Nervosismo, e muito, é o que
definiu, inicialmente, essa atuação na tão falada e famosa pediatria. O que
faríamos quando entrássemos no jogo? E se ninguém rir? E nos ignorarem? Mal
sabíamos o que estava por vir.
Sobe a energia, abre a porta e,
para a nossa surpresa, um menininho. Olhou para a gente e riu. Nos escondemos. Aparecemos. Ele riu mais. De
novo. Ele riu mais ainda. Esse foi o sinal verde e fomos até ele. Descobri na
pediatria que as vezes não precisa falar muito e que a criança gosta que fale
na mesma língua que elas, o que, por muitas vezes, era o mesmo que não falar
nada, apenas olhar. Foi o que aconteceu quando avistamos uma menina no colo da
mãe no fim do corredor. Fomos ate lá e ficamos nos escondendo atrás da mãe
dela. Cada vez que ela se virava e conseguia achar, ela dava uma gargalhada que
inundava o corredor. Palavras não dão conta para dizer o que senti com aquele
sorriso tortinho de um encontro único que tive naquele momento. Encontramos
então duas senhoras que eram da equipe da limpeza e quando ela me viu disse que
queria meu short pra ela. Senti a necessidade de me apresentar. Toda. “Sou
Doroteia Pandeirão”. “EITA QUE EU TAMBEM TENHO UM PANDEIRÃAAO”, disse ela
eufórica. Me peguei batendo bumbum com ela no meio do corredor (também não
tenho palavras para expressar esse momento inédito KKKKKKK).
E ai, Miguel. Que de anjinho, só
o nome... um anjinho malandro que cismou com Cela e mandou eu levar seu pacote
de fralda. Segui as ordens prontamente e roubei o pacote pra mim (momento
registrado numa foto que vou revelar para colocar no meu quarto. Obrigada
imensamente, Bru). Depois de até beijar
meu nariz, ele nos levou para a brinquedoteca. Meu Deus, quanta gente nos
olhando e uma mesa cheia de meninas (acredito que elas eram estudantes de algum
outro projeto da faculdade). Respira, não deixa a energia cair e vai, dessa vez
teríamos que falar, pela primeira vez me senti realmente num picadeiro, no qual
tinham vários olhos esperando para ver o que íamos fazer. Nos apresentamos e
perguntamos seus nomes e quando uma por uma foi dizendo, lembrei do jogo de uma
das oficinas e então tive a ideia. “Diga seu nome de trás pra frente”. “Agora
só com as vogais”. “Diga mais rápido”. “Você pode fazer melhor que isso”. A
carta entrou e o lugar foi tomado de risadas e tentativas falhas de acertar os
próprios nomes. Alívio.
E ai, Ingrid.
Uma menininha que pediu para tirar foto conosco. “Tenho foto também com outras
duas palhacinhas que vieram aqui sexta” disse ela. Após nosso book, pedimos pra
que ela nos apresentasse o andar e ao caminhar ao som e com a coreografia de
“nós andamos iguais”, nos redirecionamos ao setor. Alguns encontros depois, uma
pessoinha de cerca de 1 metro de altura aparece colocando a cabeça para fora do
quarto. Perguntamos seu nome. Nada. Nos apresentamos e perguntamos de novo.
Novamente nada. Resolvemos chama-lo de “Sem Nome” e com isso, uma risada. Tá
funcionando. Começamos então um jogo de adivinhação pra ver se finalmente
conseguíamos descobrir o verdadeiro nome de seu Sem Nome e toda vez que
tentávamos, ele, triunfantemente, dizia que estávamos erradas. Em um momento de
distração dele, olhamos a plaquinha na beira de sua cama. “Alex Arthur”. Depois
de algumas outras tentativas, dissemos seu nome real e ele, na maior alegria
que podia ter, disse que era ele! Aquela pessoinha, inicialmente sem nome e
constrangida, passou a ser Alex e me peguei sendo ensinada por ele a usar um
carrinho de controle remoto no meio do corredor da pediatria e a gritar para os
acompanhantes saírem da frente para não serem atropelados.
Quando sentimos que era hora de deixar o quarto. Demos uma ultima olhada no setor e, depois de ver que não faltava ninguém, fomos pedir a chave do quartinho. A enfermeira indagou porque tão rápido e nos entreolhamos e pensamos “como assim rápido, olha o tanto de coisa que fizemos”. Descemos o nariz, vimos o relógio e só havia passado um pouco mais de uma hora. Como a gente perde a noção de tempo, só espero que esse tempo passe logo para nossos próximos encontros.
“Na pediatria existem pessoinhas,
existem crianças. Elas acreditam em mágica, fazem de conta que há um pó magico
no soro deles, têm esperanças, cruzam os dedos e fazem pedidos. E por isso são
mais resistentes que os adultos, recuperam-se mais rápido e sobrevivem a coisas
piores. Eles acreditam. Na pediatria temos milagres e magia. Na pediatria, tudo
é possível.”
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