Sexta feira, mais uma atuação, a segunda numa mesma semana.
Diário, dessa vez eu e meu companheiro Carequildo fomos escalados para
desbravar um lugar, que a meu ver, seria bastante difícil. Fomos postos para
interagir com as mães, o alojamento conjunto, ou melhor, o lugar onde as recém
mamães estão com seus recém nascidos. Quando eu soube que atuaria ali, pensei
como poderia ser difícil uma interação num ambiente que, em muitos casos,
requer silêncio e cuidado redobrado. Pensei em como conseguir conversar com
mulheres que estão mais querendo descansar depois de noites mal dormidas, pois
são mulheres que acabaram de dar à luz. Confesso que antes de começar a atuação
fiquei mais nervoso do que o de costume. Olhei para Fêfo, ele olhou para mim,
não precisávamos dizer mais nada, a ansiedade transbordava nos nossos olhares.
Começamos a preparação, finalmente momento de subir a máscara e encontrar o
inesperado. Agora eram Carequildo e Carequinha Sertanejo que rondavam os
corredores, estávamos nós de narizes a postos. Assim que saímos do quarto onde
estávamos nos preparando, primeiro encontro. Uma senhora nos recebeu com um
sorriso meu tímido, logo brincamos dizendo que estávamos atrás de uma criança,
ela sorriu e disse que o netinho dela ninguém levava. Mas ao mesmo tempo nos
conduziu até o quarto onde estava seu neto. Chegamos e o bebê estava num sono
de dar inveja. Começamos a conversar com
a mãe. Naquele momento transcorreu apenas uma conversa, nada muito engraçado,
mas têm momentos que é de uma conversa, mesmo que seja com palhaços, que alguém
precisa. O quarto era compartilhado com mais duas mães e seus respectivos
filhos, também estavam seus respectivos pais. Eles, os pais, nos receberam com
sorrisos e olhares curiosos. Houve mais um momento de conversa, dessa vez, com
brincadeiras, começou um papo de quem fechou a fábrica, de quem pretende montar
um time de futebol com os filhos e as conversas e risadas foram se
desenrolando. Saímos do primeiro quarto bem menos tensos; percebemos que poderia,
sim, haver interação. Não posso deixar de falar da simpatia de alguns
funcionários, toda as vezes que migrávamos de um quarto para outro, nesse meio
termo sempre tinha um funcionário que abria um sorriso largo, havia aqueles que
não queriam muito papo, cara fechada e olhar de quem diz que não quer brincar,
acontece. Algumas mães dormiam e outras pareciam estar realmente cansadas em
quartos em que a penumbra ganhava da luz. Eu e Fêfo olhávamos, sentíamos o
encontro no olhar e também sentíamos que só aquele olhar bastava. Respeitávamos
o momento e partíamos para os próximos encontros. Em um quarto uma mãe nos
convidou para entrar e não parou por aí, nos convidou para o aniversário de um
ano do filho, eu disse que levaria uma tropa de palhaços, disse que ela
preparasse uns 15 bolos, nessa conversa com essa mãe, ela ria e ao mesmo tempo
sentia dores da cirurgia do parto, fiquei meio cauteloso para não complicar
nada por ali. Nesse mesmo quarto uma outra mulher bem jovem que ainda não havia
parido, estava com muita dor. Ali, Fêfo conseguiu tirar um sorriso dela, foi um
momento em que a dor provavelmente tenha diminuído; eu fiquei meio sem ação.
Passei a mão em sua testa e disse que as coisas iriam dar certo, que a
enfermeira estava chegando. Partimos para mais um encontro em outro quarto.
Antes que eu esqueça, em quase todos os momentos minha barriga “um pouco”
saliente lembrava a barriga de uma grávida. E todas as mulheres diziam que era
uma barriga de quem está grávida, ou melhor, grávido de uma menina. Deram todas
as características físicas de uma barriga de quem gesta uma menina. Foi muito
interessante e, claro, engraçado. Explorei várias vezes essa minha barriga. Por
fim, quando fomos pegar nossas bolsas para nos vestir e então ir embora, a
funcionária estava gravida também, foi como um presente para o final da
atuação, ela sorriu e brincou, disse que sua barriga era de quem esperava um
menino e que a minha de fato era de quem esperava uma menina.
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