sábado, 25 de março de 2017

Energia é corpo em trabalho

Olar Bulbinha,
Essa semana foi marcada pelo início de um novo ciclo na palhaço terapia. E que início viu? Posso dizer que foi uma das melhores atuações. Consegui sentir coisas, inclusive técnicas, de qualidade de trabalho, que nunca achei que conseguiria sentir.
Minha primeira atuação desse ciclo foi no 11º sul, ao lado de MCM´s provisórios ( sim,eu estava de intrusa), Dinho e Cela. Dei o nome de " energia é corpo em trabalho" a esse post porque, muito embora palavras não sejam suficientes, acho que resume bem o que foi essa atuação.
Confesso que subi tomada por um misto de sensações: cansaço, ansiedade pra usar o meu nariz, empolgação pra tentar aplicar o que foi visto na reciclagem e um pouco de desânimo, já que as experiências que já tinha vivido no 11 sul não haviam sido as melhores.
Sobe a energia, sobe a energia, sob a energia e...PAM, sobe o nariz!! Os palhaços já estavam ali, naquele quarto da enfermagem e o simples fato de ter que desligar o ar condicionado do quarto mudou nossa atuação inteira: atuamos sem dar um só palavra, só trabalhando com os sons. Nunca estive tão presente. Meu corpo falava por mim, ele não tinha como morrer. Coloquei intensidade até nos gestos mais mínimos e me fiz entender sem precisar um elemento sequer de todo o vocabulário que tenho com meus 21 anos. Se alguém me falasse, eu nunca ia entender o quão gostoso isso é. Sentir o corpo vivo, entregue, aberto, pronto pra ofertar e pra receber.
No primeiro quarto que entramos,havia uma paciente meio sonolenta, acompanhada da filha.De início, ela não demonstrou estar muito aberta, mas começamos a cantar " nana neném" e ela foi se animando. Fomos subindo o ritmo da música conforme a energia dela ia subindo e logo estávamos cantando em ritmo de frevo enquanto ela caia na gargalhada. Escoltamos uma senhora que encontramos no fim do corredor até o quarto dela que, pra nossa surpresa, era o primeiro do corredor. O quarto dela tinha muita gente e me animou ver que conseguimos manter o foco bem aberto e interagir com todo mundo. A companheira de quarto dela vestia uma roupa de onça e isso foi o suficiente para transformarmos o quarto em uma selva e fazermos papel de cobras/encantadores de cobras.
Voltávamos pelo corredor quando uma senhora mexia no celular e não quis nos dar bola. Nos abalamos? Nãão. Pegamos o nosso celular imaginário e ligamos pra ela. Nas primeiras tentativas, ela recusou nossas ligações, mas logo resolveu atender e ( pasmem) até aceitou casar com Dinho!!
E por falar em casar com Dinho, ele arrasou corações no setor!! Casou em dois outros quartos: o que fomos depois desse, onde eu e cela nos desfizemos das alianças que firmavam nosso amor com ele - eu joguei a minha (imaginária) pela janela, e cela tirou um anel que tinha no dedo e entregou a Dinho- e fomos embora; e no último quarto, onde o casamento marcou o encontro mais lindo que já presenciei. No último quarto que fomos, tinha uma senhora bem debilitada, dona Francisca. Dona Francisca falava baixo, com muita dificuldade e era um pouco difícil a comunicação com ela. A irmã dela disse que ela tinha o sonho de casar e Dinho aproveitou a oportunidade para pedi-la em casamento. Tirou o anel de Cela do bolso e colocou no dedo de dona Francisca. Os olhos dela brilhavam do jeito mais puro que podiam. Ela sorria,um sorriso cansado, mas lindo!! Colocou o mesmo anel no dedo de Dinho, pra concretizar a troca de alianças, deitou a cabeça dele no colo dela e ali ficou, alisando a cabeça e a barba de Dinho. Até pedi um pouco de carinho, mas a atenção dela estava toda voltada pra o marido. Queria poder agradecer a dona Francisca : a negativa de me dar cafuné, me fez dar um passo pra trás e contemplar um encontro do qual nunca vou esquecer. Queria poder dizer a ela que o olhar dela me fortaleceu e trouxe sensações das melhores que eu poderia ter.  Era hora de irmos embora. Dinho se despediu dela e ouviu de Dona Francisca um pedido:" Se você me ama, volte aqui pra me ver!". Voltamos pra o quarto, abaixamos o nariz, guardamos o palhaço dentro de nós, mais uma vez, e, com o palhaço, guardamos o sorriso, o brilho no olhar, a energia, tudo num lugarzinho lá dentro. Espero poder buscar esse lugarzinho todos os dias. Espero poder lembrar que o palhaço é o que eu sou e ser grata por isso a cada segundinho.          

2 comentários:

Muri disse...

- eu vi teu corpo falando enquanto tu escrevia e descrevia a cena <3
- kkkkkk morri com essa mulher da onça
- " Se você me ama, volte aqui pra me ver!" carralho, caralho... isso é MT forte, q cena linda, q cena linda. Obrigado por me dar o privilégio de ler isso...

Nathi disse...

QUE COISA LINDAAAA *-*