domingo, 16 de outubro de 2016

Tudo é possível na pediatria

Nervosismo, e muito, é o que definiu, inicialmente, essa atuação na tão falada e famosa pediatria. O que faríamos quando entrássemos no jogo? E se ninguém rir? E nos ignorarem? Mal sabíamos o que estava por vir.
Sobe a energia, abre a porta e, para a nossa surpresa, um menininho. Olhou para a gente e riu.  Nos escondemos. Aparecemos. Ele riu mais. De novo. Ele riu mais ainda. Esse foi o sinal verde e fomos até ele. Descobri na pediatria que as vezes não precisa falar muito e que a criança gosta que fale na mesma língua que elas, o que, por muitas vezes, era o mesmo que não falar nada, apenas olhar. Foi o que aconteceu quando avistamos uma menina no colo da mãe no fim do corredor. Fomos ate lá e ficamos nos escondendo atrás da mãe dela. Cada vez que ela se virava e conseguia achar, ela dava uma gargalhada que inundava o corredor. Palavras não dão conta para dizer o que senti com aquele sorriso tortinho de um encontro único que tive naquele momento. Encontramos então duas senhoras que eram da equipe da limpeza e quando ela me viu disse que queria meu short pra ela. Senti a necessidade de me apresentar. Toda. “Sou Doroteia Pandeirão”. “EITA QUE EU TAMBEM TENHO UM PANDEIRÃAAO”, disse ela eufórica. Me peguei batendo bumbum com ela no meio do corredor (também não tenho palavras para expressar esse momento inédito KKKKKKK).
E ai, Miguel. Que de anjinho, só o nome... um anjinho malandro que cismou com Cela e mandou eu levar seu pacote de fralda. Segui as ordens prontamente e roubei o pacote pra mim (momento registrado numa foto que vou revelar para colocar no meu quarto. Obrigada imensamente,  Bru). Depois de até beijar meu nariz, ele nos levou para a brinquedoteca. Meu Deus, quanta gente nos olhando e uma mesa cheia de meninas (acredito que elas eram estudantes de algum outro projeto da faculdade). Respira, não deixa a energia cair e vai, dessa vez teríamos que falar, pela primeira vez me senti realmente num picadeiro, no qual tinham vários olhos esperando para ver o que íamos fazer. Nos apresentamos e perguntamos seus nomes e quando uma por uma foi dizendo, lembrei do jogo de uma das oficinas e então tive a ideia. “Diga seu nome de trás pra frente”. “Agora só com as vogais”. “Diga mais rápido”. “Você pode fazer melhor que isso”. A carta entrou e o lugar foi tomado de risadas e tentativas falhas de acertar os próprios nomes. Alívio.
E ai, Ingrid. Uma menininha que pediu para tirar foto conosco. “Tenho foto também com outras duas palhacinhas que vieram aqui sexta” disse ela. Após nosso book, pedimos pra que ela nos apresentasse o andar e ao caminhar ao som e com a coreografia de “nós andamos iguais”, nos redirecionamos ao setor. Alguns encontros depois, uma pessoinha de cerca de 1 metro de altura aparece colocando a cabeça para fora do quarto. Perguntamos seu nome. Nada. Nos apresentamos e perguntamos de novo. Novamente nada. Resolvemos chama-lo de “Sem Nome” e com isso, uma risada. Tá funcionando. Começamos então um jogo de adivinhação pra ver se finalmente conseguíamos descobrir o verdadeiro nome de seu Sem Nome e toda vez que tentávamos, ele, triunfantemente, dizia que estávamos erradas. Em um momento de distração dele, olhamos a plaquinha na beira de sua cama. “Alex Arthur”. Depois de algumas outras tentativas, dissemos seu nome real e ele, na maior alegria que podia ter, disse que era ele! Aquela pessoinha, inicialmente sem nome e constrangida, passou a ser Alex e me peguei sendo ensinada por ele a usar um carrinho de controle remoto no meio do corredor da pediatria e a gritar para os acompanhantes saírem da frente para não serem atropelados.

Quando sentimos que era hora de deixar o quarto. Demos uma ultima olhada no setor e, depois de ver que não faltava ninguém, fomos pedir a chave do quartinho. A enfermeira indagou porque tão rápido e nos entreolhamos e pensamos “como assim rápido, olha o tanto de coisa que fizemos”. Descemos o nariz, vimos o relógio e só havia passado um pouco mais de uma hora. Como a gente perde a noção de tempo, só espero que esse tempo passe logo para nossos próximos encontros.
“Na pediatria existem pessoinhas, existem crianças. Elas acreditam em mágica, fazem de conta que há um pó magico no soro deles, têm esperanças, cruzam os dedos e fazem pedidos. E por isso são mais resistentes que os adultos, recuperam-se mais rápido e sobrevivem a coisas piores. Eles acreditam. Na pediatria temos milagres e magia. Na pediatria, tudo é possível.”


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