É sobre a arte do encontro que sempre
escrevo. É sobre se jogar no vazio e encontrar um olhar. É sobre sentir medo e
encontrar um abraço acolhedor que te faz mais forte e feliz.
Fazia duas semanas
que Coralinda não era vista... Naquela tarde de quinta, no feriado de 8 de
dezembro, Coralinda ressurgia com uma saudade tamanha que jamais houvera sido
documentada. Ela estava um tanto quanto desacostumada... Meio preguiçosa... Dengosa
mesmo... Ela estava naqueles dias que a gente só pede carinho, só quer um colo
gostoso para ficar... Nada melhor que a enfermaria de cirurgia vascular! Se
joga no vazio, abre essa porta e vai! Caramba, parecia que Coralinda não via
pessoas há séculos... Estava meio receosa.
Em frente a porta que Coralinda toda
fina e Susi TchuTchu saíram, havia uma outra porta, desta vez escancarada e com
pessoas muito bonitas lá dentro... Sorrimos para elas e elas sorriram para gente.
Pediram que entrássemos... Ai meu Deus, e agora?! Faz tanto tempo que não
converso com pessoas, que não as vejo... O que vou fazer? Oiii... Um oi tímido
foi lançado ao ar. Prazer!!! Qual o seu nome? Maria! Aaaah, Dona Maria, meu
nome é Coralinda Todafina! Um abraço apertado foi dado. UM ABRAÇO APERTADO FOI
DADO! NOSSA, QUE ABRAÇO GOSTOSO, DONA MARIA! Falou Coralinda abraçando-a
novamente. MAS, MEU DEUS DO CÉU, EU NUNCA DEI UM ABRAÇO TÃÃÃÃO GOSTOSO NA VIDA!!!
Naquele momento tudo parecia se modificar... Havia uma energia incalculável
naquele lugar. Dona Maria e Coralinda abraçavam-se repetidamente e, em todas as vezes, com tanta intensidade que Coralinda sentia um arrepio, que ia-lhe da ponta dos
dedos que estavam naquele sapato vermelho desbotado até a sua sobrancelha muito
bem arqueada e delineada em branco. Ahh, Dona Maria... Não chore, a senhora é
tão liiindaaa!!! Dona Maria chorava lágrimas tão meigas e cheias de vida... Ela
estampava uma felicidade aos olhos, que Coralinda podia sentir em seu coração e
na sua pele ouriçada. Ah, minha linda, Coralinda num é? Sim! Você é tão linda,
tão linda, por dentro e por fora! Minhas lágrimas são de muita alegria. Vocês
estão me fazendo muito bem! [Foi tão intenso, que só de lembrar a pele se
ouriça novamente... De fato, foi um dos momentos mais lindos vividos... isso,
me faz lembrar que a arte do encontrar reside muito mais no sentir e olhar que
no falar] Ao ver Dona Maria ali banhar-se de pingos do mar, Coralinda não
exitou em continuar abraçando-a. Vem, Susi, abraçar também! Susi, que estava
falando com Amanda, contemplou aquela cena e correu para o abraço. Meu Deus, parece que o abraço está ficando mais gostoso! Fala Coralinda. Susi, de
imediato, chama Amanda também para aquele encontro de almas. Amanda também
corre para o abraço. Raquel, acompanhante das duas, foi chamada por Coralinda! Aiiiiii,
vocês são muito lindas e que abraçooo gostooosoooo! Coralinda e Susi
sacudiam-se enquanto falavam. Susi, então, fez uma proposta incrível...
Coralinda, lembra daquela música que a gente ama?! Siiiiiim!!! Vamos
cantá-la!!! No meio da floresta tinha uma coruja... Tchutchu Tchutchu Tchutchu
Tchutchu Tchutchu (pulavam enquanto cantavam!). Nossa, nesse momento a energia
subiu tanto que estourou e energieômetro. As palavras, por mais que possam
expressar intensa grandiosidade quando bem colocadas, jamais poderão descrever
a dimensão galáctica que teve aquele momento sublime. Despedimo-nos com a
certeza que já não éramos as mesmas e que Dona Maria, Amanda e Raquel também
não. Aquelas pessoas transformaram
nossas vidas e a energia que emergiu naquela sala, encheu-as de confiança para
a cirurgia que seria feita no dia seguinte. Seguimos...
Vimos então um quarto
onde a paciente parecia dormir. A sua acompanhante, ao ver-nos, levantou-se
entusiasmada e foi logo acordar a paciente. Não, não a acorde, ela está
dormindo! Gesticulávamos com as mãos. Ela disse: Não, ela vai amar ver vocês; Ela estava a vossa espera! Acordou-a! Quando ela nos viu... Maaaas quando ela nos
viu... Tandandandan... Que sorrisooooo liiindoooooo!!!! Sorrindo com o corpo inteiro, mandou-nos
entra logo! E entramos! Dona Maria de Lourdes, como vai seu feriado?? Ah, minha
linda, está indo bem e o seu? Nossa família viajou e deixou a gente aqui hoje,
acredita? Fazia tempo que não fazíamos novos amigos, daí nós duas decidimos
sair por aí para andar. Mas Dona
Maria... Tem ninguém na rua! Não tem um pé de gente. Aí a gente andou, andou,
até que encontramos esse prédio grandão e pensamos: com certeza nesse prédio há
pessoas! E entramos. Chegamos aqui no seu quarto assim! *-* Nossa, vocês devem
ter andado muito, hein? Andamos sim, Dona Maria, mas agora estamos aqui com
vocês! Falava isso e paulatinamente ia beijando a cabeça de Dona Maria.
Doooonaaaaa Maaaariiiiiaaaaa, como a senhora é cheeeeiroooosa!!! Dona Maria ria. A
nora de Dona Maria disse: aaah, isso é porque ela gosta de namorar! Suuuusiiii,
é isso que falta para gente ter um namorado, Usar perfume! Dona Maria, a
senhora ajuda a gente? Coralinda e Susi imploravam. Claro, minhas lindas!!!
Dona Maria, ao ter Susi e Coralinda ao seu lado pediu logo uma foto! Xiiiis!
Xis...
Todos os dias fazemos fotografia.
Para muitas delas, não há registros imagéticos virtuais. Mas as imagens que
ficam daqueles tantos rostos felizes pela nossa presença são guardados no cofre
mais precioso, a memória. Cleonice de ‘Ruth e Raquel’ e a Dinastia Isnal também
estão muito bem lembrados nesse cofre. Os pens existem, mas os uau, são tipo
UUUUUAAAAAAAAAAUUUUU. E não tem pen no mundo que tire tudo o que a gente ganha
com isso.
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