Namoro a ideia de atuar com Bru faz bastante tempo. Neste
semestre, com a contingência de estarmos todos de psicologia aglutinados no
terceiro setor do Niate para ter aulas, já que o CFCH se encontra interditado
para essas atividades, muitas figuras que não veria aparecem pelas minhas manhãs
na universidade com certa facilidade. Andei vendo muito Bru por aí, e num
desses dias, em que conversamos mais nos acordamos de fazer acontecer essa
atuação conjunta. A primeira vez não rolou, mas na semana seguinte estávamos nós
dois juntinhos embarcando nessa experiência. E foi massa. Estou amando isso de
atuar pela primeira vez com alguém do projeto, com mais pessoas. Especialmente
com quem sinto que me conecto de diversas formas mas que não dispus de muitos
momentos e tempos para desabrochar com mais intensidade e profundidade essa
conexão. O que levo pra mim de Bru nessa atuação é uma atenção ao outro, tanto
o colega palhaço quanto aos pacientes e acompanhantes. Bru atuava muito em cima
daquilo que eu jogava. E eu joguei um monte de coisa, em muitos momentos notadamente
com excesso. Falava e percebia só no meio que não estava sendo ouvido, que
estava falando baixo, que estava falando rápido, que estava falando de um jeito
que confundia e não comunicava. Muitas vezes senti que precisava me reorganizar
comigo mesmo para poder voltar a existir ali de fato. E eis que Bru, numa
jogada certeira e mágica, vira a uma senhora em um quarto e chama atenção à
beleza que tinha sua voz. Achei aquilo fantástico, me surpreendi com o
comentário, e fiquei pensando se em algum momento tinha me ligado em alguma
coisa assim nas minhas atuações passadas.
Eu tenho alguns problemas com o belo, e com certeza construí
um palhaço que deixa isso muito aparente. Acho tão difícil valorizar o belo que
existe no mundo e nas pessoas e em mim, fico sem jeito e desconcertado sempre,
porque de certa forma acho difícil saber distinguir com total clareza o que faz
certa coisa ter beleza e certa outra não ter. Ando lendo umas coisas sobre arte
para o trabalho no estágio que venho desenvolvendo esse semestre, e se fala de
estética dentro de certa perspectiva como aquilo que salta de diferente e que
impacta a gente. Como uma coisa no campo da experiência. Acho que eu tenho um
limiar de impactação ou muito baixo ou muito elevado, mas que ter isso faz
falta ao ser palhaço, e com certeza acaba faltando no meu cotidiano de diversas
formas. Fico um pouco desconfortável falando disso aqui dessa forma, porque
parece que precisa explicar um monte de coisa para que isso que eu estou
falando faça sentido. Acontece que na verdade não tenho pretensão de fazer
sentido nesse momento. Estou tentando através deste depoimento trabalhar comigo
uma coisa que sei que me falta. E acho que encontrei um jeito de lidar com isso
com o qual sou capaz de viver, de me sentir representado, de existir como quem
sou e não simplesmente achar que estou comprando discursos externos sobre
padrões e parâmetros para medir o que presta e o que é descartável. Vou procurar
trabalhar em minhas atuações de agora em diante a atenção ao estético, o
reconhecimento do impacto que senti por certos momentos e elementos e a
valorização destes. De certa forma sei que é isso que fazemos como palhaços,
mas quero correr atrás de verificar até que nível isso se dá mesmo, quão ligado
eu estou para esse valorizar e como eu posso melhorar a minha expressão disso. Acho
que vai nesse sentido o que estou me propondo aqui.
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