Enfim
a tão esperada segunda atuação chegou. Sentia-me mais ansiosa do que para a
primeira atuação. O frio na barriga não passava, mas esse medo se transformou
em muita energia e intensidade quando chegamos ao setor. Novamente o primeiro obstáculo: a maquiagem.
Eu e Melca, como garotas que somos, não temos competência para contornar as
sobrancelhas e por o pancake vermelho. Hora de subir energia: olhos nos olhos, “vai
ser incrível”, “vai ser 100%”, máscara no rosto e lá fomos nós. No primeiro
quarto encontramos a primeira coincidência do dia: três Graças no mesmo quarto!
Claramente eu quis ser a Graça D e Isolda, como sempre se acha única e
especial, quis ser a diferentona e não se tornou a Graça E (-.-). Quando
seguimos para o segundo quarto encontramos Sr. Belmiro, QUE encontro. Passamos
muito muito tempo com ele e sua esposa. Surgiram jogos e conversas incríveis.
Sr. Belmiro sonhava em participar da política e na nossa presença ele
discursava como tal, foi muito bonita a intensidade com a qual ele interagiu
conosco. Enquanto isso sua esposa o reprovava por assumir o personagem de
candidato politico daquela maneira. Depois Sr Belmiro determinou: ser palhaço
não dá dinheiro. Isolda deveria ser prefeita ou promotora, já que é uma mulher
forte, que iria colocar moral na máquina pública (#medo). Quanto a mim, devo
estudar para ser juíza. Fizemos até o ensaio de como vai ser minha chegada ao
fórum: nariz empinado, sem falar com os subalternos, sem as roupas bregas que
eu vestia (L) e
usando meu carimbo para impor ordem. Hora de determinar os títulos:
Meretríssima Vendaval (Meretriz + Meritíssima), e Dra. Isolda (escrito em
japonês). A esposa de Sr. Belmiro nos presenteou com nossos nomes traduzidos
para o japonês, o meu nome seria Rututotekarukata. O desafio era conseguir
falar esse nome rápido, infelizmente ninguém conseguiu. Surgiram tantas
conversas e jogos com esse casal que não me lembro detalhadamente de todos
eles, mas sempre levarei comigo a sensação de gratidão e felicidade com a qual
saí daquele quarto. Sr. Belmiro e sua esposa nos agradeceram no final por
passar tanto tempo com eles e pelo trabalho que realizamos no setor, mas na
verdade eu que sinto gratidão por eles estarem abertos para nos encontrar e nos
mostrar como os momentos de felicidade são tão simples e até mesmo fáceis de
viver. Seguimos para outro quarto, onde encontramos um jovem de São José do
Egito e o nosso assunto foi comida do interior (naquele momento a fome foi
real). OBS.: Agora enquanto escrevo ainda
sinto a vontade de comer uma buchada de bode. Nesse quarto finalmente
recebi meu primeiro elogio em atuações, já estava cansada de ser chamada de
feia e pouco atraente. Depois, conhecemos Lucrécio e Adenor, mas foram as
acompanhantes que realmente estavam abertas para nós duas. Elas não queriam nos
contar as fofocas de corredor e sempre que olhavam pra a gente riam sem parar,
elas foram muito fofas. Seguimos para o próximo quarto, no qual ficamos o tempo
que nos restava de atuação. Dona Vera nos contou histórias de sua juventude e
nos ensinou como identificar uma amiga falsa. Além disso, a melhor parte foi ela
contando como pegou o marido com a amante. Ela contou a história com uma
riqueza de detalhes que eu nunca tinha visto antes. Os olhos de Isolda
brilhavam com a história e, apesar de estar como ouvinte, meu corpo pulsava de
adrenalina enquanto ela contava o ocorrido. Foi realmente impressionante.
Depois de encerrar sua história, encontramos com a outra senhora do quarto,
Dona Generosa, que por coincidência deu oito facadas em seu marido. Aquele leito
realmente era para os fortes. A enfermeira chegou para aplicar medicações e
achamos por bem seguir para outros espaços. Infelizmente quando olhei para o
corredor o jantar já estava sendo servido. Eu nem acreditei, ainda tinham
tantos espaços e tantas pessoas ali, minha energia estava tão alta, foi triste
caminhar até o vestiário. Quando olhei para a porta do vestiário dos técnicos
fiquei muito triste, porque por um momento pensei que aquilo seria o fim dos
encontros e que eu só viveria aquilo na próxima semana. Quando desci a máscara,
percebi que eu estava errada. Os encontros podem ser parte da nossa vida
cotidiana. Agora me sinto bastante grata a essa segunda atuação, que muito
contribuiu para minha construção e o reconhecimento de mim mesma enquanto palhaço.
Um comentário:
- essas são ótimas oportunidades pra treinar esse lado feminino kkkkk
- olha, quero saber mais dessas histórias das facadas e da traição
- fiquei na curiosidade de saber qual foi o elogio também
- a gente nunca deixa de encontrar e de se encontrar, basta se permitir...
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