Querido DB eletrônico,
Na sexta eu acordei praticamente
sem voz L
Resolvi ficar em casa pela manhã para ver se na hora da atuação estaria melhor.
Chegada a hora, minha voz ainda não estava lá essas coisas, mas estava
melhorando. Ainda tinha cogitado tentar fazer uma atuação estilo o picadeiro de
Caba... mas dada a minha experiência de
apenas duas atuações fiquei com medo de que não conseguisse, e seria muita
ousadia minha pensar que conseguiria fazer algo tão incrível quanto aquele
picadeiro. Tentei pensar em outras soluções mas lembrei das palavras de
Gentileza que não cansava de repetir: “ se planejar, VAI dar errado”. Então fui
com medo mesmo, me jogando no vazio, mas lembrar que minha MCM estaria lá
comigo já foi de grande ajuda. Me encontrei com Madada e fomos para o 10° andar,
ala sul, do HC.
Chegamos no andar, colocamos
nossas peles, subimos a energia... eu tentei, tentei muito, mas não consegui
meu 100%. Não consegui deixar toda ansiedade de lá fora, lá fora mesmo, mas
acredito que consegui o máximo para aquele momento.
Caminhando pelo corredor logo
percebemos que quase todos os pacientes estavam dormindo! Encontramos em um dos
primeiros quartos uma senhorinha e outra mulher que estavam acordadas, mas
fiquei na dúvida se deveríamos entrar ou não. A senhorinha parecia estar aberta
ao jogo, a outra paciente não. Tentamos devagarzinho, e a acompanhante da outra
paciente perguntou se a senhorinha queria que a gente entrasse, primeiro ela
disse que não, mas depois pediu para que a gente voltasse. No início, eu estava
com um pouco de receio de falar e minha voz falhar, então Risoleta me
apresentou, mas ao chegarmos mais perto da senhorinha, Dona Alzira, percebi que
sua voz era quase tão fraquinha quanto a minha estava naquele momento. Vendo
seu esforço para falar com a gente, me esforcei também, e fiquei conversando
baixinho com ela. Dona Alzira tem 50 filhos, todos eles grandes, bem maiores
que a gente, que somos pequenas, e que mora em Dois Irmãos, bairro onde todos
parecem ter dois irmãos. Perto da casa dela tem um açude, com muitos peixes e
plantas pra onde ela gosta de ir. Ela também tem muitos netinhos. Nossa
conversa não durou muito porque a outra paciente precisava se trocar, então,
nos despedimos e saímos.
Caminhando pelo corredor vimos
que era um dos corredores mais bonitos do HC, cheio de decorações, mas não
tinha ninguém para apreciá-las, todos estavam dormindo! Nos dirigimos então
para o setor de reclamações do andar onde fizemos a notificação desse absurdo.
O responsável pelo setor nos disse que era porque todos haviam acabado de
comer, e que ele colocava um pozinho na comida dos pacientes para que eles
dormissem – pausa para risada diabólica. Ficamos boquiabertas com seu plano do
mal de fazer com que não tivesse nenhum paciente para conversar com a gente!
Oferecemos a ele um nariz digno de sua maldade, mas ele disse que preferia o seu
nariz porque não era tão mal. Registrada a reclamação, continuamos a nossa
busca.
Dormindo, dormindo, dormindo,
olha! Achamos um acordado. Será que estava mesmo? Fomos conferir, na pontinha
dos pés, para não acordar seu acompanhante que estava #desmaiado ao seu lado.
Seu Edgar havia acordado a pouco, ele nos disse que seu pé havia voltado a doer.
Perguntamos se ele havia dado de comer para ele, porque sabíamos que se o pé
comesse ele iria dormir. Seu Edgar disse que sim, mas que o seu pé já estava
com fome de mais remédio. Chegamos então a conclusão de que os pacientes eram
colocados pra dormir até a hora do lanche, quando eles comiam e dormiam de
novo, e assim a gente ia ficando sem ter com quem conversar e o plano do mal ia
dando certo. Daqui a pouco Alexandre (o acompanhante) acordou, conversamos um
pouco com ele também, mas logo depois nos despedimos e fomos procurar algum outro
quarto. Tentamos entrar em mais um ou dois, mas as pessoas não pareceram
abertas ao jogo. Outras portas estavam fechadas, mais pacientes dormindo... E
foi aí que viramos estátuas. Ficamos paradas ao lado da decoração do corredor,
mas ninguém apareceu L
Voltamos então ao setor de reclamações para registrar outra reclamação. Dessa
vez o autor do plano do mal não estava, mas conhecemos a mulher da limpeza com
uma linda touca de joaninhas mas que não deixou a gente ajudá-la a limpar o
corredor, já que estávamos sem ter o que fazer, e nem deixou Risoleta andar no
carrinho de limpeza – aaaaah. Fizemos então a reclamação para um homem que
estava com um caderninho que parecia de registros de reclamações, e contamos a
ele que até conversar com as estátuas nós havíamos conversado. Ele foi com a
gente ver as estátuas que falavam, mas não acreditou que o Padre Cícero estava
perguntando o nome dele! Ele nos disse que podíamos tentar conversar com umas
pessoas que estavam assistindo televisão, mas logo quando passamos por ela
percebemos que não estavam abertas ao jogo.
Nesse ponto, já estava bem difícil
conseguir manter a energia alta, mas ainda tentamos procurar mais algum quarto.
Achamos então o quarto de Rose e Vera, que haviam acabado de acordar. Elas nos
contaram que eram de um time de futebol, uma a goleira, que havia machucado o
braço, e a outra a atacante, que havia machucado a perna. Mas, elas não eram de
um time de futebol qualquer, era de um time no qual o gol era um toboágua e a
bola era um paralelepípedo! Descobrimos ainda que Rose havia sido eleita Miss
HC, com direito a faixa e tudo, e lhe oferecemos um nariz digno de Miss. Ela
adorou o nariz, e saiu mostrando para todos a sua plástica nova. Tentamos
arranjar um chapéu para finalizar seu look de bruxa mas não achamos. Quando
Risoleta perguntou de uma colcha de tigre que estava em sua cama, Miss Rose nos
contou dos seus grandes feitos antes de chegar no HC, ela nos disse que apesar
de estar com muita febre matou uma onça que tinha tentado atacar as pessoas, e,
para o bem de todos, transformou ela em uma colcha. Perguntei se ela tinha
feito o mesmo com calça de Vera de pele de tigre e ela disse que sim. Ficamos
impressionadas! Daqui a pouco chegou a moça do lanche, e alertamos para que
elas tivessem cuidado, pois o lanche provavelmente as colocaria para dormir de
novo. Perguntamos o que a moça do lanche havia achado da plástica de Miss Rose
e ela disse que preferia do outro jeito, concluímos que foi puro recalque! A
moça da touca de joaninha adorou. Rose nos contou ainda que havia recebido
visita de alguns de nossos primos e que eles que a tinha elegido Miss. Pouco
tempo depois nos despedimos também, para que elas pudessem lanchar.Demos mais uma andada pelo corredor mas vimos
que o lanche já estava fazendo efeito, e que os pacientes já estavam todos
dormindo de novo. Resolvemos ir dormir também e então fomos atrás da chavezinha
para colocarmos nossos pijamas. Descemos a energia e acabou.
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