedir de entrar, eu já tinha feito a cagada completa. Entrei no quarto, vi o nome da paciente e escutei como a mãe dela a chamava. Pronto. Desabei. Olhei pra Ziza e só pedi pra gente sair dali o mais rápido possível. Nem consegui olhar pra senhora uma ultima vez, n sei o que se passou pela cabeça dela ao me ver saindo do quarto aos prantos. Senti vergonha por ser incapaz de poder fazer algo por ela. Que tipo de palhaça eu sou?  Josefina é mto mequetrefe, pensei.  Seria melhor parar por ali. Assim acabamos forçadamente a nossa atuação. Não conseguimos esconder o que o nosso olhar sentia, e nem ao menos um sorriso falso foi capaz de esconder nossas lágrimas. Não  alcançamos o tão esperado riso, mas esse encontro vai ficar guardado na memória da minha cabeçinha avuada pra todo o sempre!


                                                                                                                     Com amor, Josefina Avuada






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