É,
dessa vez eu me superei... Nunca fui tão mequetrefe como agora,
estou postando no domingo! Antes tarde do que nunca, né não,
Emílio?
Dessa
vez iríamos ao COB, nossa, logo o local que eu costumo ter plantão!
E o pior, logo quando entramos demos de cara com um professor e com
um monte de interno, vish, que vergonha! Perguntamos a um médico
onde poderíamos nos trocar e ele já começou a tirar onda com a
gente, "duas palhaças", nós achamos meio estranho, mas
enfim...
Também
foi estranho vestir a pele naquele banheiro, pois muitas mulheres
entravam nele e ficavam olhando pra gente "que roupas são
essas?". Admito que essa nossa "recepção" nos
quebrou um pouco, achei que até ficou um pouco mais difícil de me
concentrar, mas Nathi me ajudou a manter o foco.
Sair
do banheiro foi incrivelmente difícil! Acho que nunca tivemos tanta
dificuldade como naquele dia! Lá estava desconfortavelmente vazio,
muitas gestantes estavam sendo transferidas e demos de cara logo com
Dayana. Ela sentia muita dor e não fazíamos ideia do que fazer, a
única coisa que fazíamos era "calma, Lorena, calma que sua mãe
não aguenta tanto sapateado!", e fomos para o primeiro quarto
que vimos. Encontramos
Fernada (mão de Caio
Vitor) e Jéssica (acompanhante), Roberta/Rosileide (o
nome dela era Rosileide, mas como ela nos disse que era Roberta,
agora será Roberta até o fim dos tempos)
e Josilma (acompanhante), e
Gilvanete (acompanhante de Rosineide que no momento não estava no
quarto). No quarto seguinte encontramos Patrícia, uma paciente que
estava no meu último plantão no COB. Ela não só me reconheceu
como disse que eu a havia beliscado (calma, galera, eu estava
verificando se ela estava hidratada hahahah).Também encontramos
Maria Conceição (assim como Lorena, Flávia também gostava de
sapatear dentro da barriga da mãe) e suas duas acompanhantes que
infelizmente eu não lembro o nome (essa minha amnésia está
demais...). Uma das acompanhantes tinha uma filha chamada Diana que
era uma pestinha. Maria Conceição, grávida do 5º filho (seria a
4ª menina dela, o único menino se chama Gabriel) disse: "Eu
prefiro ter 10 'Gabriéis' a ter 1 Diana!".
Em
um momento em que estávamos nesse quarto, percebi que um interno
sorrateiramente abria a porta do COB. Quando ele percebeu que havia
sido descoberto, rapidamente saiu do COB na tentativa de se esconder
da gente. Claro que nesse momento não hesitamos e fomos atrás dele!
Dr Saidinho, ou melhor, Thácio disse que tinha alergia a palhaços!
Que alergia grave! Precisávamos ajudá-lo! Nós
que estávamos com as melhores intenções de ajudá-lo, acabamos
sendo "trolladas" pelo dito cujo, que nos apresentou uma
gestante surda muda e fugiu mais uma vez. Angelina e eu tentávamos
entender o que Viviene (ou era Viviane?) dizia, o que era para ser 9
meses de gestação saiu que já era o 9º filho dela. O que era para
ser "é um menino" entendemos que o bebê era queixudo e
que já tinha um cavanhaque. O que era para significar "o nome
dele é Vitor Rafael" saiu um emaranhado de sinais que não
fazíamos ideia do que significava. Foi um jogo incrivelmente
complicado e delicioso. Para nossa sorte, a mãe de Viviene/Viviane
estava lá e nos ajudou. UFA!
Nesse
mesmo local que tínhamos uma aula de libras, encontramos alguns
papais esperando por notícias. Um deles tinha uma sobrancelha
estilosíssima! Até aconselhamos a ele deixar a sobrancelha do filho
dele igual à dele, e dessa forma seria formado o clã Nazaro da
Silva ("Nazaro" era o sobrenome da mãe e "da Silva"
do pai), onde as mulheres da família fariam o "penteado"
dos homens e os homens teriam sobrancelhas igualmente estilosas e
ninguém poderia mexer com eles, pois eles eram não só do clã, mas
da dinastia Nazaro da Silva! Nesse
momento Maria Conceição e Dayana estavam sendo transferidas,
esperamos que tenha dando tudo certo para elas e para Lorena e
Flávia!
Em
busca de notícias do herdeiro da dinastia Nazaro da Silva, entramos
no COB de novo e encontramos a matriarca da família. Ela como uma
imperatriz não quis saber muito da gente, reles plebeias, então
voltamos nossa atenção ao Dr Saidinho, que desta vez não poderia
fugir da gente. Dessa vez ele disse que iria nos ensinar libras, até
anotou o endereço que deveríamos ir para ele nos ensinar, não sei
não, mas algo me diz que esse não é o endereço verdadeiro dele...
Voltamos
a visitar os quartos e dessa vez Fernanda estava sendo transferida
para o 9º andar! Coisa boa! Além disso, tudo dava a entender que
Rosineide também iria ao 9º andar muito em breve! É isso aí,
gente, saiam do COB o mais rápido possível, saiam desse lugar
isolado com paredes brancas sem janelas. Voltem o mais rápido
possível para o conforto de suas casas e de suas famílias!
Voltamos
ao quarto de Patrícia, onde ela nos disse que não aguentava mais
aquele lugar, que queria ir pra casa, que morria de saudade dos
filhos. Ela estava lá há cerca de 10 dias e já estava perdendo a
noção do tempo, já que não há sequer uma janela naquele lugar.
