E de súbito me pareceram tão familiares, tão meus e eu tão deles... Hoje
eu e Bufa fomos para a pediatria, ahhhhhh meu Deus pirralhos. Pirralhos gritam,
eles são sinceros demais, amam ou odeiam demais, se entregam ou rejeitam
demais... Será que vamos nos entender com eles? Será que eles vão nos
entender... Estamos arrumados, energia, brilho, levanta o nariz, abre a porta
para ver o mundo novo que está diante de ti...
Olha lá um expedicionário, em seu cavalo de
brinquedo, tão sozinho no corredor, será que ele quer ser um explorador
conosco? Como se chama? Cauê. Quer explorar? E lá vem o brilho no olhar, o real
significa de um sorriso e de uma entrega que tanto buscamos nesse projeto,
estava lá naquele pequeno explorador. Cauê se jogava no vazio, entrava em todo
o jogo, aprendia e ensinava. Se apresentava a árvore que era Bufa, aprendia com
Bufa a esconder o carrinho no bolso e a perguntar a Sebastiana em qual mão
está. Ia ver os outros exploradores conosco, não importava se as vezes ele não
fosse o centro, Cauê era um ótimo Dedé. Que agonia ao olhar para o lado e ele
não estar, fui displicente, deixei de encontrá-lo? E meu coração ficava menos
apertado ao ver ele trazer seu carro, seu cavalo, para junto de nós.
Indo em rumo a novos exploradores vi um lindo olhar. Pedro Henrique
chorava no colo do pai. Acho que com seus sete anos, sem poder falar, as vezes sua
única forma de expressão era o choro. Ao chegar não sabia ao certo se ele me
olhava, as lágrimas e a forma descontrolado com a qual mexia a cabeça me
confundia, mas eu estava lá pegando na sua mão e chamando seu nome em todos os tons
possíveis e em todos os locais, mais perto, mais longe, atrás dele.... Pedrooo,
Pedrooooo. O choro parou. Vivaaa. O choro voltou. Pedroooo, Pedrooo. O choro
parou. O choro voltou. E assim fomos por algumas vezes até que ele se acalmou e
com sua forma de rir, olhava para mim com o que eu espero ser alegria. Nos
encontramos novamente no quarto, dessa vez sem choro, eu e ele ficamos na nossa
velha dinâmica, na nossa comunicação.
Caleb, Caleb você me ensinou a sempre
descobrir antes se vocês podem nos acompanhar.
Nosso fiel escudeiro Cauê vinha com se cavalo + Caleb queria brincar no
cavalo + Ele não podia= Caleb chora muitooooooo. Confesso que não fui capaz de
acalmar, Bufa é que encontrou a comunicação correta para tranquiliza-lo.
Nesse mesmo quarto, estava a linda Aurora,
com seu olhar sempre a nos encarando. Ela sempre esteve presente, atenta, mas
sem reação. Sua timidez só foi quebrada no final da atuação, com uma
brincadeira boba de esconde-esconde. Às vezes é bem mais fácil do que você
pensar enxergar o sol.
Nicole,
o bebê que ri. Ela com seus poucos meses, quando Sebastiana chegou, e com ela se
encontrou, riu. Sua mãe se iluminou. Imagina Sebastiana. Depois ela só ria com
Bufa. Bufa e Sebastiana se iluminaram.
Outro Pedro. Nenhuma palavra, só timidez,
olhar atento, e um eterno sorriso. Que criança linda. Par mim virou estilista.
Sua mãe assistiu nossa própria interpretação da programação do Silvio Santos.
Foi muito divertido.
O quarto 908. Ao chegar fomos avisados que
deveríamos evitar entrar lá, já que a criança estava com suspeita de uma doença
mais grave. Nas nossas andanças, eu e Bufa vimos um quarto aberto, da porta vi
uma linda menina brincando no seu celular e segurando o inalador, ao seu lado
sua mãe, cheguei e comece a falar algo aleatório, as vezes sua atenção era
voltada para o celular. Perguntei o que ela tanto olhava, ela virou o celular e
me mostrou o Pou. De repente éramos o Pou, eu era um cocô, e depois éramos um
Pou novamente. Ao baixar a máscara Caio me pergunta se sei em que quarto eu
entrei naquela hora, respondo que não, e ele me diz que foi no 908. Sei que fiz
errado, mas por aquelas risadas lindas atrás daquele aparelho que cobria seu
rosto, faria novamente.
E por último, mas não menos importante,
também conheci a linda Letícia. Sapeca, animada, agitada, cheia de vida, cheia
de amor. Ela usou e abusou de mim, dos meus pés a minha cabeça, com ela e Bufa
pulei, virei robô, bailarina, muitas coisas mais. Minha Sebastiana com ela
sempre era completa, dos sapatos que faziam parte do meu pé e por isso era tão
difícil tirar, a minha perna e meu braço que viraram pianos. Ao me encontrar no
corredor, sem maquiagem, perguntou onde estava a outra menina. Realmente me
permito tanto nessa fantasia que viro outra pessoa, ou me transformo em
verdade?
Letícia é bem similar a um primo meu, um
primo que eu tanto amo. Assim como com Rafael, com Letícia as brincadeiras
fluíam, e as vezes até o negar de uma brincadeira já era uma brincadeira. Será
possível em duas horas sentir o mesmo amor, que cultivo por Rafinha a sete
anos? Não sei bem a resposta, mas tenho certeza que Sebastiana era bem familiar
a Letícia, e a amava, da mesma forma que Lívia é com Rafael.
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