Eu juro que tentei não criar expectativas e não estigmatizar
nenhum setor, antes de conhecê-lo. Lembro que eu inclusive escrevi um lembrete sobre
isso para não esquecer depois que me surpreendi com aquela atuação maravilhosa no
COB. Mas talvez não tenha funcionado, DB, porque, no fundo, quando eu vi meu
nome do lado de “Enf 6 sul (pediatria) ”, eu não curti. Confesso que eu não conseguia
parar de me lembrar de Biazinha me contando da primeira atuação dela na
pediatria, em um tempo em que ela era novinha (e que eu ainda jurava que nunca
entraria no projeto) e de como aquele dia tinha sido horrível para ela. Lembro que
na época eu tinha achado péssimo, mesmo sem entender ao certo o que ela estava
sentindo, por não me imaginar naquela situação, mas agora compartilho do mesmo
sentimento da minha amiga, pois a atuação de hoje foi na pediatria e a primeira
coisa que pensei quando saí foi que tinha sido mesmo horrível. No fundo, acho
que eu sabia que esse dia ia chegar, mas queria que tivesse sido mais adiado,
se eu pudesse escolher, não vou mentir.
Eu e Duda nos aquecemos ao som de Novos Baianos hoje: “Besta
é tu” foi a música que tocou enquanto nos alongávamos, já anunciando o mal
presságio (que inocentemente ignoramos) de que seríamos feitas de besta naquela
tarde. E fomos, como nunca antes.
Saí com a sensação de que aquela atuação que eu não tinha
gostado no 7° sul me parecia maravilhosa agora, quando eu comparava com essa. Saudades
daquele povo que nos mandava ser engraçadas e fazer palhaçadas, porque aquilo
tinha sido difícil, tinha sido ruim, mas não tanto quanto lidar com criancinha
do mal. Pelo menos lá no 7° não tinha ninguém que me batia, me empurrava, me
dava bolada e puxava meu nariz (não sei se na hora me doeu mais o fato de perder
o nariz ou o elástico batendo na cara ou a raiva que eu tive do menino na hora,
não sei mesmo).
Sempre achei que lidar com crianças era algo difícil, mas
depois de meses na Brinquedoteca do HC, eu achei que tinha aprendido alguma
coisa e me livrado de alguns preconceitos que eu tinha com elas. Depois de
atuar no HR, no dia das crianças, eu achava que tinha mais certeza, pois
lembro, DB, que te contei o quanto tinha me encantado, me surpreendido positivamente
com as crianças e o quanto tinha sido muito melhor do que eu esperava.
Mas hoje foi tudo por água a baixo, DB, por isso que acho que
inconscientemente, criei expectativas para essa atuação. No fim, achei que foi
muito desgastante física e emocionalmente, e não daquele jeito que me fazia
sentir renovada, porque no fim de tudo eu só me sentia destruída e esgotada,
por causa do cansaço mesmo e também de todos os jogos que pareciam não entrar
de jeito nenhum.
Percebi que as crianças exigem muito mais da gente, é
preciso mais paciência, mais jogos, mais disposição, mais dedicação, mais
presença, mais TUDO da gente.
Não sei era o dia, se era eu que não tava nos meus 100%, se
era o setor que não estava muito receptivo, só sei que não rolou, as coisas não
fluíram como a gente queria, me vi muitas vezes perdida, sem saber muito como
lidar, como reagir, como atuar... pensando muito e vivenciando e desfrutando pouco.
Saí de lá bem mal e confesso que não conseguir parar de
pensar no menininho que perseguiu a gente a tarde toda, perturbando, atrapalhando,
batendo, o que me deu logo um abuso e que me fez não gostar tanto dessa atuação.
Mas depois que a raiva passou, fiquei pensando se no fundo,
ele não era só como a gente, ali naquele setor. A gente só queria ganhar um
pouquinho de atenção. E ele também. A gente só queria brincar com alguém que
comprasse nosso jogo. E ele também. A gente só queria ser amada e receber um
tantinho de carinho. E ele também.
Acho que por isso ele nos perseguia.
Acho que no fim das contas, ele só queria muito o mesmo que
a gente. Mas nenhum de nós cedeu um pouco, nenhum de nós disse sim para ideia
do outro, não nos abrimos, nem nos permitimos. Nem nós, nem ele. Por isso esse
sentimento de que não foi, de que não deu.
Precisamos melhorar isso para a próxima atuação, DB,
principalmente lá na pediatria (que eu espero que demore para me reencontrar,
mas que o encontro seja mais gostoso da próxima vez).