domingo, 22 de novembro de 2015

"Hogwarts sempre ajudará aqueles que a ela recorrerem"

É, dessa vez eu me superei... Nunca fui tão mequetrefe como agora, estou postando no domingo! Antes tarde do que nunca, né não, Emílio?

Dessa vez iríamos ao COB, nossa, logo o local que eu costumo ter plantão! E o pior, logo quando entramos demos de cara com um professor e com um monte de interno, vish, que vergonha! Perguntamos a um médico onde poderíamos nos trocar e ele já começou a tirar onda com a gente, "duas palhaças", nós achamos meio estranho, mas enfim...

Também foi estranho vestir a pele naquele banheiro, pois muitas mulheres entravam nele e ficavam olhando pra gente "que roupas são essas?". Admito que essa nossa "recepção" nos quebrou um pouco, achei que até ficou um pouco mais difícil de me concentrar, mas Nathi me ajudou a manter o foco.

Sair do banheiro foi incrivelmente difícil! Acho que nunca tivemos tanta dificuldade como naquele dia! Lá estava desconfortavelmente vazio, muitas gestantes estavam sendo transferidas e demos de cara logo com Dayana. Ela sentia muita dor e não fazíamos ideia do que fazer, a única coisa que fazíamos era "calma, Lorena, calma que sua mãe não aguenta tanto sapateado!", e fomos para o primeiro quarto que vimos. Encontramos Fernada (mão de Caio Vitor) e Jéssica (acompanhante), Roberta/Rosileide (o nome dela era Rosileide, mas como ela nos disse que era Roberta, agora será Roberta até o fim dos tempos) e Josilma (acompanhante), e Gilvanete (acompanhante de Rosineide que no momento não estava no quarto). No quarto seguinte encontramos Patrícia, uma paciente que estava no meu último plantão no COB. Ela não só me reconheceu como disse que eu a havia beliscado (calma, galera, eu estava verificando se ela estava hidratada hahahah).Também encontramos Maria Conceição (assim como Lorena, Flávia também gostava de sapatear dentro da barriga da mãe) e suas duas acompanhantes que infelizmente eu não lembro o nome (essa minha amnésia está demais...). Uma das acompanhantes tinha uma filha chamada Diana que era uma pestinha. Maria Conceição, grávida do 5º filho (seria a 4ª menina dela, o único menino se chama Gabriel) disse: "Eu prefiro ter 10 'Gabriéis' a ter 1 Diana!".

Em um momento em que estávamos nesse quarto, percebi que um interno sorrateiramente abria a porta do COB. Quando ele percebeu que havia sido descoberto, rapidamente saiu do COB na tentativa de se esconder da gente. Claro que nesse momento não hesitamos e fomos atrás dele! Dr Saidinho, ou melhor, Thácio disse que tinha alergia a palhaços! Que alergia grave! Precisávamos ajudá-lo! Nós que estávamos com as melhores intenções de ajudá-lo, acabamos sendo "trolladas" pelo dito cujo, que nos apresentou uma gestante surda muda e fugiu mais uma vez. Angelina e eu tentávamos entender o que Viviene (ou era Viviane?) dizia, o que era para ser 9 meses de gestação saiu que já era o 9º filho dela. O que era para ser "é um menino" entendemos que o bebê era queixudo e que já tinha um cavanhaque. O que era para significar "o nome dele é Vitor Rafael" saiu um emaranhado de sinais que não fazíamos ideia do que significava. Foi um jogo incrivelmente complicado e delicioso. Para nossa sorte, a mãe de Viviene/Viviane estava lá e nos ajudou. UFA!

Nesse mesmo local que tínhamos uma aula de libras, encontramos alguns papais esperando por notícias. Um deles tinha uma sobrancelha estilosíssima! Até aconselhamos a ele deixar a sobrancelha do filho dele igual à dele, e dessa forma seria formado o clã Nazaro da Silva ("Nazaro" era o sobrenome da mãe e "da Silva" do pai), onde as mulheres da família fariam o "penteado" dos homens e os homens teriam sobrancelhas igualmente estilosas e ninguém poderia mexer com eles, pois eles eram não só do clã, mas da dinastia Nazaro da Silva! Nesse momento Maria Conceição e Dayana estavam sendo transferidas, esperamos que tenha dando tudo certo para elas e para Lorena e Flávia!

Em busca de notícias do herdeiro da dinastia Nazaro da Silva, entramos no COB de novo e encontramos a matriarca da família. Ela como uma imperatriz não quis saber muito da gente, reles plebeias, então voltamos nossa atenção ao Dr Saidinho, que desta vez não poderia fugir da gente. Dessa vez ele disse que iria nos ensinar libras, até anotou o endereço que deveríamos ir para ele nos ensinar, não sei não, mas algo me diz que esse não é o endereço verdadeiro dele...

Voltamos a visitar os quartos e dessa vez Fernanda estava sendo transferida para o 9º andar! Coisa boa! Além disso, tudo dava a entender que Rosineide também iria ao 9º andar muito em breve! É isso aí, gente, saiam do COB o mais rápido possível, saiam desse lugar isolado com paredes brancas sem janelas. Voltem o mais rápido possível para o conforto de suas casas e de suas famílias!

