domingo, 2 de julho de 2017

Colecionadora de segundos especiais - 1ª atuação

Hoje é dia 26/10 e já já vou pra minha segunda atuação, mas só to escrevendo agora por motivos de tempo: a falta dele e a necessidade dele para entender o que de fato rolou na hemodiálise/enfermaria de nefro semana passada. 

Eu confesso que não passei o dia pensando nisso, tava com a cabeça cheia, mas foi só eu me encontrar com Pacheco, Danda e Vitor que aquele frio na barriga tomou conta de mim. Como que eu ia fazer aquilo? Eu não me sentia preparada...Porque tinha inventado tudo isso? Já não tinha mais para onde correr, chegamos no setor e fomos nos trocar numa salinha apertada - eu que já estava encolhida por dentro, tinha pouco espaço por fora também, o que foi até aconchegante. Me trocar e me maquiar até distraiu um pouco, mas quando Danda nos chamou para subir a energia a insegurança voltou à mente. A gente contou até 10, um olhando no olho do outro e olhando e olhando e olhando... e bum! A energia de fato subiu, mas o nervoso tava junto. Sair daquela salinha foi uma loucura, eu me sentia alguma coisa diferente, tava com um sorriso estampado no rosto!

Entramos primeiro na hemodiálise, tinham só 3 pacientes. O primeiro era Seu Josué que eu acho que vai ter pra sempre um espacinho no coração de Judith... Ele entrou no jogo sem pensar duas vezes de um jeito que eu me questionei sobre o que era real. Perguntamos se ali era a casa dele, ele disse que sim: a mãe estava no fogão preparando a janta que seria cuscuz com manga, o outro lado do quarto era a sala de estar e o staff eram suas visitas. Como a abstração é linda e nos leva a lugares lindos...eu já não via mais um quarto de hospital. E assim se foi a timidez, feito dodói, ela passou mesmo. Enquanto falávamos com ele, conversamos também com outra senhorinha, um pouco mais tristonha. Felicia perguntou se ela gostava de forró, ela disse que não tinha mais idade pra isso, e putz ela tava numa cama de hospital... A gente dançou um pouco de forró, e mostrou pra ela que era possível dançar até com uma única parte do corpo (sdds oficina/dança pessoal). Não achei que ela fosse comprar a ideia, mas lá estava ela mexendo só UM dedinho ao som de Falamansa, enquanto Josué dançava com os olhos, e cada um de nós três com uma parte diferente. A terceira paciente também foi um desafio, ela não ouvia, só lia lábios, mas a gnt conseguiu conversar e ainda arrancou alguns sorrisos.

Eu poderia, enfim, fazer um DB inteiro sobre esse quarto, ou os primeiros minutos nele, mas não sei se a energia começou a baixar ou se eu simplesmente me dei conta que de fato quem tava ali era eu e que eu não tava na casa de Josué, e sim, na hemodiálise que eu tinha ido há algumas semanas aprender sobre máquinas e fístulas arterio-venosas. Me dei conta também que a primeira atuação não era como provar uma droga nova, era só vida real. Judith Todatoda é Safira e vice-versa. Atuar era sim mágico, mas não porque eu ia ficar em êxtase por 2h, mas porque eu me transformaria numa "COLECIONADORA DE SEGUNDOS ESPECIAIS". Foi uma grande quebra de expectativas, mas a verdade é que a lindeza e a pureza desses momentos incríveis duram pouco mais de alguns segundos, e ai acho que meu DB vai virar um álbum de segundos especiais UAUs e PENs...

OBS.: Nessa atuação já tivemos alguns PENs - mantivemos por todos os quartos a história de Josué. Estávamos levando nossa história , sem respeitar as histórias que cada um tinha para contar. E além disso, terminamos quebrando uma porta naquela história de "tudo que eu quero, eu quero muito"... (meta: ao querer muito entrar no quarto ao mesmo tempo, preferir fazer uma fila indiana)

Judith

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