Está formalizado que continuo este semestre com Safifi
apenas. Passei o dia inteiro pensando em como se pensa o sujeito da
palhaçoterapia, tanto o sujeito humano quanto o sujeito palhaço e em como esse
sujeito dialoga com os sujeitos da Gestalt, do Psicodrama, da psicanálise, da
ACP... Tem muita coisa que pode ser dita a respeito desta questão, mas este não
me parece o lugar mais apropriado para tanto. Novamente tivemos um tempo estendido
de conversa antes do começo da atuação, e cada vez mais esse período me parece
parte integral da nossa atividade palhaçoterapêutica. É também uma forma de
aquecer, de se aquiescer à atuação, para que esta saia consentida e
compartilhada.
Foi a primeira vez que atuei em um lugar já antes conhecido.
Não só isso, atuamos, nós dois, pela segunda vez neste período juntos no mesmo
setor, e foi impressionante ao mesmo tempo que absolutamente óbvio que as duas
atuações tenham sido completamente distintas. Poucos elementos foram carregados
da vez passada para esta, e na maioria das vezes eles apareciam apenas de forma
complementar, como a referência ao nome de alguém de que lembramos. Em geral,
pareciam sempre aparecer estes elementos anteriores como marcadores de um
cuidado, um estar atento que não cessa com o fim do “expediente” no setor, e
eram todos estes elementos trazidos por Safifi. Ainda me sinto em conflito quando
me deparo em situações que contrapõem aos meus olhos uma valorização do agora com
um reconhecimento do que existiu no antes. Acho que doso estas duas coisas mal
muitas vezes, que a balança pesa horas para um e horas para o outro, mas que a
relação não é em mim harmoniosa, e senti Safifi extremamente segura neste balé
temporal. Senti Safifi muito presente nesta atuação. Atuamos por bastante
tempo, bem mais do que antecipávamos.
No mais, queria deixar atestado aqui uma coisa que me lembro
de ter sentido de forma muito igual a Safifi ainda na oficina. Existe nesse
existir palhaço, dramatúrgico, teatralizado, uma espécie de cansaço que é terapêutico.
Esta semana passei cansado de muita coisa, mas um cansado que se carrega nas
costas, que pesa nos ombros e na cabeça, que deixa tonto e desgostoso. O
cansaço do atuar é completamente distinto. Esse cansaço a gente carrega na
bochecha, no nariz, no mascarar. Cansa o olho mas não cansa o olhar. Seguimos
vivos. Tenho receio de que me acostumarei a ter isso, medo de quando não tiver
mais, de um momento em que não tenha mais, que isso ocorra, e me ponho a pensar
estratégias e caminhos de vida que me permitam dispor deste cansaço nos anos
que se seguem.
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