domingo, 22 de novembro de 2015

Punkdiatria

Você recebe do jogo o que você dá ao jogo! Arriscar-se... É parte! Aparentemete tínhamos definido nosso ritual de subir a energia: fechar os olhos, iniciar a contagem e explodir o olhar. Havíamos repetido o esquema em todas as atuações até então. Mas o tá-faltando-alguma-coisa me aperreava o juízo. Lembrei dos conselhos de Filipe no nosso primeiro dia! E porque não tentar? Fui com essa ideia na cabeça para a atuação. Sugerir algo novo à Josefina... Tive medo de deixá-la desconfortável em sair do habitual, do já definido, e justo no dia da Pediatria. Mas, ora bolas, minha MCM merece o melhor, meu maior investimento, e eu sentia que seria bom para nós aquela mudança, voltar ao desconforto! Espero que tenha sido bom, de fato... hehe Pra mim, foi!

Dessa vez, nos encontramos antes dos 100%... Nossos olhares se acharam antes do máximo de energia. E a vontade era de alimentar Josefina e ser nutrida pelo brilho dela também! Ao som da que considero nossa música, eu senti uma conexão que não tinha rolado das vezes anteriores. E foi incrível! Com direito a tropeço inclusive, porque a empolgação foi tamanha que cantamos alto demais! >< E no fim eu subi a máscara com muuuuito mais energia!

Josefina, essa é para você! ;*

Now with passion in our eyes
There's no way we could disguise it
(…)
So we take each other's hand
'Cause we seem to understand
The urgeeeeeency

I've had the time of my life
No I never felt this way before
Yes I swear it's the truth
And I owe it all to you

*Eu tenho que decorar a parte do carinha, para nossa performance! haha *-*

E assim que saímos do quarto, nos deparamos com nossas primeiras vítimas (ou as vítimas fomos nós?! Tan-dan...) rsrs Pedro e Janelinha estavam no corredor. Tímidos de início, acabaram se soltando quando Josefina sugeriu brincarmos de esconde-esconde. Foi massa! Éramos só nós quatro. E quando foi a minha vez de contar, pude praticar o princípio de estar sempre alerta. Eu sozinha no corredor, não estando sob o olhar de ninguém, mantive-me no jogo enquanto contava até 10... Foi muuuuito legal quando eu escutei, de repente, a gargalhada de uma das mães em me ver contando!

Sair do jogo inicial foi difícil, sugerir explorar o corredor, entrar em outros quartos... Mas demos nosso jeito. Tive dificuldade também na “logística” dos encontros. Quando começava a criar caminho para jogar com os quietinhos, os danados vinham e me puxavam, e o momento se perdia.

Uma das lindezas da tarde foi ver Josefina interagindo com um bebezinho. Foi liiiiindo demais! Ver emanando do olhar dela o encontro. Ela foi a maestra do jogo... E conduziu tudo com um talento tremendo... Eu me deixei guiar e era extraordinário ver ele sorrir conosco.

Depois, veio Caio, que se juntou a Pedro e Janelinha como os nossos marujos inseparáveis. Foram tantos jogos que não conseguiria descrever todos eles. Interagiram também as funcionárias da limpeza, as enfermeiras... Mas um dos melhores momentos com certeza foi o jogo do Zumbi. Tínhamos alcançado o final do corredor; um quarto vazio foi identificado como o cômodo amaldiçoado. Nas pontas dos pés, adentramos o lugar... Eu entreabri a porta do banheiro, coloquei a mão na fenda e... Awwwww! Um zumbi me mordeu, e, seguindo a lei natural das coisas, eu me tornei um zumbi. Percorrer de volta o corredor quase dançando o funk do morto muito louco, fazendo dos meninos novos zumbis, foi do caramba. O antídoto? Beijos de Josefina! <3

Pediatria é hardcore! É corpo vivo constante! Não lembro de tijoladas... Foi só feedback positivo e bote feedback nisso! O jogo caiu por esgotamento físico. Estava cansada a ponto de não ter mais pano para jogo, raciocínio prejudicado já. E pra ir embora? Peeeense numa dificuldade! hehehe Tentamos a estratégia do trem: teoricamente os passageiros desceriam nas suas respectivas estações e nós partiríamos para o nosso destino final. Deu certo? É claro que non! O jeito foi entrar no quarto e esperar que eles comprassem a ideia de que seríamos teletransportadas... Ficamos presas no quarto por uma meia hora e quando o corredor parecia quieto, pudemos sair!

