Querido diário de bordo,
É ao som de "Elephant gun" do Beirut, que venho te contar como foi a minha atuação do dia 20 de maio. Depois de ter enfrentado durante a semana toda, provas, relatórios, aulas e até bomba rojão (sim,DB, jogaram uma bomba rojão no CFCH! Mas tudo terminou bem), enfim, chega sexta feira!
Penso que atuar nas tardes de sexta é um desafio de resistência pois, passamos a semana toda correndo e na sexta ficamos acabados e sem energia. Essa sexta bateu o record. Pela manhã, tive prova de psiquiatria e, pra variar as coisas, cólica, muita cólica!
Passei o caminho refletindo sobre minha ida ao hospital: _porque eu estava indo se sentia dores e o cansaço tomava conta do meu corpo?
No meio do caminho tinha uma pedra...
Acredito que eu estava bastante vulnerável emocionalmente devido ao cansaço e as cólicas, mas, no meio do caminho senti um desanimo muito grande. As pedras no meio do caminho dessa semana eram justamente o cansaço e o desanimo, depois de tantas outras pedras que apareceram durante a semana inteira.
Cheguei no D.A de medicina e meu mcm estava lá me aguardando. Contei um pouco sobre minha canseira e então, Zé perguntou se eu queria ir embora para descansar. Mas, eu preferi atuar. Pensei nos possíveis encontros que teria, nas pessoas que estavam na enfermaria. Então, como a vida é feita de escolhas, eu escolhi encontrar.
Me pergunto: Como pode encher o copo com a jarra vazia? Como podia levar o que tem de melhor de mim para as pessoas, se eu me encontrava engolida pelo cansaço?
Ubuntu! Conheci essa palavra através da minha dentinho linda, Belinha, no semestre passado. Me recordei dela, pois, o ubuntu hoje foi com Zé na enfermaria 11 norte. Zé, com todos os seus valores humanísticos de amor e cuidado com o próximo, de ser generoso, compreendeu a dor que eu sentia e ao invés de me apressar para atuar logo, deitamos no beliche das enfermeiras enquanto falávamos da nossa semana ( Na verdade, ele estava dando um tempinho para aliviar a minha dor <3 obrigada, zé).
Faltava pouco para nós terminarmos de se arrumar e, uma enfermeira, também com cólica, entrou no quarto com outro enfermeiro para poder descansar. Então, eu e zé tivemos de finalizar juntos perto da privada. Sim, DB, foi no banheiro e ainda bem que estava cheirosinho! rsrs
Zefina e Virgulino começam a jogar de dentro do quarto mesmo e o nosso primeiro encontro foi com a enfermeira que sentia cólicas feito eu. Depois que saímos, encontramos as primeiras pessoas e, mais uma vez digo e repito: SOU MUITO MEQUETREFE NO INÍCIO DA ATUAÇÃO, SEM SABER O QUE FAZER, DIZER, AGIR. No entanto, aos poucos vamos nos aquecendo e deixando a espontaneidade aparecer. Como já tínhamos atuado nessa enfermaria, alguns funcionários nos reconheceram. Jogamos com os médicos e enfermeiros. Encontramos com duas mocinhas simpáticas que me negou uma mandala pra pintar hahah
No corredor, encontramos uma acompanhante de uma paciente e o encontro resumiu em um abraço quentinho. Conhecemos algumas pacientes que entendia de bucho de bode, de boi, de linguá de boi, cabeça, olhos, até os testículos do boi eles comiam! Minha nossa, coitado do boi. Um paciente mandou eu comer buchada de bode com limão e uma taça de vinho, ele disse que eu ia gostar. hehe
Percebi também que tinha muitas pessoas dessa enfermaria que não estava tão afim de nos receber. Ah, conhecemos o senhor Zangado. Esse senhor queixava-se de falta de paciência porque sentia muitas dores e porque, possivelmente, iria fazer uma cirurgia de próstata. Fiquei feliz pois, ainda que seu Zangado não tivesse Zangado, ele deixou o encontro acontecer e se despediu com um aperto de mão. (Fiquei torcendo pra que tudo dê certo com ele)
Ajudamos a uma mulher encontrar a sala de serviço social, encontramos, mas a sala estava fechada, não tinha ninguém. Eu e Virgulino encontramos a sala onde guarda os alimentos hehe mas dessa vez, não tivemos a mesma sorte de ganhar lanchinhos! hahah
Só sei que, acabamos indo para a enfermaria Sul, Clínica médica. Caramba, foi sensacional.