Voltamos ao quarto de Patrícia, onde ela nos disse que não aguentava mais aquele lugar, que queria ir pra casa, que morria de saudade dos filhos. Ela estava lá há cerca de 10 dias e já estava perdendo a noção do tempo, já que não há sequer uma janela naquele lugar. Não tinha nada o que fazer, não havia televisão para as pacientes. Para ela, bastava um livro. Patrícia adora ler, principalmente ler para seus filhos. Ela pretendia comprar o livro de Harry Potter de aniversário para o filho mais velho, Cauã (8 anos), porém como ela foi hospitalizada não pôde comprar. Depois ela nos falou do filho mais novo dela, Miguel (5 anos), que diferente do irmão mais velho, desapegava fácil dos livros e assim que os lia, doava para outras pessoas. Quantos ensinamentos em 'apenas' um quarto, em 'apenas' uma família!

Em seguida fomos a um quarto onde estavam 5 mulheres (que mulherada hein!): Geni e Acássia (acompanhante e irmã), Ana, Vida e a acompanhante que ntambém não lembro o nome (vish...). Geni, mãe de dois filhos, 40 anos (eu não dava nem 30 pra ela, arrasou!), Vida com 16 anos mais desenrolada que Angelina e eu juntas! Essa mulherada todinha sambou na nossa cara! Enquanto elas compartilhavam suas experiências conosco, uma delas perguntou se eu tinha irmãos e eu respondi que sou filha única. Perguntaram se minha mãe não quis ter mais, e eu respondi: "Minha mãe hoje se arrepende de não ter tido mais, pois, segundo ela, ela possui amor demais para uma filha só, ela queria ter tido mais para poder compartilhar com meus irmãos". E é aí que surge Ana! Ela estava no COB por causa de uma gravidez ectópica, já era segunda vez que isso acontecia. Ela já havia perdido uma trompa. Ao ouvir o meu relato acerca da minha mãe, ela falou: "É isso que eu sinto! Eu tenho amor demais para um filho só, eu quero ter mais filhos!". Nesse momento eu senti uma sensação tão boa, nem sei explicar o que foi. Pensei na minha mãe, pensei em como meus plantões e como minhas atuações têm me aproximado de meus pais, principalmente da minha querida anti-heroína. Senti vontade de abraçar Ana, senti vontade de abraçar minha mãe, senti vontade de abraçar todo o COB.

De repente olho para o corredor e vejo Thácio indo embora, o plantão dele havia acabado! QUE HORAS SÃO? 19H???? Como sempre nos baseamos no pôr do Sol, dessa vez perdemos a hora porque no COB NÃO TEM JANELAS! Como ir embora se não queríamos ir? Como ir embora depois de tantas histórias? Como ir embora depois de sermos tão bem recebidas não só nesse último quarto como em todos os outros? Foi então que eu cheguei à conclusão que de fato o COB é o pior lugar para se atuar, sabe por quê? Porque você não quer sair dele de jeito nenhum e o momento de ir embora é muito triste...

Passamos em todos os quartos e nos despedimos de todo mundo. Me despeço com aquele pensamento: Estou saindo do COB e espero que vocês "saiam do COB o mais rápido possível, saiam desse lugar isolado com paredes brancas sem janelas. Voltem o mais rápido possível para o conforto de suas casas e de suas famílias!".

Muitos nomes, muitas histórias e muitas emoções em um dos setores mais isolados e sem janelas do HC! COB, que lugar lindo!

PS: No dia seguinte (terça-feira, dia 17/11) eu voltei ao COB não como Chayenne, mas como Báh para ver Patrícia. Ao entrar no quarto encontro Thácio conversando com ela (aaaiii que vergoooonha!!!). Eu os cumprimento e entrego a ela um objeto que eu ganhei aos meus 10 anos e me acompanhou nesses últimos 14 anos. Um objeto que me ajudou nos meus momentos de solidão (nos meus 10 anos eu não tinha muitos amigos), que me ensinou inúmeras lições que carrego até hoje. Um objeto que me levou a um dos lugares mais incríveis que já existiu: Hogwarts. Naquela terça-feira eu havia ido ao COB entregar não só o primeiro livro de Harry Potter, como todos que eu possuía. Deixei uma mensagem dentro do livro, entreguei os outros livros da série, a abracei, abracei Thácio e saí correndo para o ambulatório de Dermatologia. Na quarta-feira (dia 18/11) eu voltei ao COB (que vício!) e ela não estava lá! Havia ido ao 9º andar!!!! Subi imediatamente! Eu a encontro no quarto 903! Agora ela estava em um quarto com janelas! Estava tão feliz! Eu a abracei novamente e disse que se ela estava lá era porque estava prestes a voltar para casa! Ela comentou que começou a ler o livro, e que não havia contado para Cauã ainda, queria fazer uma surpresa!
Nos dias seguintes eu não pude visitá-la, estava uma correria só. Porém no after de ontem, enquanto conversava com Thácio, ele me contou uma das notícias mais maravilhosas do dia (só não foi a mais maravilhosa porque EMPATOU com a surpresa que os velhinhos fizeram pra gente). Patrícia comentou com ele que estava lendo o livro bem devagar para que pudesse lê-lo com os filhos quando voltasse para casa e que... ela já havia recebido alta e naquele momento estava em casa com sua família.

Espero que eles tenham aventuras tão incríveis quanto as que eu tive quando li esses livros. Espero que eles fiquem maravilhados com Hogwarts da mesma forma que eu fiquei e que saibam que "Hogwarts sempre ajudará aqueles que a ela recorrerem".

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