Depois de uma série de tentativas de comunicação frustradas,
me inteiro pouco antes do momento da atuação propriamente que nesta semana
estaria atuando apenas com Cacá. Nunca tinha atuado com ela, e nunca tinha
atuado no alojamento conjunto, com mães e bebês e familiares. Acho que o que
mais me chamou a atenção desta vez, e algo que carrego da experiência com Cacá
é a atenção para não dar por fechado os jogos que não precisam ser fechados. Só
por termos saído de algum quarto não quer dizer que o que estava acontecendo
ali dentro tenha findado. E ao passar novamente pelas portas, um olhar para
dentro bem colocado é o bastante para que se retome, ainda que de forma
passageira, o que antes tinha sido proposto em conjunto. Me parece que em nenhuma
atuação até esta estive tão ligado ou tenha sido chamado tanto a atentar para essa
parte do nosso trabalho.
Sinto que existem poucas formas de se estar tanto com alguém
quanto se está no momento em que se sobe e se desce a máscara de forma conjunta. Me passa no
corpo inteiro nessas horas a sensação de que existe ali na minha frente um
infinito ambulante, impossivelmente gigantesco e belo, que eu nunca vou poder
resumir de qualquer forma que seja e que assim mesmo saberei para sempre
reconhecer, admirar, respeitar, valorizar. Poder depositar tanta crença no
profundo que é o ser humano num momento tão pequeno em sua marca no tempo e
espaço parece perigoso, arriscado, fruto de uma expectativa esperançosa de
olhar no mundo que falha em resolver as adversidades em outros contextos. Mas é
revigorante. Faz valer muita dor. É como se ali fossemos apresentados a um
segredo dos mais misteriosos e fugidios de que se tem notícia: a capacidade
humana de ser sempre mais, a dimensão do vir-a-ser existencial. E assim simplesmente
ela nos aparece e somos daquele momento em diante incapacitados de dizer que
não sabemos, que nunca vimos, que não acreditamos, que não é possível. Recebemos o encargo de
guardar no nosso olhar um pouco desta sabedoria, e somos convidados a tentar
traduzir em vivência essa realização. O que faz uma pessoa que sabe da
potencialidade de todo sujeito, mulher e homem? Como escuta essa pessoa às
outras e aos outros? Como as enxerga? Como os trata? O que apresentará a estas outras
e outros coabitantes de seus contextos e espaços? Não acho que possa ser o
mesmo. Algo de fundamental muda. Algo de fundamental fica para sempre mudado.
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