sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Nem tudo são flores

A primeira queda como palhaço não veio a acontecer na primeira atuação. Aconteceu na segunda. Não que tenha sigo algo gigantesco, mas eu pude perceber o quão árduo é esse trabalho de se desnudar na frente de outro, se tornar vulnerável e acabar atingindo a vulnerabilidade do outro.
Logo que entramos no COB, pudemos notar um local superlotado. Pudemos ver pelo menos 3 mulheres entrando em trabalho de parto nos corredores e todos os quartos cheios. Logo de inicio fiquei assustado e preocupado. Como eu poderia atuar ali??? aquela quantidade tão grande de gente. Mas bora pensar pelo lado positivo, elas estão ali para dar a luz. Algo bom. E foi ai que eu me enganei. Me apeguei nessa ideia e isso me fez errar. Logo que saímos já como Saladino e Helga, conhecemos Washington, que não era de Washington, mas que os dois palhaços lesados insistiam que eram e que queriam conhecer sua terra natal. Tentamos brincar um pouco com sua capa da invisibilidade, porém, tivemos um pequeno probleminha no número.
Depois disso, fomos conhecer uma moça que não desligava o telefone e, mesmo assim, insistíamos em tentar chamar sua atenção. Essa moça estava acompanhada de sua mãe que, não estava dando muita bola para a gente. E, em seguida, teve o problema. Eu nunca fui de frequentar hospitais e não sabia alguns termos nem coisas do tipo. Olhei para uma moça que se encontrava perto e, vendo sua barriga, perguntei se não era amiga da moça do telefone. Não, não eram. Questionei então de o por que as duas, que estavam gravidas, não eram amigas. Dai veio o primeiro problema. "eu perdi meu filho de quatro meses". na hora eu fiquei preocupado, mas me compliquei ainda mais. imaginei que o filho que ela tinha perdido era um que ela já tinha dado a luz anteriormente, não consegui pensar na hora que, na verdade, o filho morto, era aquele que ela carregava na barriga. Eu, nervoso, tentei puxar para o que, na minha mente, seria algo feliz, o novo filho dela que estava nascendo e, mal sabia eu, que estava indo para o caminho contrário do que deveria.
"Mas o que você está fazendo aqui, hein moça?" - Saladino pergunta
"Coleta" - Ela responde. Nessa hora, na inocência, eu imaginava que seria coleta de sangue ou de qualquer outra coisa. Tudo isso pois me confundi no inicio da conversa e comecei a trocar tudo.
"Coleta de que?" - O Super inconveniente Saladino pergunta
Foi nessa hora que percebi que tinha algo muito errado. Deu para ver no rosto da mulher a vergonha e o nervosismo. No mesmo momento Helga me puxou e me "salvou". Mudou o assunto e "viramos a página". Porém, aquilo acabou afetando toda atuação. Comecei a medir muito as palavras e tava me sentindo inconfortável. Estava com medo de fazer outra merda (desculpem a palavra) dessa. Seja como for. Dei o meu melhor de mim e, os jogos depois desse foram sim melhores. Saímos da atuação bem cansados, e eu, conversando com Angel, comentei que achei que o dia foi meio "fraco", tiveram momentos muito bons, mas os momentos ruins acabaram me desestabilizando um pouco.
De qualquer forma. Bola para frente. O Erro é comum e é importante aprender com ele. Tirei algumas liçoes como "Não perguntar o que os pacientes estão fazendo ali" para evitar situações como essa.

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