Jamais conseguirei descrever os pensamentos e sentimentos
que permearam a minha primeira atuação, desde o momento em que ela estava
acontecendo ate o antes e depois de ter acontecido... Mas vamo lá!
Nunca uma subida de elevador demorou tanto. Tentei manter um
semblante confiante, firme e sereno, exatamente aquele que me fez ser escolhido
por Gentileza pra ser o primeiro a subir no picadeiro, na nossa oficina de formação.
Dane-se. “Não negue o que estás sentido”; “entenda, respeite e controle seu
corpo”; “não esqueça de respirar”, pensei. E não sentia propriamente medo.
Sentia nervosismo, sensação de ser um passarinho jogado de uma arvore
gigantesca por sua mãe sem nem mesmo ter consciência da capacidade das próprias
asas. Sentia que ia ser tudo uma cagada.
E começou sendo. Eu e Gabi “cagamos” na maquiagem kkk (ainda
nos falta um pouco de pratica). Mas fizemos o melhor que pudemos (na maquiagem),
subimos nossa energia, respeitamos o tempo da subida da mascara, e fomos! No
primeiro quarto que visitamos, estava la Seu Severino (vulgo Seu Bil), sua
acompanhante e outra paciente que estava dormindo. No inicio, Seu Bil tinha uma
cara meio amarrada, e nós tentamos não invadir tão bruscamente o espaço dele.
Aos poucos, descobrimos pontos chave na nossa atuação: Ele trabalhava como pedreiro,
e tinha baixa capacidade visual (não sei ao certo o nivel). Em dado momento, veio
a ideia, então, de pedir ajuda dele pra construir uma casa imaginária! E eu e
Telma Tropicana construímos, e conseguimos arrancar alguns sorrisos daquele
senhor. Em dado momento, quando achamos que já era hora de ir e o avisamos, ele
soltou um “já vão?”. Impossivel não ficar um pouco mais.
No próximo quarto, havia uma infinidade de mulheres. E vou
dizer exatamente as mesmas palavras que
eu disse a todas elas, e recomendo a todos os leitores desse diário NUNCA
fazerem o mesmo: “eu preciso muito conquistar vocês, mas não sei como.”, e perguntei
a cada uma delas o que precisava fazer. Não vou ser duro demais; no balanço
geral, foi uma boa cartada! Eu e minha MCM dançamos, cantamos e jogamos com
todos do quarto, e foi incrível, ate tiraram fotos e gravaram vídeos da gente
(espero que ninguém nunca veja isso, inclusive eu kkkk!Foi o quarto em que mais
demoramos. Tivemos o cuidado de tentar não excluir ninguém, haja visto a
quantidade de gente la, e no fim, olhamos nos olhos de cada uma das pessoas e
as cumprimentamos individualmente. Nesse encontro, eu vi que elas estavam mais alegres
e que tinhamos conseguido de certo modo conquistá-las, inclusive queriam que
nós voltássemos no outro dia, e uma ate agradeceu por termos ido. Aquilo não teve
preço. Ahh, e por que eu recomendo a não fazerem o mesmo?? Por dois motivos. Porque
desse modo, no inicio, houve certo controle da plateia sobre nossa atuação, e
nós tivemos que acatar, até a gente conseguir tomar as rédeas de volta; não que
tena sido ruim, mas teve um momento que tivemos que cantar uma musica evangélica,
e todo mundo nessa hora ficou morgado, e aí que tivemos que intervir. E segundo,
porque em dado momento uma menina começou a falar mal da roupa do meu palhaço,
e eu me senti um pouco ofendido, mas não pude dar uma de “palhacinho hard core”
porque eu não podia arriscar não conquistar ela! Fui feito refém da minha própria
cartada! Tudo o que fiz foi dar uma risada irônica e ignorar, e a atuação continuou
sem problemas, mas em outros cenários talvez isso pudesse culminar em uma situação
chata pra dupla e pra própria plateia.
Quando saí do segundo quarto, estava já no limite da minha
energia. Minha namorada, por experiência própria, me disse que era terrível a sensação
de estar sem energia mas ainda com a mascara, e eu senti exatamente isso... Eu
e minha MCM tentávamos transmitir pelo olhar energia um ao outro, mas em dado
ponto era visível que estávamos bastante cansados. No terceiro quarto, as
pessoas estavam vendo televisão ou dormindo, e até estavam receptivas para nós,
mas eu simplesmente não conseguia fazer muita coisa. Conversamos com os
pacientes, tentamos transmitir nossa pouca energia pra eles da forma que
pudíamos. Ficamos pouco tempo. E, por
fim, visitamos a sala de diálise, que por si só é uma sala bem tensa. Confesso
que fiquei assustado logo de cara de ter mesmo que entrar ali, mas fui
arrastado por Telminha. Não sabia o que fazer la dentro: muitos estavam
dormindo ou com as caras fechadas, e a sala estavam bem fria e silenciosa.
Fizemos o simples. Individualmente, falamos com cada um dos habitantes daquele
lugar, pacientes e enfermeiros, e todos os que nos responderam ficaram alegres
em nos ver, e eu fiquei completamente surpreso com aquilo! Também não ficamos
muito tempo, mas fiquei satisfeito de ter usado até a ultima gota de energia
que me restava em prol das pessoas daquele setor.
Ao final, fomos pra salinha, nos trocamos e discutimos a intervenção
enquanto saíamos, e dávamos boa noite para os que estavam no corredor. Pra o
meu espanto, as pessoas que interagiram conosco não nos reconheceram, até que, já
no térreo, quando cumprimentamos a acompanhante de Seu Bil, ela desejou boa
noite, e fixou o olhar em nós. Quando já estávamos um pouco afastados, escutei
um “eita, são aqueles palhacinhos!”. Me senti
o foda. Me senti como o Bruce Wayne sem seu cinto de utilidades, ou o
Super-homem com seu terno e óculos usuais. Hahahaha. Que venha a segunda experiência;
Tonico Acochador e sua parceira Telma Tropicana estarão la para salvar o dia!
(ou não =P)
Nenhum comentário:
Postar um comentário