quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Êxtase do desconhecido amado - Hemodiálise

Poderia contar histórias diversas sobre todas as maravilhas que vivemos nesse dia, mas palavras não expressariam a imensidão que foi ao se jogar no vazio. Ao chegar na enfermaria de renal, demos conta que seria diferente de tudo que já havíamos vivido. Os corredores eram diferentes, havia muitas salas fechadas e, mais adiante, uma sala de hemodiálise com pessoas em tratamento. De fato, era bem diferente do que já havíamos vivido até então. E Coralinda sentiu um friozinho no pé da barriga que corria-lhe até seu famoso coração. Mas se der medo, vai com medo mesmo, né verdade?! Pois é, ela sentiu medo. Era aquele ambiente de hospital que geralmente as pessoas temem por acharem que só irão encontrar tristeza. Mas a vida está aí para isso, para surpreender. E não é de hoje que Coralinda vê-se surpreendida no HC. 

Passa-me um turbilhão de momentos à memória e não sei como escrevê-los. Frustro-me por isso. Frustro-me porque não consigo arrumar em palavras tudo o que sinto. Mas, concomitante a isso, vem-me uma série de momentos eternizados pelo olhar. Havia um senhor, chamado seu Airton que parecia muito com um outro senhor adorável que conhecemos, seu Anthelmo. O olhar daquele senhor me cativou de uma forma que eu não sei dimensionar. Quando penso nessa atuação, penso, em essência, nesse doce olhar. Ele estava na sala de hemodiálise e, com seus poucos e delicados movimentos vocais, ele nos ensinou, na prática, aquilo que nosso projeto propõe: o olhar. Nossa, que olhar. Que imensidão eu via naqueles olhos. Parecia transbordar de infinito. Aprofundar-se naqueles olhos era entrar na êxtase do desconhecido amado. 

Quando entramos na hemodiálise, estávamos sendo esperadas. um moço simpático de branco disse: entrem! Imediatamente dissemos, duvidando do que tínhamos ouvido: podemos???? Ele nos respondeu: Claro que sim, eles não paravam de perguntar por vocês! Entramos como desbravadores chegam em terras desconhecidas: animadas, mas cautelosas. Observamos sorrisos e, então, explodimos! Ao lado de seu Airton, estava seu Amaro, que ama muita gente (a mulher, os filhos e a mãe, deixou claro!) e, ao lado de seu Amaro, havia o sargente e logo fizemos as devidas apresentações ao nobre senhor. Dentre tantas conversas, surgiu a música que tocá-nos no intimo: Acredito, sim! Acredito, sim! Acredito sim, que Deus vai fazer o impossível em meu viver! Cantamos-la inteira. E a emoção veio a tona. Eu não sei descrever, é verdade! Foi incrível, porque, de fato, todos nós acreditamos. Cantar essa música ao lado de seu Airton, que não podia virar-se em nossa posição... Cantar essa música olhando em seus olhos, foi perder-se na imensidão da gratidão. Nada paga. Nada! Seu Amaro e o sargento estavam lá, emocionados também, Susi estava com eles. 

Depois desse momento de tamanha energia, estávamos todos muito, mas muito mesmo, esperançosos e acreditando no melhor. Pedimos uma música e o sargento, nos deu um rock! Rock na hemodiálise. Porque não há música mais conveniente do que aquela que nos enche o coração de alegria. O amor é a melhor música que tenho ouvido, é verdade.

Dessa atuação eu fico com o olhar de seu Airton. Com a tamanha alegria de seu Jão, com o brega de seu Reginaldo que não é Rossi e as boas vindas a seu Wilson, que acabara de chegar. Fico com o saber escutar tudo o que o senhor da Grécia tinha a nos falar. Fico com os profissionais que estavam no setor nesse dia. Fico com uma imensa gratidão por poder viver tudo isso e por conhecer pessoas tão encantadoras e profundas. Dessa atuação eu tiro uma Coralinda mais forte e mais feliz. Com essa última atuação desse ciclo, já sinto saudades do HC e de todas as pessoas incríveis que lá estão. 

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