Se jogar no vazio!
E aí, você realmente sabe o que é isso? Tem certeza?
Era sexta feira, dia 31 de outubro. Eu tava moribunda, com minhas 3 horas e alguma coisa de sono. Farmaco me consumindo, aula de imuno quase interminável, minha mãe que já iria chegar...
" Acho que não tenho condições de atuar" dizia meu eu cansado e mequetrefe.
E eu pensava, mas não chegava a conclusão alguma. Até que um anjo desses sem asa e sem nariz me falou de forma clara e simples: " Você assumiu um compromisso...".
E eu decidi ir.
Encontrei meu lindo companheiro (agora responsável por eu ter ficado mais pobre), e fomos ao 10° andar.
" Dudu, o que ocorre no 10º andar?" Nenhum de nós sabiamos. Mas fomos...
Na nossa preparação, confessei pra Dudu o meu cansaço, e falei que achava que não aguentaria ficar por tantas horas como geralmente ficamos. Ele me entendeu, e tudo começou.
Entramos nos primeiros quartos, senti que minha energia não estava 100%. Senti que precisava me doar mais... E me cobrei.
Que linda é dona Sofia! Quão carismática e acolhedora apesar de suas inúmeras limitações!
Obrigada por seus sorrisos!
E o tempo foi passando...
Uma "avoadinha", depois outra... Nada que tivesse me tocado tanto.
Eis que encontramos o quarto do senhor Severino. Era mesmo esse o nome dele? Não sei... não consegui me deter ao nome. Ele chorava e reclamava. A dois dias não se alimentava direito.
E nós insistíamos para ele comer, mas sem obter sucesso algum. Quanta dor, quanto sofrimento! E quantas lágrimas!? Se sorriamos ele chorava, se falássemos com ele, mais choro. O que fazer?
Foco no senhorzinho do leito vizinho: "Nossa, ele parece muito com meu falecido avô" Mais emoção...
Mas meu olhar não se conformou com a semelhança, queria fazer algo para seu Severino.
"O senhor precisa comer"
"Por que tá chorando? A vida pede mais do senhor, tenha força, tenha fé"
... nada adiantou... qual seria minha função ali?
Eu o abracei, o beijei. Falei do quão próximo o Natal estava... Calma, fui eu mesma ou foi Maricota? Não sei... Acho que fomos nós duas.
Mas nada pareceu funcionar. E começou o eco:
" Meu filho, quero ir pra casa" dizia olhando para Tuberculino.
" Minha filha, quero ir pra casa!" e mais choros...
O abracei, o beijei, passou-se o tempo, saimos daquele quarto. Meu coração estava mais vivo que nunca: "carne viva", eu podia o sentir.
Outros quartos vieram, outras "avoadinhas".
Retornamos ao quarto de seu Severino e do outro senhor familiar.
Continuamos sem conseguir que ele sorrisse, mas nos mandou beijos que os guardarei por muito tempo em minha carne viva. Sinto que não conseguimos alegrá-lo, mas algo nele ficou melhor, e eu me sinto um pouco responsável por ele, sinto que o cativei.
Outros quartos, pessoas caminhando no corredor. Eita, o exercício dos obesos! Chama todo mundo pra cá! haha
Sinto que descontei toda a explosão que me consumia em pulos, gritos e muitas corridas.
" 1, 2, 3, 4... "
"4,3,2,1!!!!"
O joelho ficava mais alto que minha cintura. O suor pingava. Tuberculino, lindo como sempre, contagiava a todos. E juntos animamos o local.
Aos poucos, um grupo que no começo tinha 2, passou a ter umas 7 pessoas.
E a correria continuou, o suor tomava conta de mim, e minha carne viva ainda pulsava.
Não sei o que aconteceu. Não sei onde estava a menina mequetrefe que quase desiste antes de tentar, sei que ali tava meu melhor eu. Um eu melhor que eu mesma um dia suporia ser. Um eu que sente de verdade e se entrega de verdade. Meu Deus, me conserva sempre assim! Meu Deus, trás esperança pros corações que já não a tem!
Meu eu agora pulsa forte. E assim o fez no final do dia.
Saimos quando praticamente tudo já estava apaziguado, faltava pouco pras 20hrs.
Saimos sem "obrigado", sem aplausos físicos. Saimos praticamente sem ser vistos no dia que mais nos fizemos ver. Saimos assim, mas discreto que entramos, mas tenho certeza que algo naquele lugar se transformou. Algo que nem sei explicar, e nem poderia.
Obrigada, gordinhas lindas!
Obrigada, seu Severino ( e me desculpe se esse não for seu nome)
Obrigada, Tuberculino Bang-Bang!
E muito, muito obrigada, Laura!
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