DB, minha última atuação esse semestre foi na oncologia. Chegamos,
não tinha muito paciente. Como sempre, independentemente da quantidade, estávamos
lá prontos para subir a máscara e fazer o melhor. Como sempre, pedimos a chave
para nos trocarmos. Como sempre, fizemos a maquiagem. Como sempre, contamos até
dez e a cada número que era dito a energia ia se adequando ao momento. Como sempre,
o inesperado sempre chegaria. Saímos do quarto, entramos no corredor. Primeira tentativa
de um contato, era um casal, eles não nos viram, estavam de costas, pareciam
chorar. Olhei para Fêfo, a gente num olhar decidiu que era hora de seguir para
o próximo quarto. Aquele casal estava num momento só deles, aquele abraço só
deles valia mais do que qualquer conversa com outras pessoas. No próximo
quarto, um vaqueiro. Chegamos, conversamos, no meio da conversa o paciente fala
de cavalos, de vaquejada, fala do seu interior, que por sinal é próximo do meu.
O vaqueiro parecia triste por não estar fazendo o que gosta, por estar ali;
nada mais óbvio, ninguém quer adoecer. Acho que por uns instantes, pelo menos,
o paciente se sentiu melhor. Ele contava suas histórias com um brilho, com saudade
também, mas o brilho e o sorriso que ele expressava foram maiores do que sua
tristeza; é sempre bom relembrar daquilo que a gente faz de melhor, daquilo que
a gente gosta de fazer. Antes do próximo quarto, no corredor conversamos com
duas mulheres muito simpáticas, elas só erraram numa coisa, fizeram a pergunta
que muitas pessoas fazem. Elas perguntaram onde estavam AS palhacinhas. Nesse momento
eu olho para Fêfo, ele olha para mim, então a gente diz, “uns palhaçOs não servem?
”. Sempre dizem que sim, que somos muito bonitos também, mas que as meninas são
uma graça. Estou convencido de que ser mulher, nessas atuações conta bastante,
só ouvi elogios sobre As palhacinhas. Próximo quarto, dona Maria e sua nora. As
duas eram animadíssimas, brincamos, conversamos, fingimos que estávamos comendo
melancia, manga, caju... é sempre bom visitar quartos com pessoas assim, com a
energia alta, a gente meio que sai com a energia maior ainda. Com a energia
alta, partimos para nosso último quarto, um paciente e sua cuidadora. O paciente
não conseguia falar, nem olhar direito ele conseguia. Tentamos interagir, nada
fácil, ele realmente estava debilitado. Quando conseguiu falar algo, eu e Fêfo
esperando algumas palavras saírem de sua boca, ele então conseguiu murmurar. Disse
que o oxigênio da máquina não estava chegando tão bem ao seu nariz. Nesse momento
fui pedir para chamar a enfermeira, não como Carequinha Sertanejo, mas como
Túribio. Refeito depois da fala do paciente, Carequinha e Carequildo se
despediram; agora sim eu estava de novo no jogo. Voltamos andando pelo
corredor, brincamos com uma funcionária que desfilou para a gente, depois entramos
no quarto onde nos trocamos e descemos a máscara. Conversamos rapidamente sobre
como é delicado o setor de oncologia, sobre como os olhares são sofridos. Foi uma
tarde alegre, mas um pouco triste também. Não é fácil olhar o sofrimento do
outro tão de perto. Enfim, nossa última atuação esse semestre, essa última
atuação vai deixar aprendizados, vai deixar reflexões, vai deixar indagações,
vai deixar saudades. Estou ansioso para atuar novamente. Foi um prazer atuar
com você, Fêfo. Por fim, até a próxima, DB.
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