O dia hoje foi na parte de quimioterapia da onco. Como sempre é uma surpresa cada setor novo, mas como todo mundo que foi tinha adorado, ficamos bem animados. Chegamos de mansinho, pegamos a chave do vestiário, nos trocamos e começamos! A gente já saiu do quarto jogando com uma senhora que estava indo ao banheiro. A gente ficou brincando dizendo que ela estava demorando a sair e que eu queria usar o banheiro também e ficamos batendo na porta e esperando até ela sair. Aí depois ficamos na entrada do setor olhando as pessoas e buscando um olhar acolhedor. Eis que surgiu no meio de todos um olhar brilhante e um sorriso largo de uma moça acompanhante de sua sogra que estava em tratamento. Ela sorriu logo que nos viu, e fomos ao seu encontro. Quando chegamos, a vimos cheia de sacolas, e a apelidamos de Risolinda Paraguaia, e brincamos com ela sobre o seu nome, pedindo para que se apresentasse com alto em bom som. Ela só fazia rir e não conseguia falar e a sua sogra também sorriu. Brincamos também a respeito do conteúdo das sacolas, perguntando se ela tinha trazido presentes para nós ou para sua sogra, e que ela era egoísta e pirangueira por não ter trazido nada pra ninguém. Depois de um tempo com ela, fomos interagir com a senhora e teve um momento que foi o mais marcante, quando ficamos olhando a senhorinha por um bom tempo sem falar uma palavra, e os olhos dela começaram a ficar marejados e um olhar talvez triste por sua situação ou talvez feliz por ter alguém que a olhasse nos olhos e prestasse atenção neles. Acabamos de atuar com ela e saímos de fininho depois desse olhar. Não me lembro ao certo a ordem, mas depois vimos um senhorzinho bem carequinha e sem sobrancelha que estava sentado sozinho no canto da parede. A gente chegou dando um "legal" e esperou ele responder. Depois fizemos uma "batalha de legais", onde eu e Arcanjo nos preparávamos para jogar o melhor legal e ele e outro do lado dele aprovavam ou não. E Fomos conversar primeiro com esse senhorzinho que falei acima e ele nos recebeu muito bem, nos contou sobre seus filhos e sua esposa, a qual não o deixou mesmo depois da doença, disse que era jogador de futebol quando jovem e nós o deixamos contar sobre os fatos de sua vida olhando-o nos olhou enquanto ele desviava com vergonha algumas vezes. Conversamos com ele bastante tempo e depois fomos conversar com o senhor ao lado, muuuuuito sorridente e que estava comendo uma laranja e me ofereceu enquanto estava no encontro anterior e eu agradeci. Quando então fui falar com ele, comecei pedindo a laranja que ele tinha me oferecido, e ele disse que tinha mais, mas eu falei que queria exatamente aquela que ele tinha me oferecido e com isso fomos brincando com ele. A sua mulher estava com ele e ficou brincando também dizendo que não tinha ciúmes porque eu não iria querer um velho daquele kkkk e ficou conversando com a gente. Mostraram fotos dos seus filhos e netos, e a gente saiu da conversa já incluídos na família, tendo pretendente pros dois! Nós saímos dizendo que eles contassem pros seus netos que eles já estavam comprometidos conosco e tudo correu bem. Até aí os encontros foram fluindo, mas sempre muito difícil. Era complicado jogar com um enquanto todos os outros ao redor olhavam, e a gente tendo que "individualizar" casa encontro. Além disso, a equipe não estava muito "receptiva", tentamos falar com eles algumas vezes mas nos ignoraram...
