domingo, 17 de abril de 2016

Namastê, dona Sebastiana de Lima!

11º andar Norte, Setor de Oncologia. Não tinha me sentido muito à vontade quando descobri que ia atuar nesse setor na primeira vez, iniciar jogos com pessoas que, muitas vezes, estavam sentindo muita dor, ou pessoas que estavam na fase terminal da doença. Eu sei que todos os setores podem ter situações como essas, mas a palavra "câncer" ainda assusta (e muito) as pessoas. Sem falar no fato de que um quadro desses tira a esperança de muitas pessoas. Enfim, era a terceira vez que eu iria atuar lá e ainda não havia me 'acostumado' a essa situação.

Logo depois que levantamos o nariz, tentamos abrir a porta. Sim, tentamos, pois ela estava trancada. Logo ao sairmos, fomos falar imediatamente com a danadinha, Ana Rayssa, uma das enfermeiras, que foi quem nos trancou. Diz ela que foi sem querer, eu duvido!

O nosso primeiro encontro foi com dona Fabiana e com dona Guiomar que dividia o quarto com ela. Elas ficaram muito felizes em nos ver. Dessa vez eu não fui tão má com Luigi, acho que estou me acostumando ao jeito afoito dele hehehhe.

Em nosso percurso para o próximo quarto, encontramos um quadro com os nomes dos pacientes e o quarto correspondente a eles. Dois deles nos chamaram atenção, havia escrito "Morfina BIC". As enfermeiras (Ana e Ana Rayssa, sim, duas Ana's) nos explicaram que estes eram pacientes terminais (uma senhorinha e um senhorzinho) e que estavam recebendo morfina constantemente para diminuir a dor. De acordo com Ana Rayssa: "É só uma questão de tempo, sabe? A morfina é só para que eles não sintam dor até a hora chegar...". Achei muito estranho olhar para pessoas que em pouco tempo não estariam mais ali. Nunca tinha passado por isso antes.

Encontramos Chimbinha (ainda não sei qual é o nome dele), enfermeiro do setor, eu já o encontrei em uma outra atuação, lembra, Emílio? Ele até me chamava de Thábata hahhahaha. Nesse momento encontramos outro enfermeiro e por algum motivo que eu não me recordo no momento, começamos a cantar 'Three Little Birds' de Bob Marley, sabe qual é, né? Claro que sabe, todo mundo conhece essa música: "Cause every little thing gonna be all right...". Lembrou, não foi?

No quarto seguinte, encontramos seu Osvaldo e seu Lucas (acompanhante), e um senhor que eu não consegui entender o nome e sua esposa, Lindomar. Seu Lucas era uma alegria só, entrava em todos os jogos que fazíamos, foi um dos que mais riu nesse dia. Seu Osvaldo, homem de poucas palavras, se comunicava mais com o olhar e com expressões hehehehe, uma figura! Já o senhor que estava no quarto com ele, não falava nada, mas víamos pelo olhar dele a vontade de participar. 

Depois de muitas risadas neste quarto, seu Lucas disse que precisava sair e a gente disse que ia escoltá-lo até o elevador, pois havia uma senhora muito suspeita que estava planejando sequestrá-lo. Ao chegarmos na "conexão" entre o setor Norte e Sul,encontramos Wanda e Csomo (não, mentira, não lembro o nome da funcionária que estava com ela) e imediatamente começamos a cantar a música de Padrinhos Mágicos (com direito a coreografia, claro). Depois da nossa performance, percebemos que a ala Sul, estava muito movimentada. O que estava acontecendo ali? Logo descobrimos que era um bingo! Corremos para ela e gritamos: "BINGOOOO!", não podíamos perder essa oportunidade! Ao chegar lá, descobrimos que O Caminho era o responsável pelo bingo. Toda vez que tentávamos iniciar um jogo, eles nos davam um fora ou nos ignoravam. "Eiii, a gente quer jogar também! Cadê a nossa cartela?", e uma das organizadoras respondeu: "É só para os pacientes". "Você está jogando e não é uma paciente!!!!!" e ela me ignorou... Percebemos que nós não éramos bem-vindos ali. Eu sei que tem dias que o setor 'pertence' a outros projetos de extensão e tal e que devemos respeitar isso, mas precisavam nos tratar desse jeito? Eu me pergunto, se um projeto de extensão com a proposta de humanizar destrata outro projeto com uma proposta semelhante, ele é humanizador de verdade? De que adianta tratar bem os pacientes e funcionários de um hospital e não fazer o mesmo com integrantes de outro projeto? Obviamente que depois desse momento "peeeeem" que poderia ter sido um "uaaaaau", nós voltamos ao nosso setor. Na saída da ala Sul, encontramos um dos ganhadores do bingo, ele segurava um pacote, parecia ser algo macio, como uma roupa, lençol, ou algo assim. Eu disse logo que era uma calcinha! Óbvio! Todos precisam de uma! Mas infelizmente era uma toalha, quem precisa de toalha, gente?