Não tinha nada o que fazer, não havia televisão para as pacientes.
Para ela, bastava um livro. Patrícia adora ler, principalmente ler
para seus filhos. Ela
pretendia comprar o livro de Harry Potter de aniversário para o
filho mais velho, Cauã (8 anos), porém como ela foi hospitalizada
não pôde comprar. Depois ela nos falou do filho mais novo dela,
Miguel (5 anos), que diferente do irmão mais velho, desapegava fácil
dos livros e assim que os lia, doava para outras pessoas. Quantos
ensinamentos em 'apenas' um quarto, em 'apenas' uma família!
Em
seguida fomos a um quarto onde estavam 5 mulheres (que mulherada
hein!): Geni e Acássia (acompanhante e irmã), Ana, Vida e a
acompanhante que ntambém não lembro o nome (vish...). Geni, mãe de
dois filhos, 40 anos (eu não dava nem 30 pra ela, arrasou!), Vida
com 16 anos mais desenrolada que Angelina e eu juntas! Essa mulherada
todinha sambou na nossa cara! Enquanto elas compartilhavam suas
experiências conosco, uma delas perguntou se eu tinha irmãos e eu
respondi que sou filha única. Perguntaram se minha mãe não quis
ter mais, e eu respondi: "Minha mãe hoje se arrepende de não
ter tido mais, pois, segundo ela, ela possui amor demais para uma
filha só, ela queria ter tido mais para poder compartilhar com meus
irmãos". E é aí que surge Ana! Ela estava no COB por causa de
uma gravidez ectópica, já era segunda vez que isso acontecia. Ela
já havia perdido uma trompa. Ao ouvir o meu relato acerca da minha
mãe, ela falou: "É isso que eu sinto! Eu tenho amor demais
para um filho só, eu quero ter mais filhos!". Nesse momento eu
senti uma sensação tão boa, nem sei explicar o que foi. Pensei na
minha mãe, pensei em como meus plantões e como minhas atuações
têm me aproximado de meus pais, principalmente da minha querida
anti-heroína. Senti vontade de
abraçar Ana, senti vontade de abraçar minha mãe, senti vontade de
abraçar todo o COB.
De
repente olho para o corredor e vejo Thácio indo embora, o plantão
dele havia acabado! QUE HORAS SÃO? 19H???? Como sempre nos baseamos
no pôr do Sol, dessa vez perdemos a hora porque no COB NÃO TEM
JANELAS! Como ir embora se não queríamos ir? Como ir embora depois
de tantas histórias? Como ir embora depois de sermos tão bem
recebidas não só nesse último quarto como em todos os outros? Foi
então que eu cheguei à conclusão que de fato o COB é o pior lugar
para se atuar, sabe por quê? Porque você não quer sair dele de
jeito nenhum e o momento de ir embora é muito triste...
Passamos
em todos os quartos e nos despedimos de todo mundo. Me despeço com
aquele pensamento: Estou saindo do COB e espero que vocês "saiam
do COB o mais rápido possível, saiam desse lugar isolado com
paredes brancas sem janelas. Voltem o mais rápido possível para o
conforto de suas casas e de suas famílias!".
Muitos
nomes, muitas histórias e muitas emoções em um dos setores mais
isolados e sem janelas do HC! COB, que lugar lindo!
PS:
No
dia seguinte (terça-feira, dia 17/11) eu voltei ao COB não como
Chayenne, mas como Báh para ver Patrícia. Ao entrar no quarto
encontro Thácio conversando com ela (aaaiii que vergoooonha!!!). Eu
os cumprimento e entrego a ela um objeto que eu ganhei aos meus 10
anos e me acompanhou nesses últimos 14 anos. Um objeto que me ajudou
nos meus momentos de solidão (nos meus 10 anos eu não tinha muitos
amigos), que me ensinou inúmeras lições que carrego até hoje. Um
objeto que me levou a um dos lugares mais incríveis que já existiu:
Hogwarts. Naquela terça-feira eu havia ido ao COB entregar não só
o primeiro livro de Harry Potter, como todos que eu possuía. Deixei
uma mensagem dentro do livro, entreguei os outros livros da série, a
abracei, abracei Thácio e saí correndo para o ambulatório de
Dermatologia. Na quarta-feira (dia 18/11) eu voltei ao COB (que
vício!) e ela não estava lá! Havia ido ao 9º andar!!!! Subi
imediatamente! Eu a encontro no quarto 903! Agora ela estava em um
quarto com janelas! Estava tão feliz! Eu a abracei novamente e disse
que se ela estava lá era porque estava prestes a voltar para casa!
Ela comentou que começou a ler o livro, e que não havia contado
para Cauã ainda, queria fazer uma surpresa!
Nos
dias seguintes eu não pude visitá-la, estava uma correria só.
Porém no after de ontem, enquanto conversava com Thácio, ele me
contou uma das notícias mais maravilhosas do dia (só não foi a
mais maravilhosa porque EMPATOU com a surpresa que os velhinhos
fizeram pra gente). Patrícia comentou com ele que estava lendo o
livro bem devagar para que pudesse lê-lo com os filhos quando
voltasse para casa e que... ela já havia recebido alta e naquele
momento estava em casa com sua família.
Espero
que eles tenham aventuras tão incríveis quanto as que eu tive
quando li esses livros. Espero que eles fiquem maravilhados com
Hogwarts da mesma forma que eu fiquei e que saibam que "Hogwarts
sempre ajudará aqueles que a ela recorrerem".
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