Quem vai uma vez vai outra. Era essa a filosofia que tinha assumido pra mim nesta terça. Tô achando interessante que nesse semestre eu venho sentindo simultaneamente que não paro de atuar nos mesmos lugares e que sempre é diferente a atuação. Tive agora a oportunidade de descontruir de certa forma o primeiro argumento, indo semana passada no COB e agora nesta primeira manhã minha de atuação na enfermaria de Onco.
A maior marca que carrego desta, acho, é o receio de termos sido num primeiro momento apresentados à equipe, levados pela psicóloga a ver com isso também os pacientes e a ser vistos pelos pacientes como os palhaços antes de subir nariz e fazer maquiagem e qualquer coisa. Safifi ficou mal com isso, eu fiquei querendo esconder a cara, fugir pro vestiário, ao mesmo tempo que parte de mim ficou se perguntando por que não já palhaço, por que ali já não ser notadamente palhaço? Por que ter medo de dar referência de antes e de depois às pessoas na atuação? Por que tem que ser isso do existir apenas no momento? Estive conversando com Safifi que temos uns problemas com identidade nesse nosso ser palhaço, que para a gente acaba parecendo que faz falta muito ter isso de identidade resolvido ou melhor construído, sabe? Acho que isso é uma coisa que caberia ser mais conversada dentro do projeto. Que até certo ponto eu acho muito importante da gente ter um pouco estável certos elementos no nosso atuar palhaço pra fortalecer isso e poder crescer o palhaço e não acabar sendo muito outra coisa durante a atuação, deixar trasnpassar muito de outras coisas durante a atuação, de outra forma de olhar, outra postura de encarar e enfrentar as coisas. Mas ao mesmo tempo estamos nesse trabalho de construção de um self clown tendo que viver o momento em sua singularidade absoluta. Não tem o jeito de responder a uma pergunta, mas tem o jeito que você responde naquele dia a uma pergunta. Não precisa ser médico, psicólogo, artista, recifense, apaixonado, gente, magro, alto, baixo, gordo, cabeludo, criança, adulto, estudante, morador de rua, novo, velho do mesmo jeito todo dia, tem o que se assume naquele momento dentro do estabelecido pro jogo, do que importa pra relação que se estabelece. Ao mesmo tempo que eu critíco na minha cabecinha essa necessidade que se apresenta com uma costumeira frequência de termos elementos mágicos, que guardam uma certa propriedade mágica em nossa produção deste outro jeito de ser que seria o palhaço - a roupa é pele, o nariz não pode ser tocado, o nome é Kinhos ou Antenório Barba Rala, a buzina não se aperta - eu acho que tem que ter mesmo algumas coisas que a gente guarda nesse nível, nesse lugar de força por que se não é difícil mesmo sair de si, sair do cotidiano, sair do normal, sair do resolvido. E aí tem uma dicotomia que se estabelece entre o ser sempre disponível e para o momento e o jogo que se desenvolve, saber encontrar no jogo o que é que precisa ser exposto, expresso, apresentado versus a construção ao longo do tempo, a formação mesmo do nosso self como palhaço, de ser esse jeito de existir, de ter coisas que nos facilitam ser esse jeito de existir, e de conseguir chegar nele sempre que for essa nossa intenção. Lacan fala que o consciente é o mundo do significado, do sentido, das coisas como entendemos e fechamos elas, e o inconsciente é do significante, do que está por detrás destes sentidos que no inconsciente deslizam, mudam, se agregam, viram tudo e nada. Não é o que somos que vai ser fechadinho em todas as atuações, mas o jeito que escolhemos ser, a forma de buscar quais significados serão dados e compartilhados daquela vez e quais não serão, em conflito à natureza da razão consciente da gente que quer sempre ser resolvida e clara e concreta. Acho que essa construção conflituosa é base no nosso processo dentro do projeto, e que a gente podia falar mais disso, também no sentido de ajudar as pessoas que passam por isso a reconhecerem o que é que tá acontecendo, como que isso tá acontecendo, e se ligarem mais em cuidar dos dois lados desse trabalho, sendo sempre mais agora exatamente como forma de poder ser ainda mais no futuro.
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