Ao chegarmos no nosso amado setor, encontramos dona Maria Rita e dona Adriana (Calcanhoto). Dona Maria Rita disse que não cantava, mas que sua acompanhante arrasava. Pedimos para ela cantar e não obtivemos sucesso. Dona Adriana (Calcanhoto), que era acompanhante da outra paciente, também disse que não sabia cantar!!! Como assim, gente??? Duas ilustríssimas cantoras no mesmo quarto e ninguém ia cantar?!?! Não podíamos deixar isso acontecer e logo em seguida começamos uma cantoria com direito a coreografia, óóóóbvio!!!! Cantamos "Devolva-me" de Adriana Calcanhoto (1/3 da letra e muito mal, porque ninguém lembrava da letra direito), "Borboletas" de Victor e Leo (essa foi pior ainda, porque Chayenne e Luigi sabem nada de sertanejo) e "Cinco Patinhos" de Xuxa (essa teve a melhor letra e melhor coreografia). Tentamos cantar outras, mas só vinha Legião Urbana na cabeça e músicas como: "Que país é esse?" (devido à atual situação política que vivemos, melhor não), "Faroeste Caboclo" (se cantássemos só sairíamos do HC no dia seguinte) e "Mais Uma Vez" (cantar essa música logo no setor de Onco não era a melhor opção mesmo). Depois dessas sugestões, achamos melhor parar por aí.

No último quarto que a gente foi, encontramos dona Maria Auxiliadora, mais conhecida como Dora. Uma figura! Estava prestes a realizar uma cirurgia muito complicada  devido a um problema raro que ela tem. Ela disse que ia ficar famosa se desse tudo certo, espero que ela se torne mesmo uma celebridade! Ela comentou que sentia muita saudade de casa, dos cachorros Bob (o branquinho que ela tanto ama) e Fox.

Depois de uma longa conversa com dona Dora, achamos melhor ir embora. Já estava tarde, infelizmente. Que atuação gostosa, fluiu muito bem, apesar de alguns momentos bem chatos. Acho que depois dessa quinta, não ficaria tão tensa para atuar nesse setor maravilhoso.

PS: No dia seguinte, na sexta-feira, devido a um trabalho da faculdade, uns colegas visitaram o setor de Oncologia para realizar uma entrevista com a psicóloga de lá. Porém não puderam falar com ela, pois o clima estava muito tenso naquele lugar. Uma pessoa havia falecido. Logo que descobri, fui correndo para lá. Olho pro quadro e vejo o nome de dona Sebastiana de Lima com um coração em volta. Olho para o seu quarto e vejo uma cama vazia. Não tivemos a oportunidade de conhecê-la, não não tivemos a oportunidade de falar com ela, não tivemos a oportunidade de encontrá-la, mas gostaria de dedicar esse Diário de Bordo a ela, à família dela, a todas as histórias maravilhosas que ela viveu e aos inúmeros encontros que ela vivenciou. Namastê, dona Sebastiana de Lima!

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