Acho que estou esquecendo de muita coisa que rolou, foi intenso! Mas o presente do dia, vou descrever agora... O auge da atuação para mim foi também o momento em que falhei com Josefina! Esse presente veio, portanto, com um pitada de amargo. Estávamos eu e Josefina na porta, espiando o quarto, esperando a deixa para entrarmos. Kleberson estava para poucos amigos. À primeira negativa, recuamos um pouco e foi nessa hora que suspeito ter ocorrido a captura de Josefina por nossos marujos grudentos... Eu permaneci na porta e percebi no olhar da mãe de Kleberson o sinal para eu insistir. Entrei então no quarto e me esqueci de Josefina lá fora com os meninos. Abandonei minha MCM e joguei sozinha. Aventurei-me sozinha... Foi arriscado, eu acho. Foi imprudente, porque minha MCM talvez estivesse precisando de mim lá fora. Mas foi uma das melhores experiências que tive até agora no projeto. Assim que entrei, ameacei soltar as primeiras palavras. Foi quando a mãe de Kleberson disse que ele não escutava. Caramba. Peguei-me tendo que usar só o meu corpo, minhas expressões, meu olhar, não por opção. Não sei libras. Kleberson estava com dores em um dos ombros, escondia o olhar, a dor incomodava. Minhas primeiras tentativas de interagir não abriram porta alguma. Quando vi, no entanto, o tablet ao seu lado, um garoto de doze primaveras apenas, identifiquei um possível caminho. Pedi pra usar o tablet, queria jogar videogame. E ele abriu um sorriso franzino e balançou a cabeça negativamente. Eu pedia, só um pouquinho, vaaaaaai?! E o sorriso ia ganhando mais forma. Ele escondeu o tablet por debaixo do travesseiro. Espertinho! haha Tentei pegar o tablet pela outra ponta... Mas ele se manteve esperto! E continuava a achar graça em me proibir as coisas. E eu mostrava minha indignação, é claro... Já que não pode o tablet, deixa eu ver o celular então? E ele, mais uma vez “não”! E o jogo continuou, ele me negando shampoo, comida, toalhas... Quando ameacei mexer na cama, a mãe de Kleberson entrou na brincadeira tbm. Ela apertava os botões de um lado e eu do outro, mas a culpa era sempre de Ziza... haha A irmã e o pai chegaram para a visita: perguntei se podia dar um abraço na irmã dele, e o ciumento disse “não”... haha Conversa de gestos e olhares! Impagável! Nesse momento, o pai lhe indicou os fonemas a serem ditos e ele pronunciou de fato um “não pode” e eu fiquei besta de alegria! O jogo foi fluindo... O ombro lhe incomodava. A mãe lhe fazia massagem. Lhe indiquei que tbm estava com dor e precisava de massagem. E me surpreendi quando ele me veio com um “mentirosa!” bem alto, que se acompanhou de um riso de satisfação com o meu susto! Não sei ao certo quanto tempo fiquei ali, mas a noção de que Josefina estava lá fora com as ferinhas, fez-me iniciar a despedida. Ele me lançou um olhar sereno, parecia feliz apesar da dor. Ao sair do quarto, tive medo! Medo que aparece após viver uma coisa muito boa, medo dessa coisa não se repetir. Estava espantada... Que experiência incrível!

“Quando é verdadeira, quando nasce da necessidade de dizer, a voz humana não encontra quem a detenha. Se lhe negam a boca, ela fala pelas mãos, ou pelos OLHOS, ou pelos poros, ou por onde for. Porque todos, todos, temos algo a dizer aos outros (...)”.


*P.S. Para não esquecer: festa de 5 anos do PERTO! Liberdade, Tatá, Bruuu, quartinho, dizer mil coisas pelo olhar, MoraLonge, Bang Bang, lua, encontro. Gratidão!

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