quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Prazer, Meretrissíma Vendaval!

Enfim a tão esperada segunda atuação chegou. Sentia-me mais ansiosa do que para a primeira atuação. O frio na barriga não passava, mas esse medo se transformou em muita energia e intensidade quando chegamos ao setor.  Novamente o primeiro obstáculo: a maquiagem. Eu e Melca, como garotas que somos, não temos competência para contornar as sobrancelhas e por o pancake vermelho. Hora de subir energia: olhos nos olhos, “vai ser incrível”, “vai ser 100%”, máscara no rosto e lá fomos nós. No primeiro quarto encontramos a primeira coincidência do dia: três Graças no mesmo quarto! Claramente eu quis ser a Graça D e Isolda, como sempre se acha única e especial, quis ser a diferentona e não se tornou a Graça E (-.-). Quando seguimos para o segundo quarto encontramos Sr. Belmiro, QUE encontro. Passamos muito muito tempo com ele e sua esposa. Surgiram jogos e conversas incríveis. Sr. Belmiro sonhava em participar da política e na nossa presença ele discursava como tal, foi muito bonita a intensidade com a qual ele interagiu conosco. Enquanto isso sua esposa o reprovava por assumir o personagem de candidato politico daquela maneira. Depois Sr Belmiro determinou: ser palhaço não dá dinheiro. Isolda deveria ser prefeita ou promotora, já que é uma mulher forte, que iria colocar moral na máquina pública (#medo). Quanto a mim, devo estudar para ser juíza. Fizemos até o ensaio de como vai ser minha chegada ao fórum: nariz empinado, sem falar com os subalternos, sem as roupas bregas que eu vestia (L) e usando meu carimbo para impor ordem. Hora de determinar os títulos: Meretríssima Vendaval (Meretriz + Meritíssima), e Dra. Isolda (escrito em japonês). A esposa de Sr. Belmiro nos presenteou com nossos nomes traduzidos para o japonês, o meu nome seria Rututotekarukata. O desafio era conseguir falar esse nome rápido, infelizmente ninguém conseguiu. Surgiram tantas conversas e jogos com esse casal que não me lembro detalhadamente de todos eles, mas sempre levarei comigo a sensação de gratidão e felicidade com a qual saí daquele quarto. Sr. Belmiro e sua esposa nos agradeceram no final por passar tanto tempo com eles e pelo trabalho que realizamos no setor, mas na verdade eu que sinto gratidão por eles estarem abertos para nos encontrar e nos mostrar como os momentos de felicidade são tão simples e até mesmo fáceis de viver. Seguimos para outro quarto, onde encontramos um jovem de São José do Egito e o nosso assunto foi comida do interior (naquele momento a fome foi real). OBS.: Agora enquanto escrevo ainda sinto a vontade de comer uma buchada de bode. Nesse quarto finalmente recebi meu primeiro elogio em atuações, já estava cansada de ser chamada de feia e pouco atraente. Depois, conhecemos Lucrécio e Adenor, mas foram as acompanhantes que realmente estavam abertas para nós duas. Elas não queriam nos contar as fofocas de corredor e sempre que olhavam pra a gente riam sem parar, elas foram muito fofas. Seguimos para o próximo quarto, no qual ficamos o tempo que nos restava de atuação. Dona Vera nos contou histórias de sua juventude e nos ensinou como identificar uma amiga falsa. Além disso, a melhor parte foi ela contando como pegou o marido com a amante. Ela contou a história com uma riqueza de detalhes que eu nunca tinha visto antes. Os olhos de Isolda brilhavam com a história e, apesar de estar como ouvinte, meu corpo pulsava de adrenalina enquanto ela contava o ocorrido. Foi realmente impressionante. Depois de encerrar sua história, encontramos com a outra senhora do quarto, Dona Generosa, que por coincidência deu oito facadas em seu marido. Aquele leito realmente era para os fortes. A enfermeira chegou para aplicar medicações e achamos por bem seguir para outros espaços. Infelizmente quando olhei para o corredor o jantar já estava sendo servido. Eu nem acreditei, ainda tinham tantos espaços e tantas pessoas ali, minha energia estava tão alta, foi triste caminhar até o vestiário. Quando olhei para a porta do vestiário dos técnicos fiquei muito triste, porque por um momento pensei que aquilo seria o fim dos encontros e que eu só viveria aquilo na próxima semana. Quando desci a máscara, percebi que eu estava errada. Os encontros podem ser parte da nossa vida cotidiana. Agora me sinto bastante grata a essa segunda atuação, que muito contribuiu para minha construção e o reconhecimento de mim mesma enquanto palhaço. 

Um comentário:

Muri disse...

- essas são ótimas oportunidades pra treinar esse lado feminino kkkkk
- olha, quero saber mais dessas histórias das facadas e da traição
- fiquei na curiosidade de saber qual foi o elogio também
- a gente nunca deixa de encontrar e de se encontrar, basta se permitir...