Enfim, encontramos a seguir Dona Nazaré. Começamos brincando com seu nome, dizendo que era igual ao da vilã de uma novela, e ela logo entrou no jogo brincando dizendo que podia conversar com a gente mas que não confiássemos porque se tivesse uma escada por perto ela poderia mudar de opinião. A conversa com ela foi muito boa, ela se mostrou uma senhora muito tranquila, nos deu conselhos que o ciúme estraga tudo na vida e nos mostrou que devemos dar valor a coisas importantes na vida, analisando sua limitação e impossibilidade de realizar tantas coisas... ela nos falou da relação com seu marido, que ele sai e se diverte e ela não dá mais importância... Percebia-se o que mais importava para ela agora que era sua saúde, esses detalhes de vida amorosa não tinham mais valor para ela. Ela ficava o tempo inteiro cuspindo dentro de um lixeiro ao seu lado, além de usar máscara e um chapéu pra proteger a cabecinha careca. Essa imagem dela me deixou triste mostrando sua limitação física apesar do espírito e cabeç jovens que ela tinha. É muito legal ter experiências assim que nos fazem olhar para nossa vida, para o que nós reclamamos tanto e fazer-nos reconhecer o quanto Deus é bom com a gente nos dando saúde...
Logo no começo da atuação vimos um menino no telefone, muito jovem, cabeludo, e tentamos brincar com ele mas ele estava em ligação. Quando estávamos falando com D. Nazaré, enfim ele acabou a ligação e enquanto conversávamos com ela que estava ao seu lado, brincávamos sem deixar que ele ouvisse nossa conversa com ela. Achei legal porque por mais que estivéssemos tentando fazer "encontros privados", conseguimos coloca-lo no jogo e mesmo assim continuar jogando com D. Nazaré. Quando enfim acabamos a atuação com ela, fomos falar com esse menino, falando que ele estava falando com as namoradas e não deu atenção pra gente e tal, então perguntamos o que ele estava falando e ele contou que era a programação para o carnaval em Tamandaré, dizendo que "agora preciso aproveitar, né?!" E essa foi a pior parte da atuação pra mim pq me vi no lugar dele, jovem, alegre, com vontade de viver e condenado por uma doença traiçoeira... isso apertou meu coração, mas então tentamos fazer o que tínhamos que fazer ali: deixar ele um pouquinho mais feliz! Então como sempre muito inxiridos, nos convidamos para ir curtir o carnaval com ele, e usamos um jogo que eu ADORO que é quando Arcanjo dá seu número de telefone. Dessa vez foi melhor por esse menino estava realmente acreditamos que queríamos ir, e começou a anotar o número kkkkkkk aí Arcanjo começou "zero, zero..." aí o menino fez uma cara de desentendimento, sem entender de onde ele vinha com esse número de telefone começando por zero. Aí arcanjo disse que era do país que ele tava morando que agora nem lembro qual foi... então continuou "9,9,8,7,1,9,9,0,0"sei lá q sequência que ele usou, mas foi algo assim e o menino anotando, e eu rindo da cara dele... foi massa! O menino anotou e disse que iria mandar o endereço e combinar o horário que sairíamos... depois começamos a falar de comida, criamos o nome do nosso grupo do WhatsApp já que gostávamos de Cuscuz com ketchup, falamos da namorada dele, enfim, foi o melhor encontro do dia, apesar da dificuldade da atuação devido ao espaço, e na saída Ainda encontramos sua mãe que estava chegando, que disse que era sua mãe e se mostrou muito feliz por estarmos lá com ele e que entrou no jogo mesmo dizendo que faria as comidas para a gente comer na viagem e que éramos muito bem vindo e tal. Foi um encontro muito especial. No mais, achei que o local me deixou um pouco insegura, visto que além da gravidade do problema deles e pelo fato de estarem ali por apenas alguns momentos, não ser como na enfermaria que ficam internados ali muitas vezes sozinhos e sem companhia, ou talvez tenha sido impressão minha mesmo, depois de ter conversado com Dinho, mas achei mais difícil do que na enfermaria. Nesta me sinto mais confortável, também porque as pessoas só nos veem quando chegamos em seus quartos, então a magia acontece assim que chegamos para falar com eles, lá na quimio todos já tinham nos visto chegar... estão o elemento surpresa não ocorreu para os que não foram os primeiros... espero que tenhamos conseguido deixar aquele tempinho um pouco menos pesado para eles, pelo menos para esse último garoto que conversamos, acredito que tenha sido muito bom para ele. E só de ter feito ele rir bastante acho que já valeu o dia.
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