Agora
ia começar, minha primeira atuação no hospital. Ela ia colocar a prova tantas
coisas, mas a mais importante delas era a capacidade de enxergar além dessa comissão
analítica que sempre vem na minha cabeça, que cobra tanto, as vezes de tão
pouco.
Fomos para lá eu e Bufaflor, de fato esse
menino já vem sendo o melhor companheiro do mundo para mim e minha família
local a muito tempo. Meu irmão doido, meu cunhado, minha forma de retribuir os
vários anos de bullying, definitivamente confiança nele não era o problema, o
fato era, eu ia ter confiança em mim, para ser para ele a melhor companheira do
mundo? Lá vem a maldita comissão analítica de novo.
Chegamos ao sétimo andar, nos apresentamos
e perguntamos se havia algum local onde podíamos nos trocar. Fomos para o local
de repouso dos enfermeiros e começou o processo de preparação. Encontra o
olhar. Acorda o corpo. Lá está o olhar do meu MCM, lembre se nada der certo, eu
ainda tenho esse olhar para encontrar.
Não
sabia ao certo, mas de repente eu sentia liberdade de ficar rodopiando ou me mexendo
sem sentir vergonha disso. Já fazia isso as vezes, mas sempre fugindo dos
olhares, agora não, não me importava, se vissem minhas caretas, meu corpo mais
solto. Quem fazia isto era Sebastiana, ou era Lívia? Não sei só sei que as duas
gostavam da liberdade. No primeiro quarto, o rapaz que encontramos parecia nos
ver e escutar, mas realmente não prestava atenção em nós. Ele reclamou da sua
alergia e como sua pele ficava toda vermelha, e falamos: “Olha para gente, a
cara toda vermelha, e estamos bem, e essa daqui não sai nunca.”. Ele riu. Algo
na televisão lhe chamou atenção. Ficamos ali também sem saber muito como competir
com aquilo. Nos despedimos, com muito gestos e palavras, e acho que sem nada
cativar.
Continuamos a seguir o caminho, vimos um
casal, e lá foi Sebastiana e Bufaflor pedir conselhos a eles. Sebastiana ficava
chorando com a esposa, e Bufaflor sendo defendido pelo homem. Ela foi aconselhada
a perdoar, a aceitar aquele abraço que Bufaflor queria dar. O casal ria, aconselhava,
consentia, as vezes se calava, mas algo os trazia de volta e eles novamente voltavam
a nos ensinar. Nos próximos encontros, Sebastiana foi literalmente cantada, o
moço quis até uma foto com ela. Seguindo, ela e Bufa encontraram um rapaz e seu
amigo, eles estavam caminhando pelo hospital, e assim fomos com um deles até o quarto.
Engraçado temos o mundo todo para explorar e isso não nos instiga, aquele
corredor era comemorado, por aquele moço, por ser tão grande.
No
quarto estava ele, o contador de histórias, seu Cícero. Como ele mesmo disse, ele não precisava de um nariz para fazer graça, aquele quarto já tinha
seu palhaço e nós fomos o suporte dele, rindo e instigando seu falatório, sua
rivalidade com a sua MCM. Nós riamos, por motivos estranho dançávamos, mas mais
do que tudo instigávamos seu Cícero, saímos para que ele pudesse falar mal de
nós, segundo a moças do quarto, nossa aparição ia render falatório para a noite
toda.
No
próximo quarto estavam três ótimas companheiras, elas tinham riso fácil, eram simpáticas,
disponíveis, uma delas era a enfermeira. Acho que seu nome era Aurilândia, não
sei escrever, nem pronunciar. Ela ria com tudo. O controle para acionar essa
felicidade e para a risada gostosa que emitia, segundo ela, Deus deu. Nós
tentamos acionar o controle várias vezes, quando menos tentávamos, era quando
ele realmente ligava. Nossa teoria é que ele estava no queixo. Sebastiana
apertou uma vez e ele ligou, vitória.
No
mesmo quarto estava Ivete e Arlete. Por mais que tentássemos, elas não queriam
nos encontrar. Ivete disse que já tinha conhecido palhaços melhores, que
cantavam e contavam histórias. Nos esforçamos, e as vezes até conseguíamos, mas
o controle de Ivete era difícil de achar. Queria seu Cícero para me ajudar a me
tornar esse contador de histórias que Ivete precisava.
A energia já estava diminuindo, quando Irani
chegou. O olhar dela era fácil de encontrar, ele era ávido por nós. Ela também
tinha muitas histórias para contar e tudo que fazíamos a deixava mais feliz. “Por
favor não vá, se forem vão me deixar tão triste”. Aguentamos o quanto podíamos,
mas uma hora a energia estava baixando e tivemos que nos despedir.
Na nossa saída, vi Arlete, sua seriedade que
sempre foi o que nos ofereceu, foi embora quando lembrei seu nome. Ela me
abraçou, e comecei a me perguntar, o motivo de antes não ter tido a capacidade
de encontrá-la.
É não ficamos no corredor Bufa, não ficamos
sós. Não sei se segunda fui uma palhaça, se fui somente Lívia, se criei jogos,
ou apenas conversei. A comissão analítica começou a questionar se realmente eu
fui boa no que me dispôs a fazer, mas eu lido com ela depois. O importante é
que tenho risos para contar, foras para contar também, erros, acertos, incapacidades,
facilidades, tenho muitas coisas para contar, e talvez quem sabe amanhã, eu
posso usar elas para fazer alguém mais feliz.
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