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Se joga! (essa sensação é sempre única)
“Orangino e Marieta... Toca o dedo na corneta!
Orangino e Marieta... Toca o dedo na corneta!!!” Cantarolou Seu Manoel ao som
de seu violão invisível.
Meu estimado Diário de Bordo, aqui estamos de novo.
Preste muita atenção no que vou te dizer, porque essa foi a atuação que mais me
marcou até o momento! Minha MCM e eu estávamos
na mais profunda sintonia. Com pensamentos interligados! Pelo menos eu senti
isso! Marieta: melhor companheira do mundo!
Mas vamos lá! Tudo começou quando abrimos a porta
do quarto dos técnicos de enfermagem do 10°Andar Sul (já devidamente preparados
e energizados) e imediatamente nos deparamos com o quarto a frente, e com os
olhares que nele estavam. E veja só quem encontramos lá: Magali (a tia que
vende livros)!!! Ela acompanhava sua mãe, Mama. E se surpreendeu ao descobrir que
conhecia nossos irmãos gêmeos! Ela disse que sempre os vê passando pelo seu
stand de livros! Conversamos muito com dona Mama, e sobre como chegar a Tejipió
de avião, saltando de paraquedas no campo de futebol de lá. Conhecemos sobre “As
Aventuras de Mama”! Histórias que dariam um bom filme!
Ao lado dela estava Camila, sua amada arqui
inimiga! Uma implicando com a outra, mas com muito amor! Ficamos no fogo
cruzado de alfinetadas! Kkkkk Até que resolvemos apresentar nossos nomes à
Camila por adivinhação! Foi difícil! Mas
a cada erro, uma gargalhada maravilhosa surgia e se combinava às nossas.
Primeiro ela acertou o da minha MCM. Após percorrer o alfabeto e chegar na
letra M.
“Marieta!!!” Falou com firmeza.
“Isso! Aeeeee!” Comemoramos o acerto!!!
Já para acertar o meu, digamos que tivemos que dar
pistas mais obvias! Kkk Mas após um certo tempo...
“Orangino!”
“Aeeeeeeeeeeee!” Comemoramos ainda mais! Foi
hilário vê-la tentando adivinhar os nossos nomes! E melhor ainda foi vê-la
acertando!
Nos despedimos das duas simpatias em pessoa e fomos
para o quarto seguinte. E quem estava lá? Carlinhos!!!
“Que palhaço feio! Não fazem mais palhaços como
antigamente!” comentou quando chegamos na porta.
“Mais rapaz! Eu sou feio mermo! Mas e ela? Ela é bonita!”
Respondi e Marieta chegou mais perto.
Um sorrisinho bem atrevido foi o que Marieta
recebeu! Kkkkk Entramos no quarto e vimos que ele estava jogando Playstation
com um amigo do hospital. E não desgrudava o olho da tela. A não ser quando parava
para olhar para mim e dizia:
“Mas tá gooordo! Quer um pouquinho da minha carne
não!”
Argumentamos que eu estava de regime, mas acabei
aceitando a oferta. Conhecemos sua coleção de jogos e ficamos torcendo por ele
na partida de futebol.
“Goooool” Gritei! Pensando q tinha sido de
Carlinhos, mas foi do seu adversário! Eita Carlinhos! Foi mal! Acabei torcendo
contra. Kkkk
Em seguida ele ensinou a Marieta como malhar com a
testa e ela foi praticar um pouco na parede do quarto dele. Nos despedimos e
dissemos que depois íamos querer pegar uns jogos emprestados. Ele não gostou
muito da ideia não. Kkkkk
Lá fora, no corredor, encontramos um senhorzinho
assistindo televisão. Ficamos escondidos atrás da parede e ele começou a tentar
nos olhar. Vimos além do seu olhar curioso, um sorriso maravilhoso e como ele
estava no banco, sentamos cada um de um lado. Aprendemos sobre a novela que ele
estava vendo (Caminho das Indias) e ficamos admirando a sua elegante bengala.
Vimos também a Senhora Gominho de Laranja (a
imaginei assim agora). Ela não falava muito, porque tinha acabado de voltar de
uma cirurgia e estava comendo aos pouquinhos pequenos gomos de laranja cravo
que seu acompanhante lhe entregava. Então nos comunicamos mais pelo olhar.
Muito bom! O quarto com cheiro de Orangino.
Novamente no corredor, vimos uma senhora com seu
filho caminhando um pouco. E vendo que ela estava com dificuldade, minha
incrível MCM foi prontamente ensiná-la como andar melhor!
