sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Recrutamento de Novos Palhaços

Situação atual: à espera que o HC pare de ser um labirinto sem fim e cheio de mistérios. 
Prognóstico: viver iludida.

COB, ou melhor, o armário de Nárnia, foi a designação da semana para mim e meu MCM, Sr. Palmito. A matéria prima da semana passada (dúvidas e medos sobre ser palhaço) estavam na maleta de maquiagem que carregava junto a mim, o amor a crianças e o medo de partos também. 
O banheiro de sexos separados não permitiu que eu me trocasse com Saladino com músicas propícias para o momento. A subida de energia também teve que ser em um canto do setor, com alguns dos nossos queridos admiradores nos vendo. Em contagem regressiva, Helga e Saladino viraram os melhores caça-talentos da cidade.
Nosso primeiro contato foi com Washington, acompanhante de sua esposa, e amigo de Obama. Ele havia feito um pacto com o Harry Potter, e conseguiu emprestado a capa da invisibilidade para se esconder da gente. Muito gente fina, ele emprestou a capa para que eu pudesse fazer alguns números mágicos com Saladino, mas o palhaço desengonçado abaixou-se bem na hora que eu joguei a capa, o que terminou com uma enfermeira gritando: "Olha a toalha no chão!" Então, eu e meu MCM começamos a brigar para ver de quem era a culpa, até que uma mulher se colocou entre nós e disse que deveríamos fazer uma reclamação. O que por sorte, tinha uma sala ao lado especializada para isso: REC, assim dizia na entrada. Mas ao entrarmos para fazer a reclamação, havia várias mulheres com expressão de dor e pouca roupa. O clima não estava legal para uma reclamação, então decidimos não entrar.
A próxima vítima, ops, paciente no qual nos direcionamos foi uma grávida que falava ao telefone. Mostrei a ela meu super, mega, power telefone formado de uma mão e ela acabou rindo, mas compenetrada na conversada do telefone. A mãe dela estava do lado, mas não deu muita bola para gente. A outra senhora que estava ao lado estava com a cara meio fechada, foi quando meu parceiro perguntou o que ela estava fazendo ali e ela disse que estava coletando, quando inquirida de novo sobre o que, ela afirmou que sofreu um aborto aos 4 meses. Toca uma sirene alertando: fizemos besteira.
Fomos então de fininho para uma maca onde estavam duas mulheres. A interação foi muito boa, em um dos pontos auges Saladino ofereceu para a mãe da paciente 5 reais em troca da menina. Não rolou. Fomos para a dupla da maca ao lado, também não rolou. O que rolou mesmo foi o encontro, e que encontro! Com direito até de ser carregada pelo meu parceiro. Ps.: melhoramos bastante a hora de sair e como sair.
Quando passamos por um quarto e começamos mostrar interesse de entrar de maneiras nada sutis, uma das mulheres do quarto começou a rir desesperadamente e dizer que não poderia rir, já que estava cirurgiada. Helga e Palmito, meia volta volver! Seguimos para o quarto ao lado onde as mulheres não paravam de rir e interagir conosco, simplesmente incrível! Falamos que éramos os contratantes do circo, estávamos lá para roubar uma criança para usarmos no nosso malabares. Aumentamos a recompensa para 5,50 e falávamos dos contras de se ter uma criança, mas mulheres se recusavam a ceder algumas crianças para o circo. Parecia até que gostavam de trabalho --' Assim a tarde seguiu, com muitas risadas e interações espetaculares, buscando a todo custo roubar crianças. Encontros e não encontros, acertos e erros. Mas além de risos, vimos também choros. Mas aquele choro não era de lamentação, mas por amor. 
No meio daquilo tudo, havia dor. Muita dor e gritos. Eram os futuros palhacinhos dando trabalho a suas mães para nascer. Não posso deixar de dizer o como só queria ficar ali partilhando o sofrimento, pegando na mão e dizer "ei, to aqui." Mas não era o momento, então, espero sempre lembrar que a dor nem sempre é ruim, essa era sinal de vida. Vida com dor, mas vida. No final, ainda tive o prazer de pegar em meus braços uma nova vida e acalentá-la até dormir. E mesmo sabendo que o palhaço é aquele que cai, o cara do amargo, do erro, eu, palhaça, daria de tudo para estar ali para sempre. Eu palhaça queria ser muito amada, mas também queria dar àquela nova recruta muito amor.
Estava na hora, Palmito e Fräulein deram seus últimos olhares daquele dia. E, como se combinado, começaram a contagem regressiva, ansiosos para o próximo encontro. Desce máscara, e ali onde tinha havido tido tantos encontros, só restava mais um: Hugo e Angel num fim de tarde que ficou marcado. 

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