Olá diário,
essa quarta a minha atuação juntamente com Fêfo foi na ala da pediatria. Eu
aguardava ansiosamente ser convocado para atuar no setor das crianças. Fiquei
imaginando que quando eu fosse nessa ala, a brincadeira surgiria fácil, o riso
seria solto e a atuação iria acontecer de forma mágica. Pois bem, isso
aconteceu, as brincadeiras brotaram num terreno fértil, o riso correu por entre
as bocas de crianças e adultos e a atuação foi de fato mágica. Mas nem tudo são
flores. Aconteceu o que eu também sempre espero que aconteça. Alguns momentos
que tentamos semear brincadeiras o terreno não parecia tão fértil, o riso não
correu por entre algumas bocas e a mágica não surgiu. Antes que possam imaginar
que eu e Fêfo tenhamos tido momentos espetaculares e outros de total sem
“gracisse”, começo avisando que não é bem assim. Não foi bem assim. Às vezes as
palavras dão um peso maior do que o momento realmente possa ter tido, em outros
casos, palavras não bastam. Diário, talvez você tenha ficado ainda mais confuso
com o que realmente aconteceu nessa atuação. Para tentar não confundir ainda
mais, vou resumir em expressões; foi lindo, foi desafiador, respeitar o tempo
de cada um, não deixar a energia cair, o olhar fala e como fala, as crianças
fazem a mágica, o mundo de cada um pode ser criado e recriado. Agora que tentei
deixar livres as interpretações e impressões a partir de minhas expressões, vou
tentar colocar alguns momentos que merecem ser relembrados. Assim que chegamos
na ala da pediatria, o nervosismo de sempre bateu, olhamos os quartos, não
vimos tantas crianças como esperávamos que tivesse. Havia alguns bebês ainda de
colo, havia algumas crianças dormindo e um punhado de crianças que, cada uma ao
seu modo, entenderiam o que eu e Fêfo poderíamos falar e fazer. Subimos a
máscara e começamos a brincar; no primeiro encontro um menininho que não falava
e nem gesticulava tanto, mas que com um olhar, olho arregalado, não de medo,
mas de encanto, nos olhava e olhava com brilho. Fico com esse olhar. Próximo
quarto, uma menininha de 4 meses, Paloma, e há 3 meses estava ali; “tão pouco
tempo de nascida e a maior parte do tempo de sua vida num hospital’. Foi isso
que sua mãe nos relatou, nesse momento eu disse que ela era uma princesa e que
a mãe uma rainha, a mãe sorriu, a brincadeira foi em torno desse assunto de
castelos e Reinados, enquanto isso a princesa não parava de olhar para Fêfo,
ele retribuiu, ficou alguns minutos parado olhando para a princesinha. Fomos para
outros quartos, em um uma equipe médica entrou no memento que estávamos começando
a brincar, eles não expressaram nenhuma animação, Fêfo sentiu que era hora de
partir para outros quartos, foi isso que fizemos. No outro, uma garota de 11
anos, Vitória, se reclamava de dor, estava com um soro e dizia que a agulha
estava incomodando, não deu muita bola para nós palhaços, foi quando eu disse:
”vamos brincar de estátua? ”, ela olhou e balançou a cabeça num sim. Na
primeira tentativa de ficar parado como uma estátua, ela sorriu. Depois brincamos
que estávamos num barco e ela comandava para onde deveríamos ir. Depois de um
tempo, partimos, mas dessa vez quando olhei da porta, Vitória não se queixava
mais de dor. Antes de relatar um último momento com um garotinho, eu e Fêfo
amargamos quando tentamos interagir com duas funcionárias, elas realmente não
queriam brincar; acontece. O bom é que depois desses momentos morgação, vêm
momentos mágicos. Um dessas horas mágicas foi com Pedro, ele estava com medo no
início, foi quando começamos a dizer que o acesso para se colocar o soro que
tinha em sua mão era um “lança laser”. Ele começou a lançar esses raios e ainda
fazia barulho com a boca, eu e Fêfo corremos todo o corredor da ala pediátrica
e Pedro atrás de nós. Já estava começando a ficar escuro e percebemos que já
tínhamos passado um bom tempo ali. Então, depois de brincar bastante com Pedro,
dissemos que iriamos embora, ou melhor iriamos fugir dos raios que ele lançava.
Foi quando entramos no quarto para voltarmos a ser Turíbio e Fernando.
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