Chegamos no quarto de uma amante do forró e do
sertanejo! Descobrimos seus cantores favoritos.
“E Michel Teló? A senhora gosta?” Perguntei.
“Oxi! Mas e então!” Respondeu com entusiasmo.
“Nossa, nossa, assim você me mataaa! Ai se eu te
pego! Ai, Ai, se eu te pego!” Cantamos e dançamos, recebendo belas risadas de
volta.
A outra paciente nos perguntou se éramos amigos ou
Maridos. Ficamos com a segunda opção. Mas ela ficou indignada com a ausência de
alianças. Nos defendemos dizendo que apertava muito o dedo.
A acompanhante da senhora ao lado, também
contribuiu com a cantoria e depois nos mostrou seus netos pelo celular com um
orgulho enorme explodindo no peito.
Mais uma vez, partimos. E nesse momento estávamos nos
preparando para ir embora. Mas atenção sempre. Íamos voltar o corredor e muita
coisa ainda poderia acontecer. E adivinha? Muita coisa aconteceu.
Na primeira passagem pelo corredor pulamos alguns
quartos ou pelos seus ocupantes estarem dormindo, ou por não estarem presentes
ou disponíveis no momento. Então nesse retorno, vimos que as duas pacientes
estavam dormindo, mas suas acompanhantes estavam presentes, atentas e
interessadas. Cravei no olhar de uma delas, e em silêncio ou com o mínimo de
barulho possível fomos nos aproximando até um abraço se concretizar. Abraçamos
ela! E que olhos lindos. A outra acompanhante se levantou e veio nos abraçar (também
sem fazer muito barulho, mas com o corpo vibrante). Que abraços incríveis.
“Mas essa aqui não tá dormindo não!” Disse
apontando para a sua mãe. “E ela gosta é muito de vocês!”
E aquele momento foi maravilhoso. Chegamos perto
dela. Dona Zefinha. Linda. Cabelo ralinho. Branco. Olhos Miúdos. Curiosos.
Atentos. Boca semi aberta. Olhava para Marieta e depois para mim. E dali brotou
uma conversa deliciosa. Que simpatia. Que carisma. Ela me conquistou nos
primeiros olhares. Suas feições me lembraram minha falecida avó. Garganta
apertou. Sua voz e jeito também eram muito parecidos. Olho lacrimejou. Lá estávamos,
minha MCM e eu, desfrutando a contagiante alegria daquela senhora com energia de
criança. Conversamos sobre suas musicas e danças favoritas e sobre as paqueras
de quando era moça. E recebemos a palhinha de uma bela canção à capela.
Esse dia estava muito musical! E isso me deixava cada
vez mais com a energia lá em cima. E eu sentia que estava muito sintonizado com
Marieta, dona do sobrenome mais amado: Melhoral! Todos adoram! :D
Mas a coroação desse dia ainda estava por vir. Mais
a frente ouvimos musica clássica escapando de um quarto. Era uma valsa. Fomos
embalados pelo ritmo e começamos a dançar na porta e a espiar se lá dentro
tinha alguém acordado (o quarto estava com as luzes apagadas). Fomos convidados
a entrar. E dançando chegamos à beira do leito de seu Manoel.
“O senhor tem um nome maravilhoso!” falei kkkkk. “Sabe
como me chamo? Orangino!”
“Orangino?” perguntou
“Isso! E ela é Marieta!”
“Marieta?”
“Exato!”
E naquele instante recebemos um presente
maravilhosamente surpreendente!
“Orangino e Marieta... Toca o dedo na corneta!
Orangino e Marieta... Toca o dedo na corneta!” Cantarolou Seu Manoel ao som de
seu violão invisível, enquanto nós dançávamos e aprendíamos a letra e o ritmo.
Logo, estávamos todos cantando o hit do momento! Aquilo foi ótimo! Seu Manoel tinha problema de audição, estava um pouco debilitado, já era de idade e mesmo
assim nos surpreendeu ao nos presentear com uma bela canção.
Cantando nossa música, seguimos caminho nos
despedindo daquele belíssimo e indescritível setor. No qual travamos uma viagem musical!
Meu estimado diário, que dia foi esse? Foi
incrível! Sensacional! Minha MCM estava ótima! Os pacientes lindos e muito
receptivos. A música estava no ar. Quero mais viagens como essa!
Até a próxima
aventura!
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