domingo, 12 de outubro de 2014

Familiar


   E de súbito me pareceram tão familiares, tão meus e eu tão deles... Hoje eu e Bufa fomos para a pediatria, ahhhhhh meu Deus pirralhos. Pirralhos gritam, eles são sinceros demais, amam ou odeiam demais, se entregam ou rejeitam demais... Será que vamos nos entender com eles? Será que eles vão nos entender... Estamos arrumados, energia, brilho, levanta o nariz, abre a porta para ver o mundo novo que está diante de ti...

    Olha lá um expedicionário, em seu cavalo de brinquedo, tão sozinho no corredor, será que ele quer ser um explorador conosco? Como se chama? Cauê. Quer explorar? E lá vem o brilho no olhar, o real significa de um sorriso e de uma entrega que tanto buscamos nesse projeto, estava lá naquele pequeno explorador. Cauê se jogava no vazio, entrava em todo o jogo, aprendia e ensinava. Se apresentava a árvore que era Bufa, aprendia com Bufa a esconder o carrinho no bolso e a perguntar a Sebastiana em qual mão está. Ia ver os outros exploradores conosco, não importava se as vezes ele não fosse o centro, Cauê era um ótimo Dedé. Que agonia ao olhar para o lado e ele não estar, fui displicente, deixei de encontrá-lo? E meu coração ficava menos apertado ao ver ele trazer seu carro, seu cavalo, para junto de nós.  

   Indo em rumo a novos exploradores vi um lindo olhar. Pedro Henrique chorava no colo do pai. Acho que com seus sete anos, sem poder falar, as vezes sua única forma de expressão era o choro. Ao chegar não sabia ao certo se ele me olhava, as lágrimas e a forma descontrolado com a qual mexia a cabeça me confundia, mas eu estava lá pegando na sua mão e chamando seu nome em todos os tons possíveis e em todos os locais, mais perto, mais longe, atrás dele.... Pedrooo, Pedrooooo. O choro parou. Vivaaa. O choro voltou. Pedroooo, Pedrooo. O choro parou. O choro voltou. E assim fomos por algumas vezes até que ele se acalmou e com sua forma de rir, olhava para mim com o que eu espero ser alegria. Nos encontramos novamente no quarto, dessa vez sem choro, eu e ele ficamos na nossa velha dinâmica, na nossa comunicação.

    Caleb, Caleb você me ensinou a sempre descobrir antes se vocês podem nos acompanhar.  Nosso fiel escudeiro Cauê vinha com se cavalo + Caleb queria brincar no cavalo + Ele não podia= Caleb chora muitooooooo. Confesso que não fui capaz de acalmar, Bufa é que encontrou a comunicação correta para tranquiliza-lo.

    Nesse mesmo quarto, estava a linda Aurora, com seu olhar sempre a nos encarando. Ela sempre esteve presente, atenta, mas sem reação. Sua timidez só foi quebrada no final da atuação, com uma brincadeira boba de esconde-esconde. Às vezes é bem mais fácil do que você pensar enxergar o sol.

    Nicole, o bebê que ri. Ela com seus poucos meses, quando Sebastiana chegou, e com ela se encontrou, riu. Sua mãe se iluminou. Imagina Sebastiana. Depois ela só ria com Bufa. Bufa e Sebastiana se iluminaram.

    Outro Pedro. Nenhuma palavra, só timidez, olhar atento, e um eterno sorriso. Que criança linda. Par mim virou estilista. Sua mãe assistiu nossa própria interpretação da programação do Silvio Santos. Foi muito divertido.

    O quarto 908. Ao chegar fomos avisados que deveríamos evitar entrar lá, já que a criança estava com suspeita de uma doença mais grave. Nas nossas andanças, eu e Bufa vimos um quarto aberto, da porta vi uma linda menina brincando no seu celular e segurando o inalador, ao seu lado sua mãe, cheguei e comece a falar algo aleatório, as vezes sua atenção era voltada para o celular. Perguntei o que ela tanto olhava, ela virou o celular e me mostrou o Pou. De repente éramos o Pou, eu era um cocô, e depois éramos um Pou novamente. Ao baixar a máscara Caio me pergunta se sei em que quarto eu entrei naquela hora, respondo que não, e ele me diz que foi no 908. Sei que fiz errado, mas por aquelas risadas lindas atrás daquele aparelho que cobria seu rosto, faria novamente.

     E por último, mas não menos importante, também conheci a linda Letícia. Sapeca, animada, agitada, cheia de vida, cheia de amor. Ela usou e abusou de mim, dos meus pés a minha cabeça, com ela e Bufa pulei, virei robô, bailarina, muitas coisas mais. Minha Sebastiana com ela sempre era completa, dos sapatos que faziam parte do meu pé e por isso era tão difícil tirar, a minha perna e meu braço que viraram pianos. Ao me encontrar no corredor, sem maquiagem, perguntou onde estava a outra menina. Realmente me permito tanto nessa fantasia que viro outra pessoa, ou me transformo em verdade?

    Letícia é bem similar a um primo meu, um primo que eu tanto amo. Assim como com Rafael, com Letícia as brincadeiras fluíam, e as vezes até o negar de uma brincadeira já era uma brincadeira. Será possível em duas horas sentir o mesmo amor, que cultivo por Rafinha a sete anos? Não sei bem a resposta, mas tenho certeza que Sebastiana era bem familiar a Letícia, e a amava, da mesma forma que Lívia é com Rafael.

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