sábado, 3 de junho de 2017

O que te renova?

DB,

mequetrefe que sou, te escrevo atrasada. Mas te escrevo de qualquer maneira :)
 Sobre o 11º sul...

Chegamos animadas, dessa vez sem o cansaço típico da sexta-feira e sem esperar muito dessa atuação. Seria um pouco mais rápida, porque Evinha tinha uma restrição de horário. Mas nem por isso, a atuação foi menos intensa. Parece que escolhemos a dedo cada quarto (ou eles que nos escolheram).

Logo de cara, encontramos Wellington Moura, aquele jogador de futebol, sabe? Ele mora em São Paulo, mas estava aqui pra cuidar de sua mãe. Descobrimos sobre sua família, que sua filha já era casada e que seu filho era jogador de futebol (como o pai). Mas tão novinho? É que eu só tenho cara de novo, mas eu sou velho! Se você tá dizendo...
No mesmo quarto, sua vizinha só fazia rir. Sofria de riso frouxo ela, a coitada. E ai Wellington veio logo intervindo: frouxo não, folgado. Em São Paulo, se você fala assim, todos vão rir da sua cara. Folgado então seria. Mas descobrimos que paulista também não fala mainha, não fala visse, não fala oxe. Ô Wellington, porque que tu mora lá mesmo?!

Em nossa jornada, seguimos e encontramos um senhor muito falante. Fomos logo conversando e um pouquinho depois ele nos conta que era deficiente visual. E no meio de suas histórias, senti um pouco a energia baixar, porque apenas escutavamos de pé toda a sua jornada. Não que fosse ruim, mas ao ficar parada, foi dificil manter a energia no mesmo nível. Simplesmente não precisavamos intervir e acredito que era aquilo que ele precisava naquele momento: não alguém para enxergar, mas alguém para ouvir. E foi o que fizemos. Quando descobriu que eramos palhaças, ficou muito feliz, e nos parabenizou... No meio da conversa, uma barbie entrou no quarto e me pegou pra conversar. Me contou de tooda a sua vida em meros 5 minutos. E me convidou para visitar seu pai, que "morava" no quarto mais a frente. Acertamos a nossa visita e que em breve passaríamos por lá!

Seguimos adiante e entramos num quarto em que diziam que havia um homem verde! Mas também, ele usava uma camisa verde... claramente ela estava desbotando e pintando sua pele! Porque sua mãe usava uma camisa vermelha e estava toda rosinha... no caso dele, a unica solução era trocar a camisa. Ele sugeriu trocar pela minha. Mas ai não teve jeito. A minha, além de muito chique para ele, era rosa. E se eu trocasse, quem ia deixar de ser rosinha era eu!

Em nosso passeio, passamos pela porta do quarto do pai da barbie. Infelizmente, não entramos. Ele estava em consulta com os médicos. Só nos restou passar direto, com um apertinho no peito por não poder conversar com o pai que ela tanto queria alegrar. Entramos, sim, foi numa cabana. Um quarto todo envolvido nos lençóis. Até mesmo uma filha enrolava os olhos num lençol para não ver a luz e a mãe, só enrolava a filha mesmo. E uma senhora, do outro lado, se escondia atrás dos lençóis. Mas porque isso? Porque o horário de visita havia acabado e os boatos diziam que o segurança passava pra tirar o povo intruso dos quartos. Nossa senhora, hora de correr!

Estávamos correndo de volta pra saída, quando fomos interrompidos pelo irmão de Wellington Moura. E não é que era parecido com o irmão? Também era jogador de futebol (do time Fly Emirates), contador de histórias da família (mostrou foto de sua filha linda também), e também sofria de riso frouxo. Como suspeitamos, essa condição era mesmo contagiosa. Melhor continuar correndo pra saída...

Fomos então surpreendidas por um acompanhante que veio atras da gente: "ei, venham ver a minha esposa! Ela vai ficar tão feliz". Infelizmente não podiamos entrar no quarto de sua esposa: era de isolamento. "Poxa, mas ela vai ficar tão triste quando souber que os palhaços vieram aqui e ela não viu..." E ai, como você vai embora assim? Não fomos. Fomos até a porta do quarto da mulher e conversamos dali mesmo. Ela, muito debilitada, esboçava sorrisos. E o marido, traduzia todo o amor possível em ver aquilo. Não gastamos 10 minutos de nosso tempo. Evinha não perdeu seu horário pra ir pra casa. Mas, com toda certeza, aquele foi o momento mais lindo que já vivi em todas as atuações. E garanto que nós não fizemos nada. Mas aquele marido, cuidando daquela esposa daquele jeito... isso sim renova.

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