Confesso que na intervenção de hoje cometi
vários erros. Não que eu nunca cometa, nossas atuações basicamente são feitas
de erros bem aceitos, mas o que falo são erros de condução dos erros. Complexo
não é? Mas é mesmo.
No décimo andar existem dois locais, um
local destinado a algumas pessoas que esperam para fazer cirurgia de redução de
estômago, e outro destinado para pessoas que creio possuírem problemas de
diabetes, no qual se encontram várias pessoas amputadas. O clima como um todo é
muito pesado nessa segunda parte do hospital, muitas pessoas idosas, que
recentemente acabaram de fazer uma cirurgia.
Nos primeiros quartos, não conseguimos muitas brincadeiras, basicamente
conseguíamos um contato maior com as acompanhantes e pouco com as pacientes. Ao
seguirmos para um dos quartos, vimos um grupo que estava no corredor, eles nos
chamaram e lá fomos nós. Uma delas estava no oitavo andar e subiu para fazer a
caminhada, e os outros estavam internados no andar. Com eles desenvolvemos
brincadeiras bem produtivas, sendo a maioria em torno de Verônica e sua timidez
repentina que travou seu falatório constante. Nesse momento começou a
trollagem. Eles disseram que no quarto 1004 tinha uma menina muito animada, que
ela ria de tudo e que ia adorar nossa visita. É não foi bem assim que
aconteceu.
Como meu MCM Pandolfo descreveu muito bem, Luana era uma dementadora de
palhaços. Ela não se contentava em não rir, ela realmente demonstrava que
detestava tudo que fazíamos, mas ao mesmo tempo não nos deixava ir embora. Meu
MCM menos inocente do que eu, já tinha percebido desde do primeiro momento que
Luana realmente era o oposto do que nos falaram. Eu teimosa e inocente ao invés
de ir embora ao perceber como Luana era, não me conformava em não conseguir
fazê-la rir ao menos uma vez. Conseguimos duas vezes, e era perceptível que ela
gostava de brincadeiras pesadas que tentávamos evitar. Ela constantemente
tentava transformar a visita em um questionário de nossa vida, e foi um ótimo
treinamento para realmente nunca deixar a vida de Lívia transpor a vida de
Sebastiana. Por fim depois de meu MCM tanto tentar me chamar finalmente meu ego
cedeu e fomos embora. Mais tarde fomos informados por aqueles que nos mandaram
para lá, que Luana era uma menina muito mal humorada e extremamente difícil de
estabelecer contato. Erros cometidos: Não ter percepção para não ser enganada,
não conseguir me conectar com meu MCM e perceber as formas que ele tentava me
mostrar de que estávamos entrando em uma furada, não respeitá-lo e permanecer
muito no quarto. Foi muito bom perceber o quanto tenho o apoio dele, e
principalmente o quanto essas atuações não são paninhos vermelhos que tentamos
pegar. Risadas não são o foco.
Vida que segue, fomos para os quartos, eu um pouco desenganada de minha
vida de clown, chegava para os pacientes e dizíamos que não éramos palhaços,
porque éramos muito ruins, até do circo tinham nos expulsado. Eles riram tanto
disse que comecei a pensar que realmente eles concordavam. Mais uma tapa então.
Em um dos quartos fugimos do nosso querido dono, o enfermeiro malvado que nos
perseguia, nos salve por favor, ele passa e nos falamos, somos escravos, somos
muito mal tratados, ele volta, eu amo esse local, nunca vi coisa mais linda.
No quarto do seu Severino mais uma
armadilha, os acompanhantes riam com qualquer coisa, e um deles nos tratou como
médico e como enfermeira, e depois nos jogou uma bomba. Falou que nós tínhamos
cortado o pé do seu Severino. Para que fez isso rapaz! Mesmo todos do quarto
rindo, não compramos a brincadeira, mudamos de assunto, mas foi isso que ficou
para seu Severino e junto com a dor que sentia, não quis mais nem olhar para
nós, com um bico que acho que era careta nos expulsou de perto dele. Aceitamos
fizemos nosso final e saímos. Hoje tá tensoooooooooooooo!
No
outro quarto lá estava seu Alcides, mais uma rejeição, mas pelo menos essa
rendeu piadas. Ele não entrava nessas tabacas, ele falou essa ou outra
expressão que significava coisa para enrolação. Assim não dá, outro tapa, não
aceito seu Alcides que de mim o senhor não quer nada, prefere Pandolfo é? Não, prefiro
você! Assim o senhor acaba com o senhor do lado, a mulher dele fica com
Pandolfo e ele fica só? Me troca por muito dinheiro vai? Oxe ele não precisa
disso não e tão doce, apesar de só muriçoca querer? Alcides: Vocês têm muita
linha para pouco anzol! Assim não dá, só na tapa o senhor vai me matar. Vou atrás
do netinho do outro senhor, que com seis anos já é vendedor.
Deixámos o quarto, seu Alcides sem nos
amar, pelo menos teve algo para conversar, acho que isso já agitou seu dia. E eu
com mais um casamento com uma criança. Sebastiana é meio pedófila.
E assim terminou a atuação, muito tapa,
muito erro, muita tensão, se assim fosse na primeira atuação estaria devastada,
mas posso te dizer querido diário que não estou. Acho que realmente evoluímos,
aceito bem melhor e reconheço bem mais minhas falhas no dia de hoje e agradeço
bem mais o MCM que me foi dado. Junto com ele tive o melhor momento da
intervenção. No nosso primeiro dia falei para ele que se ninguém, se nem as
moscas nos quisessem, íamos ficar os dois no corredor um tentando animar o outro.
E assim foi. Depois de tanta coisa, me pego brincando com os enfeites de Natal
do hospital, pulando pelo corredor para com minha cabeça tentar alcança-los, ao
meu lado pulando mais alto que eu, Pandolfo. No nosso pequeno corredor de
rejeição, cada vez mais chegamos mais alto do que achávamos que podíamos
chegar.
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