Jogamos com umas pessoas que estava no primeiro quarto, foi bem divertido. Então, pelo corredor, apareceu um chinês de verdade, DB!!!! Ele falava coisas como "ARIGATÔ" e tinha uns olhinhos puxados e muuuuuuiiiitooooo sorridente! Tentei falar em Japonês mas não consegui, a comunicação foi em mimica mesmo. hahha foi maaaassaaaa!
Esse homem, que aqui chamarei de "Arigatô do Riso", estava visitando o seu filho que se encontra internado nesse enfermaria. Não sei como aquele seu Arigatô do Riso se encontrava naquele momento, o seu filho parecia bem doente e eles nem falavam português. O nosso encontro aconteceu de uma forma espontânea e rápida. Apenas risos e gestos. Arigatô do riso parecia feliz com o encontro e eu fiquei mais feliz ainda.
DB, são muitos encontros e momentos, não daria para falar de todos aqui mas, irei finalizar as minhas peripécias, falando de um encontro. O encontro com um velhinho simpático que aqui o chamarei de "ÉdosMói". Édosmói, é um senhor magrinho, sem dentes e muuuuito bem humorado. Eu e Virgulino nos aproximamos da porta desse quarto e além de Édosmói, estava a família dele. Batemos um papo divertido e quando eu e Virgulino ia entrar no quarto.... ÊÊPAAAA, pra entrar tem que ter dinheiro e eu tô ligado que vocês tem os mói no bolso porque eu fiquei sabendo que aquele cara lá, uuuuu.... comé o nome dele mesmo?! é... TEMER! Ele deu dinheiro pra vocês_diz seu Édosmói.
A mim mesmo não! Virgulino logo procura se tem dinheiro no bolso e zefina nem bolso tinha! hahah
Mas, Édosmói diz que cada pessoa tem seus mói. Então eu perguntei se ele tinha os mói. Ele disse que sim, disse que tinha uns mói de exames, receitas e prontuários no balção das enfermeiras. Nesse momento, o riso banguelo e humorado do seu Édosmói, a gargalhada avacalhada de Zefina e várias outras risadas ecoaram por todo corredor daquela enfermaria. Dessa forma, bateu uma curiosidade de saber qual era os mói dos outros, já que, segundo Édosmói, cada um tinha o seu. Uns tinham os mói de vento, outros de conta de cartão de crédito, ainda outros tinham uns mói de dores, de risos banguelos! hehe
Zefina adora demonstrar seu talento para a música internacional e então seu Édosmói e mais umas pessoas apreciaram a boa e afinada tonalidade de zefina falafina. Édosmós admirou o meu inglês, claro! Disse que eu podia tentar cantar no the voice. Então, perguntei que música eu cantaria. Então pensamos: ÉÉÉÉÉ... qual música seria... ééééé qual música Édosmói? ééé! Isso mesmo, Édosmói!!! A música vai ser ÉÉÉ... ÉÉÉ... É,É,É,É,....ÉÉÉÉ... dAÍ, Édosmói responde: ÉÉÉÉÉÉÉ
Não sei bem o que estava acontecendo mas cada "ÉÉÉÉ" que dizíamos antes de dizer qualquer coisa, caíamos na risada.
Eu ainda perguntei a Édosmói o que eu faria se não fosse selecionada para o the voice. Ele respondeu mais ou menos o seguinte: Todos os dias é dia de SEMPRE recomeçar. Amanhã, eu receberei alta e digo que vou recomeçar a minha vida.
Na camisa de Édosmói, tinha escrito algo parecido com "Recomeçar a Vida".
Quando nos despedimos, Édosmói me deu um livro de presente, disse que era para melhorar meu inglês. kkkkkkk
Eu retornei com Virgulino à enfermaria norte, com uma sensação de satisfação. Ainda encontramos umas mulheres perfumadas no corredor. Eu comentei do perfume delas e disse que o meu já tinha vencido,estava cheirosa não. Daí, uma delas falou: O seu perfume de agora, está misturado com sua vida. Você passa o perfume de manhã e vai misturando ele com sua vida cotidiana.
Então quer dizer que no final do dia a gente cheira a nós mesmos, a gente, a vida. E.... pode ter certeza, DB, as vezes a vida fede. Mas é necessário... Um momento a gente toma um banho, e renovamos tudo, daí quando percebi, a minha jarra estava cheia.
Com amor, Zefina falafina!