sexta-feira, 28 de abril de 2017

Retorno

Está formalizado que continuo este semestre com Safifi apenas. Passei o dia inteiro pensando em como se pensa o sujeito da palhaçoterapia, tanto o sujeito humano quanto o sujeito palhaço e em como esse sujeito dialoga com os sujeitos da Gestalt, do Psicodrama, da psicanálise, da ACP... Tem muita coisa que pode ser dita a respeito desta questão, mas este não me parece o lugar mais apropriado para tanto. Novamente tivemos um tempo estendido de conversa antes do começo da atuação, e cada vez mais esse período me parece parte integral da nossa atividade palhaçoterapêutica. É também uma forma de aquecer, de se aquiescer à atuação, para que esta saia consentida e compartilhada.

Foi a primeira vez que atuei em um lugar já antes conhecido. Não só isso, atuamos, nós dois, pela segunda vez neste período juntos no mesmo setor, e foi impressionante ao mesmo tempo que absolutamente óbvio que as duas atuações tenham sido completamente distintas. Poucos elementos foram carregados da vez passada para esta, e na maioria das vezes eles apareciam apenas de forma complementar, como a referência ao nome de alguém de que lembramos. Em geral, pareciam sempre aparecer estes elementos anteriores como marcadores de um cuidado, um estar atento que não cessa com o fim do “expediente” no setor, e eram todos estes elementos trazidos por Safifi. Ainda me sinto em conflito quando me deparo em situações que contrapõem aos meus olhos uma valorização do agora com um reconhecimento do que existiu no antes. Acho que doso estas duas coisas mal muitas vezes, que a balança pesa horas para um e horas para o outro, mas que a relação não é em mim harmoniosa, e senti Safifi extremamente segura neste balé temporal. Senti Safifi muito presente nesta atuação. Atuamos por bastante tempo, bem mais do que antecipávamos.


No mais, queria deixar atestado aqui uma coisa que me lembro de ter sentido de forma muito igual a Safifi ainda na oficina. Existe nesse existir palhaço, dramatúrgico, teatralizado, uma espécie de cansaço que é terapêutico. Esta semana passei cansado de muita coisa, mas um cansado que se carrega nas costas, que pesa nos ombros e na cabeça, que deixa tonto e desgostoso. O cansaço do atuar é completamente distinto. Esse cansaço a gente carrega na bochecha, no nariz, no mascarar. Cansa o olho mas não cansa o olhar. Seguimos vivos. Tenho receio de que me acostumarei a ter isso, medo de quando não tiver mais, de um momento em que não tenha mais, que isso ocorra, e me ponho a pensar estratégias e caminhos de vida que me permitam dispor deste cansaço nos anos que se seguem.

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