sábado, 25 de março de 2017

Antes do baile verde

DB, 
A atuação na clinica foi mágica. Tudo começou já na salinha. Subimos a máscara e tínhamos que desligar a música. Comecei a brincar com a dança de Cela. Desliga, volta. Desliga, volta. Pilé aponta para desligar o ar-condicionado. Respondo com ruídos. As meninas continuam a comunicação com ruídos. Saímos cantarolando: ruídos. Era aquilo mesmo? atuaríamos sem falar? Parecia desafiador. No primeiro quarto, colocamos o rosto. Agora é na base do ruído, sem falar. Lascou. A acompanhante nos olha e diz: "ela está com sono". A paciente vira. Estava acordada! Entramos cantarolando nana neném. Começo a maestrar as meninas. Mais agudo. Mas grave. Cíclico. Baixo. Alto. Depois é a vez de maestrar a acompanhante. Ela, rindo, não entra no jogo - mas era visível sua vontade de entrar. Pilé joga uma carta: nana neném em jornalismo. Cela completa: em rock. Eu lanço outra: nana neném em carnaval. E nana neném ganhou vários tons, embalados pelo riso das duas. Uma pausa pra uma desvantagem de atuar sem falar: não trabalhamos com nomes. Uma vantagem de atuar sem falar: os nomes são do nosso imaginário. Saímos do quarto e encontramos uma senhora. Fazemos um quarteto e ela nos leva a seu quarto. Cantarolamos o tema dos sete anões. "Eu vou, eu vou, pra casa agora eu vou". É esse quarto? Ela, já falando em ruídos, aponta que não. Música cansada. Esse quarto? Ainda não. Música estressada. Esse quarto? Não! Música muito cansada. Esse quarto? Não!! Música em tom de socorro!! Depois entramos no quarto e estivemos em uma verdadeira selva, cheia de cobras que subiram ao toque da flauta (olhinhos do WhatsApp). Então veio um concurso de dança. Uma conversa no celular. Uma tentativa de sequestro. Uma pausa pra ouvir histórias. Um choro porque ia levar alta e deixar os amigos. Um divórcio com Cela, que me deu seu anel e o guardei no bolso. Até que no final: dona Francisca. Uma senhora que nunca tinha se casado. Prato cheio para o jogo. Pedi em casamento. Ela, muito seria, diz: "mas pra casar tem que ter aliança". Lembro do anel no meu bolso e olho pra Cela. Ela entende meu recado e diz que sim. Permite usar o seu anel. Que conexão linda! Que MCM maravilhosa! (E foi só nossa primeira atuação). Coloco em seu dedo a aliança e vamos para as fotos do casamento. Me agachei para falar com ela. Ela, me olhando cheia de amor, alisa meu cabelo e minha barba. Que olhar lindo. Que olhar feliz. Sinto uma troca de energias imensa e percebo o sonho que ela estava projetando em mim. Ela estava realizada. Não sei o tempo que passamos naquele encontro. Seus olhos estavam profundos e serenos, mas, apesar de carregar muita história, parecia só pensar naquele presente. Quem ganhou o presente fui eu.

Um comentário:

Muri disse...

- achei genial vcs não falarem!!
- queria muito ter visto esse concurso de dança, quem será q ganhou? kkkkk
- não tenho palavras pra descrever o quão lindo deve ter sido o encontro de almas com dona Francisca, esses momentos são únicos, guarde ele pra todo o sempre dentro de vc...