sábado, 1 de julho de 2017

O Caminho?

Não sei direito por onde começar este relato. Começo pelo bingo do ano passado? Falo de como estava sendo antes da chegada da quadrilha a nossa atuação? Melhor.
Tinhamos acabado de andar até o final do corredor, por conta de uma senhora que lá estava sentada, aparentemente muito isolada. Ela fala do trânsito no corredor, e brincamos durante um tempo com o ir e vir das pessoas por ali. Desviamos nosso olhar para dentro do quarto, e quando nos voltamos outra vez para o corredor vemos um mar de gente vestida de quadrilha, com a cara pintada, animadamente caminhando em nossa direção. Gelei. Bateu um medo que eu acho que igual até agora não senti dentro de alguma atuação. Tudo de repente voltou pra mim daquela atuação com o bingo, e eu queria fugir, mas Safifi tinha se animado. Não queria cortar a onda dela, mas não achava que a gente podia se misturar muito com essa galera toda, se perder e se confundir nisso. Ficamos meio que jogando com uma ansiosidade em cima dessa chegada deles até a gente, eles chegam mais próximos e o volume da voz vai aumentando, safifi começa a se mexer e eu engato com ela, começamos a girar em par dançando uma quadrilhazinha. Eles nos alcançam, paramos a dança e eles contam o que vieram realizar pra gente. Tento dar apoio, mas não consigo deixar de sentir em parte medo de como essa relação iria se desenvolver. Consigo puxar Safifi pra fora daquele quarto, e vamos atrás de algum outro para atuar do nosso jeito. O barulho que chega deles é o estímulo soberano, nada alcança apagá-lo ou distanciá-lo, Safifi sente isso também, e acabamos falando deles e da quadrilha, mas do nosso jeito. Estou começando a ficar desconfortável, a gente começa a jogar que vai se esconder no quarto deles, fingir que é acompanhante. Ficamos sentados em duas poltronas vazias de lá e a quadrilha entra. Estava eu de um lado com uma paciente e uma acompanhante e Safifi do outro, com duas pacientes e duas acompanhantes... e eles todos entram virados para o meu lado. Fico puto, extravazo tirando onda deles, da barba feita a canetinha, de coisas assim. Tento alcançar em conversa as pacientes que estão para lá deles mas não consigo de verdade. Devia ter tentado fazer isso fisicamente, mostrado pra eles a barreira que tinham criado entre a gente e o descaso que estavam apresentando frente as pacientes. Desta vez eles saem um pouco depois, e nós continuamos naquele quarto, dando alguma distância entre a gente e eles. Entramos em mais um dos quartos, e eles estão agora já desenvolvendo a culminância deles no corredor, um casamento com noivo, noiva, padre e amante. Quando saimos eles não estão mais no setor. E eu fico me sentindo mal de não ter podido falar mais com eles, pedir que fizessem mais silêncio, que estivessem mais atentos quanto a como se portavam naquele ambiente... um monte de coisas. Ficamos achando que eram parte do Caminho, e eu estou com muita vontade de conversar com a organização do caminho para que se dê um pouquinho que seja de orientação para essa galera não estar fazendo esse tipo de coisa durante a atuação, sabe? Não acho que seja por mal, acho que é descuido. 
De qualquer forma, sinto que conseguimos desenvolver essa dança de estar junto mas ser uma coisa separada deles de forma razoável. Acho que talvez eles tenham saído um pouco sentidos com a distância que a gente promovia em certos momentos do que eles propunham ou coisa parecida. Queria poder ter falado com eles depois, sem a máscara de palhaço, de participante de projeto de extensão para participante de projeto de extensão, mas isso aparentemente não tem muito como ser feito. Espero que se houver uma próxima vez eu esteja mais seguro para dar mais a entender que não acho ruim o que eles querem fazer, mas que se é esse o caminho que escolheram para promover o que pretendem, há bastante coisa, me parece, que precisa ser revista.

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