sábado, 12 de dezembro de 2015

FOME!

Última atuação desse ciclo. Última atuação com Nathi. Última atuação com Angelina LeiteNinho.

Chegamos ao 5º andar, corredor silencioso. Os quartos ou estavam vazios ou as pessoas que estavam neles estavam dormindo. As poucas acordadas não estavam muito receptivas, uma pena. A hemodiálise estava mais animada, mas a maior parte das pessoas estava descansando. Entramos Dona Vera e Henrique, mais tarde falo melhor deles Naquele dia nós realmente encontramos os funcionários. Quase todos eram muito receptivos e iniciavam jogos conosco. Diziam que éramos linda e fofas heheheh. Por falar em funcionário, queria entender porque quase sempre os médicos não interagem com a gente. Por sinal, os que estavam em NEFRO eram, de longe, os mais azedos que "encontramos". Que povo mais sem amor no coração!

Henrique, no começo, só nos desprezou. Disse que a gente era feia, mas toda vez que olhávamos para ele, ele estava olhando pra gente. Huuuuummmm... Como estávamos sendo esnobadas por ele, decidimos mudar os ares. E foi aí que encontramos Dona Vera. Ela adorava cantar, cantou em inúmeros idiomas para a gente. O problema foi que ela começou a nos "alugar", toda vez que ameaçávamos nos afastar, ela segurava a mão de Angelina. Eu comecei a me sentir sufocada ali, sentia que precisávamos encontrar outros olhares, foi aí que minha energia começou a baixar. Em um determinado, ela parou de cantar e começou a conversar com a gente. Falou de sua vida, de sua doença, de como era feliz, até aí estava tudo ótimo, ouvir aquela experiência de vida além de agradável, estava subindo minha energia, até ela tocar no assunto "religião". E tudo começou a desandar... ela disse que não gostava dos judeus porque eles não aceitavam Jesus. Nessa hora, minha energia quase zerou, olhei ao meu redor e procurei um olhar. Alguém. Os enfermeiros estavam longe, os pacientes olhavam para a televisão, Angelina olhava para Dona Vera, e eu... olhava pro nada. Fechei os olhos, respirei fundo, pensei nas bolinhas. Elas estavam imóveis dentro de mim, tentei fazer com que elas se mexessem. Mas outra coisa se mexeu na hora, era meu estômago reclamando que a fome tinha chegado! Angelina, estou com fome! Eu soube que vai ter bolo na Copa! Vamos! Enquanto saíamos da hemodiálise, Henrique nos chamou (aaahh agora você quer a gente né?).

Primeiramente, gostaria (na verdade, não gostaria, mas enfim :( ) de dizer que eu fui muito mequetrefe nesses dias, absolutamente, totalmente e outros inúmeros "mente" mequetrefe. Demorei uma eternidade para escrever aqui, não sei o que aconteceu, eu sentava para escrever e não vinha nada, absolutamente nada. Essas duas últimas semanas não foram fáceis, o período estava (e ainda está) acabando comigo, sinto que passei esse semestre vivendo para a faculdade, sensação péssima! Viver não é fácil, não é mesmo, Emílio? Por falar em viver... outra história terminou nesses dias, Allef Bruno. Pelo que eu ouvi, uma das causas teria sido a temida "pressão do vestibular". É muito triste quando histórias acabam muito mais cedo do que deveriam acabar.

PS: Dia desses eu estava pensando em um trecho de Harry Potter, mas como faz muito tempo que eu li, eu não lembrava direito como era este trecho. Então eu pensei: "Simples, basta eu dar uma olhada no livro e relembrar!". E quase que instantaneamente lembrei que o livro está muito longe daqui, em Caruaru, mais precisamente. Será que já terminaram o 1° livro? Será que gostaram? Nesses momentos eu esqueço das inúmeras tristezas e decepções que nos acometem em nossos dias. Acho que são esses pequenos detalhes que nos fazem seguir em frente, que nos fazem viver. Viver nos possibilita encontrar, cativar, nos possibilita inúmeras outras coisas boas. Mas para viver, precisamos nos jogar no vazio, não precisa ser sempre, mas que tenhamos momentos para sentir aquele friozinho na barriga que o vazio nos proporciona.

Estarei esperando ansiosamente pelo próximo ciclo!

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