domingo, 16 de novembro de 2014

Desculpe MCM por ser um fantoche teimoso


     Confesso que na intervenção de hoje cometi vários erros. Não que eu nunca cometa, nossas atuações basicamente são feitas de erros bem aceitos, mas o que falo são erros de condução dos erros. Complexo não é? Mas é mesmo.

    No décimo andar existem dois locais, um local destinado a algumas pessoas que esperam para fazer cirurgia de redução de estômago, e outro destinado para pessoas que creio possuírem problemas de diabetes, no qual se encontram várias pessoas amputadas. O clima como um todo é muito pesado nessa segunda parte do hospital, muitas pessoas idosas, que recentemente acabaram de fazer uma cirurgia.  Nos primeiros quartos, não conseguimos muitas brincadeiras, basicamente conseguíamos um contato maior com as acompanhantes e pouco com as pacientes. Ao seguirmos para um dos quartos, vimos um grupo que estava no corredor, eles nos chamaram e lá fomos nós. Uma delas estava no oitavo andar e subiu para fazer a caminhada, e os outros estavam internados no andar. Com eles desenvolvemos brincadeiras bem produtivas, sendo a maioria em torno de Verônica e sua timidez repentina que travou seu falatório constante. Nesse momento começou a trollagem. Eles disseram que no quarto 1004 tinha uma menina muito animada, que ela ria de tudo e que ia adorar nossa visita. É não foi bem assim que aconteceu.

   Como meu MCM Pandolfo descreveu muito bem, Luana era uma dementadora de palhaços. Ela não se contentava em não rir, ela realmente demonstrava que detestava tudo que fazíamos, mas ao mesmo tempo não nos deixava ir embora. Meu MCM menos inocente do que eu, já tinha percebido desde do primeiro momento que Luana realmente era o oposto do que nos falaram. Eu teimosa e inocente ao invés de ir embora ao perceber como Luana era, não me conformava em não conseguir fazê-la rir ao menos uma vez. Conseguimos duas vezes, e era perceptível que ela gostava de brincadeiras pesadas que tentávamos evitar. Ela constantemente tentava transformar a visita em um questionário de nossa vida, e foi um ótimo treinamento para realmente nunca deixar a vida de Lívia transpor a vida de Sebastiana. Por fim depois de meu MCM tanto tentar me chamar finalmente meu ego cedeu e fomos embora. Mais tarde fomos informados por aqueles que nos mandaram para lá, que Luana era uma menina muito mal humorada e extremamente difícil de estabelecer contato. Erros cometidos: Não ter percepção para não ser enganada, não conseguir me conectar com meu MCM e perceber as formas que ele tentava me mostrar de que estávamos entrando em uma furada, não respeitá-lo e permanecer muito no quarto. Foi muito bom perceber o quanto tenho o apoio dele, e principalmente o quanto essas atuações não são paninhos vermelhos que tentamos pegar. Risadas não são o foco.

   Vida que segue, fomos para os quartos, eu um pouco desenganada de minha vida de clown, chegava para os pacientes e dizíamos que não éramos palhaços, porque éramos muito ruins, até do circo tinham nos expulsado. Eles riram tanto disse que comecei a pensar que realmente eles concordavam. Mais uma tapa então. Em um dos quartos fugimos do nosso querido dono, o enfermeiro malvado que nos perseguia, nos salve por favor, ele passa e nos falamos, somos escravos, somos muito mal tratados, ele volta, eu amo esse local, nunca vi coisa mais linda.

    No quarto do seu Severino mais uma armadilha, os acompanhantes riam com qualquer coisa, e um deles nos tratou como médico e como enfermeira, e depois nos jogou uma bomba. Falou que nós tínhamos cortado o pé do seu Severino. Para que fez isso rapaz! Mesmo todos do quarto rindo, não compramos a brincadeira, mudamos de assunto, mas foi isso que ficou para seu Severino e junto com a dor que sentia, não quis mais nem olhar para nós, com um bico que acho que era careta nos expulsou de perto dele. Aceitamos fizemos nosso final e saímos. Hoje tá tensoooooooooooooo!

  No outro quarto lá estava seu Alcides, mais uma rejeição, mas pelo menos essa rendeu piadas. Ele não entrava nessas tabacas, ele falou essa ou outra expressão que significava coisa para enrolação. Assim não dá, outro tapa, não aceito seu Alcides que de mim o senhor não quer nada, prefere Pandolfo é? Não, prefiro você! Assim o senhor acaba com o senhor do lado, a mulher dele fica com Pandolfo e ele fica só? Me troca por muito dinheiro vai? Oxe ele não precisa disso não e tão doce, apesar de só muriçoca querer? Alcides: Vocês têm muita linha para pouco anzol! Assim não dá, só na tapa o senhor vai me matar. Vou atrás do netinho do outro senhor, que com seis anos já é vendedor.

      Deixámos o quarto, seu Alcides sem nos amar, pelo menos teve algo para conversar, acho que isso já agitou seu dia. E eu com mais um casamento com uma criança. Sebastiana é meio pedófila.

    E assim terminou a atuação, muito tapa, muito erro, muita tensão, se assim fosse na primeira atuação estaria devastada, mas posso te dizer querido diário que não estou. Acho que realmente evoluímos, aceito bem melhor e reconheço bem mais minhas falhas no dia de hoje e agradeço bem mais o MCM que me foi dado. Junto com ele tive o melhor momento da intervenção. No nosso primeiro dia falei para ele que se ninguém, se nem as moscas nos quisessem, íamos ficar os dois no corredor um tentando animar o outro. E assim foi. Depois de tanta coisa, me pego brincando com os enfeites de Natal do hospital, pulando pelo corredor para com minha cabeça tentar alcança-los, ao meu lado pulando mais alto que eu, Pandolfo. No nosso pequeno corredor de rejeição, cada vez mais chegamos mais alto do que achávamos que podíamos chegar.

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