Desconhecendo o HC, me encontrei com a minha MCM, Flora peniqueira, ou Flora da Penica (pros íntimos), pra que ela pudesse me mostrar os caminhos obscuros do labirinto que é o hospital. Chegando lá, conseguimos uma salinha pra nos trocarmos e elevarmos nossa energia. Entre algumas conversas, descobri que a minha MCM trabalhava naquele mesmo andar ao menos uma vez por semana e me perguntei se nao seria um problema que eles a reconhecessem, ou se isso a reprimiria de atuar naquele andar. Mas não foi o que aconteceu. Prontamente quando reconhecia alguém ela tinha "Djavans", a pessoa a reconhecia, mas não entregava quem ela era. O que foi bem interessante, as pessoas contribuíam pra o "mistério da máscara do palhaço", a que menos esconde e a que mais revela.
O cob, o setor que fomos alocadas, era o setor de obstetrícia. As mulheres aparentavam dor extrema, muitas nem olhavam para nós. Entendo. Éramos os pontinhos coloridos num hospital cinza e fedorento. Qual seria o sentido daquelas pessoas loucas? O que elas estão fazendo aqui? Acredito que um dos maiores desafios foi incorporar a minha personalidade palhaço dentro de um ambiente que exigia cuidado, respeito, silencio, atenção por onde pisa, um ambiente de limitações. De me jogar no vazio onde o que eu mais queria fazer era acalentar aquelas mulheres em situação de dor e desconforto.
No entanto, era perceptível que quando o jogo acontecia entre eu e a minha MCM, havia o encontro. O quarto do céu, o quarto das tecnologias, milhares de fotos, inclusive com um anjo! Depois de um certo tempo, não só percebi que assumíamos a nossa personalidade palhaço, como as pessoas também as percebiam como nossa. A Surdete acredita piamente que a incapacidade auditiva é dos outros. Toda vez que dizia seu nome pra alguém as pessoas a perguntavam de novo! É todo mundo surdo no COB, acho que de tanto os bebes gritarem quando saem delas. Bixinhas.
Btw,Flora, nosso encontro foi lindo! Deu medo, deu frio na barriga, mas foi nosso! Gostaria de agradecer por segurar o jogo, por refletir meu olhar e pela energia contagiante. Foi um prazer!