O natal se aproxima, e com ele vem um certo clima distinto
ao espaço do hospital. O setor está decorado para a festividade, com guirlandas
e pequenas miniaturas de papais noel. Ao sairmos do quarto onde nos trocamos
vejo uma mesa em que estão sentadas algumas pessoas. Vou até lá, me sento
também e converso um tempo com elas. Percebo pela periferia da visão que mais
alguém tinha chegado lá no canto esquerdo da parede, e quando viro o rosto para
o lado percebo que mais seis pessoas tinham aparecido, mas que nenhuma delas tinha
pulseira de paciente, ou adesivo de acompanhante, e que eram todas tão
jovens... Uma moça se senta e começa a falar com o grupo do horário e de coisas
assim e entendemos que se tratava de outro projeto de extensão. Saímos de lá
para ir ver os pacientes finalmente nos quartos do setor, mas acabamos de certa
forma sendo aglutinados ao outro projeto, acho que principalmente porque eram quase
vinte pessoas – pelo menos sentia que eram quase vinte pessoas. Possivelmente
mais gente que isso até. Iam promover um bingo, com diversos prêmios a serem
distribuídos aos pacientes e acompanhantes. Me senti desconfortável em diversos
momentos por conta disso. A atenção naquela atividade me distanciava de sentir
que podia interagir com profundidade com os pacientes de forma individual. O
setor estava muito mexido, tinha muita gente andando e falando e passando de um
lado pro outro. Em diversos momentos as pessoas do outro projeto jogavam para a
gente que tínhamos que dar uma animada e chamar os quartos que não queriam
participar do bingo. Não sei o que se deve fazer numa história dessas. Me senti
usado, animador de festa. Começaram a puxar músicas para alegrar, e em todas as
ocasiões olhavam para mim e para Aaaah, como se essa tarefa nos coubesse. Como
se dependesse da gente que o projeto deles tivesse um bom dia de ação, feliz e
pra cima e bonito e repleto de momentos ricos. Com isso acabamos ficando muito
tempo por lá. O dia foi escurecendo ao nosso redor, e não tínhamos conversado
com metade dos pacientes. Não porque não queríamos ou porque os pacientes não
estavam dispostos, mas porque o bingo não deu espaço. Sai muito sem saber se a
gente devia ter deixado de lado o outro projeto, se devíamos ter mesmo nos
ajuntado e daí completamente comprado a história do bingo. Não estava nem um
pouco pronto a ter que lidar com isso, e de fato não soube na hora resolver
aquilo de um jeito que me deixasse sentindo que tinha feito bem, que estava
tudo certo na forma como decidimos lidar com a situação. Fico achando que
misturar as coisas é muito difícil. Que fugira da gente o controle de dizer o
que somos e o que nos propomos a fazer. Eramos os palhaços deles, e eu acho que
essa sensação vai tardar um tanto a assentar dentro de mim e deixar de ferir.
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